terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O tempo

Neste período natalino procurei, para mostrar-lhes, mais um pequeno fragmento das minhas anotações sobre os impagáveis costumes do meu querido povo, neste abençoado torrão do nordeste brasileiro - berço ancestral dos meus antepassados e mãe amorosa dos meus já cansados anos -; e na exposição que faço deste singelo escrito, aproveito esta oportunidade para desejar a todos vocês um Feliz Natal, no qual a presença suave e pacificante do menino Deus se faça uma constante.

O tempo

...Dizem, que no segundo quartel do século passado, um médico recém-formado, o Dr. "Juvêncio”, resolveu fazer clientela na Rainha da Borborema. Instalou seu consultório com o que havia de mais moderno à época. Apesar do aparato, aquele discípulo de Hipócrates era detentor de pouquíssimas qualidades técnicas, sendo pífias suas habilidades na diagnose. O que não o impediu de tornar-se rico e famoso. Adotou, para isto, uma interessantíssima artimanha...

...Existiam na cidade três salas de cinema. Uma, era o Cine Capitólio, situado na Praça da Bandeira; outra, o Cine Babilônia, na rua Irineu Jofilly; e mais uma, o Cine Avenida que ficava na Getúlio Vargas. Distavam algumas quadras, uma das outras. Todas situadas próximas ao centro de Campina Grande.

Esse médico comparecia, uma ou duas vezes por semana, às sessões mais concorridas do Cíne Capitólio, e outras vezes, na mesma semana, às sessões noturnas do Cine Babilônia. O hábito de ir ao cinema era coisa rotineira naqueles tempos. Tornara-se um ritual diário. O Doutor “Juvêncio" chegava logo cedo em companhia da sua jovem esposa; sentavam-se nas primeiras filas de cadeiras, junto à cortina que cobria a tela. Mania estranha, aquela..., já que assistir filme muito próximo a tela de projeção, sempre foi pouco recomendável, devido à dificuldade da postura e ao excesso da luz refletida; com pouca definição e péssimo contraste de nuances das cores, ou mesmo em preto e branco. Mania que, justificava o ritual que se desenrolava em seguida:

Lá pras tantas, no meio da projeção do filme, acendiam-se subitamente às luzes interrompendo a projeção; ocasião na qual era feito um aviso de utilidade pública, comunicando àquele médico, caso estivesse entre os presentes, à urgência de seu comparecimento a um determinado local para um pronto e eficaz atendimento. Então, o Dr."Juvêncio" levantava-se lentamente, dando o braço à esposa e, efetuando longas, repetidas e empertigadas vênias, ia-se retirando sob os olhares indagadores de surpresos cinéfilos. Fez o seu nome profissional graças a esse teatro e mesuras previamente arquitetados, efetuados nas mais concorridas reuniões sociais.

* * * *
Juscelíno Kubichek de Oliveira, então candidato do PSD à Presidência da República, nos idos de cinqüenta e quatro, em campanha eleitoral por este "Brasil sem porteiras", esteve, em memorável comício, na Rainha da Borborema.

(Habitava na mesma época, por coincidência, no seio da população daquela próspera cidade, um sujeito chamado Luiz - o Luizão do Arroto! Esse indivíduo, destacava-se, ante ao rol das coisas bizarras, pois era portador de um trovão ambulante e particular, executando-o no lugar e no momento que bem entendesse. Esse trovão era o seu arroto! Por conta daquele predicado chulo, tornou-se bastante conhecido em todo o brejo paraibano.

Consta que, ele adorava ir ao cinema (quase sempre no Cine Avenida), quando exibiam filmes de suspense que proporcionavam instantes de expectativa, ou películas românticas onde viam-se com freqüência cenas de beijos prolongados, etc. Era naqueles momentos de silêncio daquelas salas de espetáculos, quando exibiam estes tipos de filmes, que, inesperadamente, ouvia-se um imenso: aaárrárá ...uoórróróróhh...ááráhhk ! Às vezes, essas sessões cinematográficas eram interrompidas, em definitivo, devido aos incontroláveis surtos de gargalhadas que esses arrotos provocavam.)

* * * *
Juscelino era reconhecido como um exímio orador; tribuno empolgante de verve gostosa; combinava com a sua figura elegante de brasileiro sonhador, amante de serenatas e outras manifestações populares. Percorria, por aqueles dias, todo o Nordeste brasileiro em campanha eleitoral à Presidência da Republica; e, neste dia, discursaria, com sua retórica magnífica, dirigindo-se ao bravo povo do brejo paraibano.

Não se sabe se por iniciativa própria ou por "corda" dada pelos adversários -os da UDN -, o fato é que, Luizão, profissional que era naquele tipo de erupção gasosa, aproximou-se pacientemente do palanque; e quando já estava bem próximo ao postulante
ao cargo de Presidente da República, esperou pelas tradicionais pausas feitas para o orador tomar água - pausas muito comuns nos longos discursos das campanhas eleitorais de antigamente. E foi justamente no momento que Juscelino devolvia o copo a um xeleléu próximo e solícito, voltando novamente sua atenção para o publico aproximando-se dos microfones, que se ouviu um enorme, desconcertante e inesperado arroto.

Aquele tribuno ficou pasmo, sem nada entender; ate porque, seqüenciando o dito cujo, ouviu-se ruidosa e interminável gargalhada... A canalha pública se fez ouvir com seu indisfarçável vigor.

Surpreso, o grande orador das Gerais sentiu-se desconsertado no seu improviso, com o raciocínio confuso, as argumentações turvas, a língua travada - todo atrapalhado.

Todos, no brejo paraibano, conheciam o sujeito que atrapalhou o discurso de Juscetino Kubischek; principalmente, os moradores mais antigos daquela região. Entretanto, são coisas do passado; finaram-se, não existem mais...

Natal-RN, 12 de julho de 2009.
Gibson Azevedo da Costa

PS.: Estes são causos que me foram contados pelo atencioso e dileto amigo Carmelo Meíra. Sendo que, alguns nomes foram trocados ou alterados para evitar os possíveis melindres.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O fardo

Dias destes, um grande amigo e querido primo, Janduy Azevedo, me enviou via email algumas quadrinhas, de autor desconhecido, que desnudavam o descontentamento do poeta quanto ao relacionamento dos seres vivos na nossa madre Terra. O motivo do tal email, acredito, foi o de instigar-me a versejar sobre o tema. Alguns amigos têm o mesmo comportamento.
Bem, o teor do citado poema é satírico e também fescenino, quando utiliza uma gíria, muito comum em nosso País, que significa a exploração sistemática de alguns seres por outros. É o protesto e a denúncia destas distorções sociais. Seleciono duas, como exemplo:

Parece que a natureza
Vem a todos nos dizer,
Que vivemos neste Mundo
Somente para foder...
* * *
É uma Terra danada,
Um paraíso perdido
Onde todo mundo fode,
Onde todo mundo é fodido...

Todo poeta gosta de uma cordinha... , eu não me fiz de rogado e mandei uma décima. Ei-la:

O fardo

Atroz (foda) é a própria vida...
É fado de quem está vivo,
Pois, mesmo o moço altivo,
Terá a robustez sumida...
Numa tragédia cumprida,
Contrário a sua vontade.
Eis a grenha da verdade:
Viver é sempre um perder...
Esvai-se, desde o nascer,
A vida, em qualquer idade!

Natal-RN, 20/nov./2009
Gibson Azevedo - poeta

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Emídio, a vítima do jogo.

Emídio, a vítima do jogo.

O resultado de uma constante mistura torna-se imprevisível; e mais improvável ainda, quando ao invés de usarmos elementos químicos isoladamente, misturando-os paulatinamente, usamos a mistura das misturas tendo como elemento básico: pessoas, seres humanos. Tais experiências, foram executadas com requintes de crueldade em pleno século vinte, pelos pesquisadores e médicos da Alemanha nazista, na primeira metade do século vinte. Homens cultos de todo o mundo, arvoraram-se, dizendo-se civilizados; e que o planeta Terra tinha atingido a idade da razão e orgulhosamente vangloriavam-se, insistindo: que um bom argumento seria mais que suficiente para acalmar os loucos e afastar os tiranos. Quanta ingenuidade! Os efeitos da inocência irresponsável destes crédulos tolos foram catastróficos. Alguns criminosos experimentos com seres humanos, no entanto, trouxeram luz para alguns pontos até então obscuros da ciência, principalmente, os da fisiologia humana. Bem, neste momento, isto não nos interessa, só lembrado porque em algumas partes mais remotas do mundo, foram feitas experiências semelhantes, porem de forma natural; Levando em consideração a sobrevivência da espécie, como único e relevante motivo. A maneira tradicionalmente usada para a sobrevivência da espécie humana nos lugares mais remotos e inóspitos era, os acasalamentos entre indivíduos da mesma família; existindo aí, um grau de parentesco muito próximo. Isto ocorria sem a devida observância dos preocupantes laços consangüíneos, e visavam tão somente aumentar a prole, no intuito de ocupar os espaços vazios, tentando melhorar a segurança e robustecer o poder daquela sociedade fundamentada em pequenos clãs. Estes acasalamentos com parentes muito próximos, é a miscigenação às avessas; que trazem a tiracolo indesejáveis mutações genéticas. Resumindo: são fábricas de dementes e abilôlados.
Emídio, mágico dos pobres, nasceu numa destas situações, sendo, portanto, produto destas ligações perigosas. Era muito conhecido na região do Seridó, aparecendo sempre em dias de festas comemorativas ao padroeiro, ou algum outro santo, natal, ano novo, etc. Como sua profissão era a ilusão, criada na rapidez das suas mãos, exibindo uns bons números de trucagem, fazia daquela estranha figura presença quase obrigatória nas festivas quermesses daquelas freguesias. Este cidadão tinha a alcunha de Emídio Muçica, devido aos muitos “tiques nervosos” que exibia ao conversar. Muçica era um sujeito branco, queimado do sol; cabelos - castanho escuro - cortados rente nas laterais da cabeça, estando sempre por pentear. Seus olhos eram escuros, um tanto vesgos e vagos, sempre remelentos; sobrancelhas grossas, guarneciam por baixo, os profundos sulcos expressivos da testa. Tinha um nariz marcante, continuando-se com a boca pelos profundos sulcos naso-labiais. Bigode? Isto ele tinha, e uma barba sempre por fazer. Sua boca exibia um resquício de baba, muito comum nos dementes e nos possessos. Sua voz era produto de uma mistura de rouco e fanho. Daí, a sua necessidade de falar sempre gesticulando muito, que juntando aos tiques nervosos - que não eram poucos - lhes emprestavam expressões fisionômicas enigmáticas, que, na maioria das vezes, parecia que ele estava indagando alguma coisa. Sua comunicação predominante era a mímica; bem mais utilizada que a linguagem falada. Quanto a escrita, não podia utilizá-la, pois era portador do pior tipo de cegueira: o analfabetismo. Vestia paletó que sempre pertencera a outras pessoas, motivo pelo qual não ficava bem ajustado ao seu corpo. O mesmo podia-se dizer com relação as calças e aos sapatos. É costume, diante deste quadro, fazer-se o seguinte comentário: é..., parece que defunto era maior...! O aspecto final deste personagem vestido a caráter, era, em muito, semelhante ao vagabundo de Chaplim ou ao Cantínflas de Mário Moreno.
Como visto, apesar das inúmeras deficiências, Emídio Muçica encantava aos jovens, as crianças e a alguns adultos. O que mais admirávamos, sem que soubéssemos, naquela ambígua pessoa, era, no seu viver, a total e inegociável liberdade. Não tinha laços familiares e não se submetia a horários. Era um sobrevivente. Um bobo, mas um eterno sobrevivente! Esse artista popular fazia aparecer e desaparecer objetos como: ovos, cigarros, acesos ou não. Mudava com um passe de mágica a aparência das coisas, como uma cédula de determinado valor, transformando-a em outra de valor diferente. Truque que, ele geralmente desfazia usando o sentido inverso. Com um baralho fazia peripécias inacreditáveis, geralmente adivinhando qual carta foi a escolhida pelo espectador camarada. Depois de muito exibir-se com esses princípios rudimentares do ilusionismo, puxava do bolso uma folhazinha de ficus - árvore urbana muito comum naqueles municípios - e com ela em contato com os lábios e a língua, soprava, tirando alguns sons agudos parecidos com os de um trompete. E aí vinham algumas lindas músicas internacionais, como: Granada, La violeteira, etc., etc., etc. Deste teatro de rua tirava seu sustento; mantendo assim, seu principal capital: a sua vida. Entretanto, era dominado pelo nocivo vício do jogo. Era viciado no bozó caipira..., e naquela banca com tabela nas beiradas, geralmente deixava todo seu dinheiro duramente arrecadado entre os espectadores, quando passava o chapéu buscando suas pagas. Só entende um jogador, quem assistiu Emídio esquentando um par de dados com o atrito rápido das mãos, depois soprando para dar sorte e lançando-os na banca do caipira. Isto era, para ele, pura adrenalina, não importando se sairia dali completamente depenado.
As últimas vezes que foi visto em ação divertindo os transeuntes, notava-se, naturalmente, que estava decadente não podendo competir com a televisão e os jogos eletrônicos.
A rigor, foi avistado pela última vez na cidade de Ouro Branco, seu rincão no Seridó; cambaleante e maltrapilha, já não falava, babava muito e exalava um forte cheiro de álcool. Suas mãos, outrora ágeis, agora estendidas, lerdas e trêmulas. Que pena!... Mendigavam...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Bem-querer.

Dias atrás, o meu velho e querido Pai sofreu um acidente de percurso, que nos sobressaltou em demasia. Andou caindo ao caminhar... Ante àquela súbita preocupação, andei folheando coisas passadas e deparei-me com este poema, que, humilde, compartilho convosco:

(Poema dedicado ao meu Pai, quando
este completava setenta e nove anos.)



O Bem-querer


Tudo graça da onisciência
De Deus, que é Todo Saber,
Fez brotar o Bem-querer
No percurso da existência...
Deu-lhe amor com imanência,
Deixou-lhe, a tempo, um pedido,
O mais belo concebido:
Dar amor com simples gesto,
Num Bem-querer manifesto,
Em todo tempo vivido!...


Natal-RN, 14 de Setembro de 2003.
Gibson Azevedo – poeta.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ritos fúnebres - Funeral de Matulão.

Aqui, caros leitores, exponho partes de um texto, concebido, há alguns anos, por este seu amigo de pouco pensar:



...Nas terras do Seridó, numa dobrinha esquecida do mundo, num lugar conhecido antigamente como Villa Conceição, vivia, e vive um povo de características interessantes. São indivíduos que, apesar de pertencerem a famílias diferentes, guardam semelhanças profundas; terminam por dar azo à imaginação; levam-nos a supor que tais pessoas, originalmente, nas raízes, pertenceram a um mesmo clã. Aparentados são todos: pois que, mesmo não sendo da mesma família, apertam-lhes laços de apadrinhamentos antigos nestes estreitos relacionamentos entre compadres, e comadres, - veneráveis todos, aos olhos dos devotos afilhados. Estes laços são mais que suficiente para deixá-los semelhantes em muitos aspectos, até nos fisionômicos. Sem contar que, são sócios das mesmas manias; e consorciados que são, vivem a observarem-se, censurando-se mutuamente, a cavoucarem suas áridas vidas. Ali, naquele pequeno reduto humano, viviam, amigos e parceiros, dois populares, queridíssimos até pelas castas mais abastadas: Matulão e Lauvegídeo! Esses sertanejos foram forjados com a mesma tempera e talvez por isto, mesmo sendo homens fortes, apresentassem algumas imperfeições...
...Lauvegídeo, companheiro de copo de Matulão, farrista juramentado, era casado com Maria Calixto; negra quase retinta, conhecida como sendo uma das mulheres mais valentes e desbocadas que apareceram por aqueles rincões. Todavia era grande quituteira; habilidosíssima na arte de cozinhar; sendo muito requisitada pelas famílias ricas, para a elaboração de almoços e jantares comemorativos a algumas bodas e batizados. Possuía o seu charme. Era querida, mesmo tendo a língua solta.
Lauvegídeo, seu marido, era um sujeito branco, conversador, de rosto expressivo, com um bigode farto e uma vasta cabeleira; sendo sobranceiramente posudo, apesar de ser pobre. Aceitava, de bom grado, a comparação, que por molecagem lhe faziam, da sua presumível semelhança com o ex-presidente Jânio Quadros. Diziam: "que até a voz, parecia"! "E quando está com os cabelos desgrenhados, aí é que fica parecido", - sentenciavam alguns.
Lauvegídeo exercia a profissão de motorista, até quando a cachaça corroeu-lhe à credibilidade perante os proprietários de automóveis; para, daí em diante, dedicar-se às bebedeiras e "oras vejas" contumazes. Isto, em tempo integral!
O tempo passou e, implacável, fez suas vítimas. Uma delas foi Matulão... Com o passar dos anos, esse grande sujeito foi definhando, ao ponto tornar-se incapaz e, apesar de não ter a idade costumeira dos que de lá se servem, terminou seus dias no Abrigo Dispensário para Idosos, onde veio a falecer.
Foi um grande funeral; principalmente, se lavarmos em conta que se tratava de uma figura popular, que havia emergido do seio do povo. Talvez por isto, o clamor da populaça.
Lauvegídeo manteve-se nervoso naquele dia; deslocando-se constantemente do velório para o boteco, a papear com uns e bebericar com outros. Como resultado daquelas conversas, ficou motivado a dizer algumas palavras antes do caixão descer à sepultura. Nesta época, o costume de fazer discursos fúnebres, já havia caído de moda há décadas. Não faltou, no entanto, entre os colegas caneiros, quem lhe desse uma cordinha no sentido de animá-lo a executar esse feito. Diziam em uníssono:
-“Bibiu! você que era tão amigo dele, é quem tem de fazer o discurso!" "Se outro fizer, não vai ter graça nenhuma!"
E ele comeu a corda... Nem bem o cortejo fúnebre chegara ao cemitério, já os coveiros apeavam o caixão deixando-o a beira da cova rasa, pois defunto pobre não se enterra em catacumba. E aquela humilde urna funerária, colocada paralela ao comprimento da cova, recebeu as últimas mesuras sacras; com direito a respingos de água benta e tudo o mais. Quando os coveiros prepararam-se para efetuar o sepultamento propriamente dito, dando seqüência aos trabalhos, Lauvegídeo que se encontrava naquele momento na segunda fila, levou um leve empurrão de um dos companheiros de birita e, como já se encontrava indisfarsávelmente bêbado, tombou pra frente e estacou colado ao caixão. Aí veio, uma voz providencial, solta meio ao leu:
-"Não! É porque Lauvegídeo quer dizer algumas palavras!" 'Fale aí, Bibiu! O home era seu amigo! Fala home!"
Todo bêbado é atrevido e Lauvegídeo não se fez de rogado; ficou muito serio tombando levemente para frente e para traz, e, estando naquele lento balanço, tremelicava incessantemente a cabeça como se estivesse emocionado, para depois, numa lentidão irritante, levantar o braço colocando o dedo em riste e, usando de uma voz grave, súbita, entrecortada e babada, quase inteligível, disse:
-"Vou cumeçar pela a letra E!" Veio em seguida mais uns longos instantes de silêncio, quando ele, com uma dicção mais engrolada do que antes, continuou:
-“ÉÉéé... vergdade que você morreu mermo?" "Eu ainda num tô acriditano... Num é pussivi!”
Neste instante, saltou um sujeito respeitável e disse:
- "Êpa Lisbiu, pode parar!" "Covêro, interre o home; quêsse cabra tá é bebo!" "Era só o qui faltava!"
E assim, meio a certa balbúrdia, o querido Matulão desceu à sepultura...


Natal-RN, 09/Out./2003. GibsonAzevedo
P S: Estória relatada pelo estimado primo José Geraldo Medeiros da Silva.

sábado, 10 de outubro de 2009

A odisséia dos pássaros.


Caríssimos, a vocês, mais um mimo da memória:



Odisséia dos pássaros


As nossas certezas se nos descortinam como urna carga pesada em demasia; cobrando-nos - a vida -, um preço deveras alto pela ilusão da convicção..., da
segurança... Existem, no entanto, algumas aparentes certezas mais fáceis de destacar.
Como exemplo, cito: que à cidade de Natal-RN, na minha modesta opinião, faltam pouquíssimos detalhes para que eu possa considerá-la um apêndice do Paraíso; tanto é o amor que tenho por esta amada urbe e, a satisfação de residir à trinta e seis anos nos seus espaços físicos e imaginários. Mas..., nem sempre foi assim. Basta voltarmos um pouquinho no tempo e verificarmos que o amor que ora sinto por esta cidade, veio-me aos bocados. Natal foi, por adoção, conquistando-me aos poucos. De súbito, não; não me conquistou por inteiro. Houve um considerável período de maturação. Quatro anos, para ser exato. Minha origem é sertaneja, e sertanejo contínuo, apesar de três quartos de minha existência pertencerem à Natal; na qual, cúmplice, comunguei com o seu destino. Sou natalense! Talvez, mais do que os que aqui nasceram. Se se puder comparar, mensurar, constatar-se-á que eu estou certo. Sou natalense "da gema!" Não hesito ao afirmá-lo...

Houve, entretanto uma época, menino ainda, na qual mudamos da nossa cidade de origem - Jardim do Serídó -, e fomos residir na vizinha Caicó; de maior porte; cidade de outros ares. Reconheço não ter o espírito aventureiro, e aquela primeira mudança afigurou-se-me também como uma primeira ruptura. Alguns hábitos, costumes, a nós tão caros, foram na poeira do tempo deixados para trás. Os nossos momentos, fragmentos dos nossos dias, vivê-los-íamos em outras terras, noutro cenário. Ao mudarmos, tivemos a certeza: hoje, passado alguns anos, reafirmo, reconheço o caicoense como sendo o povo mais hospitaleiro, meio a tantos outros dos quais tivemos notícias ou contato. Repito sempre que se faz oportuno: que no período de oito anos, no qual a nossa família residiu na cidade de Caicó, em momento algum me senti um forasteiro. Nem nos primeiros dias! Naquela terra, daquele barro, forjam-se homens e mulheres de têmpera incomum, que, desassombrados, vislumbram ao futuro na natural valorização do presente. São Seres que tem apreço pelas coisas do passado. Tradições; cultura ancestral de jaez pacífica e de fé inquebrantável. São bem humorados, sorridentes, acolhedores e festivos. Qualidades que não os impedem de tornarem-se irredutíveis na defesa das suas convicções; deixando por vezes transparecer certa fúria, na preservação das verdades adquiridas com o passar dos séculos, no áspero clima dos sertões semi-esquecidos de outros tempos... Foi no salutar convívio com estas pessoas, que vivi parte da minha infância e os primeiros anos da adolescência. Posso dizer que foram dias extremamente felizes!... Firmamos, por aqueles tempos, amizades sinceras e duradouras; sempre renovadas nos reencontros que facultou-nos o acaso,

O tempo passou, e, lá pelos idos de sessenta e oito, no final do ano, para minha surpresa vi-me diante do Monsenhor Ausônío Tércio de Araújo, tratando de minha transferência escolar para que pudesse matricular-me no curso científico do Atheneu Norte-rio-grandense, nesta Capital. Surpreendeu-me também a relutância daquele
Educador em não satisfazer ao meu pedido de transferência.. Alegava-me naquela ocasião que, era de estudantes como eu, que mais precisava o recem-fundado curso científico daquele augusto Colégio. Verdade! Jamais imaginei-me observado. Julgava-me, por inocência, ser um aluno insignificante, dispensável... Foi o meu primeiro real contato com o mundo dos adultos... Marcou-me, aquele diálogo! (que pena!..., não pude ficar...). O fato é que, meu irmão mais velho já morava em Natal, e os meus pais preferiram unir novamente toda a família sob um mesmo teto. Daí, a mudança!

E então, no começo do ano de mil novecentos e sessenta e nove, logo após ao carnaval, numa madrugada fria - temperatura comum nas suas primeiras horas -, uma mal arrumada bagagem numa carroceria de um caminhão, deslocava-se com lentidão com destino à Capital do nosso Estado. Os primeiros raios da aurora encontraram-me mergulhado em profunda tristeza. Ensimesmado, naquela torrente de solavancos, imaginava, sob os efeitos do trauma de romper às inocentes alianças juvenis, como seria a minha vida daquela data em diante. Nada seria como dantes!... Somente o amor à Caicó dos meus sonhos!... Foi uma ruptura duríssima! Talvez isto explique, a minha total aversão a qualquer tipo de viagem.
Entretanto, meio à minha tristeza, a mudança..., os cacarecos..., divisei com espanto olhares mais tristes que o meu. Vi, de súbito, vários pares de olhos a mirarem tristonhos às últimas imagens das queridas paragens do Seridó. Eram nossos pássaros de gaiola, que, por conta do nosso egoísmo, foram bruscamente subtraídos do seu amado habitat. Nunca mais cantariam com alegria, hábito comum entre eles; mesmo quando se lhes era cerceada à liberdade. Aqueles olhares tristonhos prenunciavam uma imensa saudade da sua querida terra; terra dos seus pássaros ancestrais, que felizes conviveram com os antigos povoadores humanos, os valentes Tapuias.

Dizem ser possível aos humanos, guardar ao sabor do tempo um tipo de memória, chamada de: "memória coletiva". Só aos homens? - pergunto. E aos pássaros?


Natal-RN, 31 de Maio de 2005.
Gibson Azevedo

sábado, 26 de setembro de 2009

Nos rastros de um Frutica.

Um dia destes, estava a navegar pela a Web e numa paradinha que eu dei, como sempre faço, em um blog português de um dileto e virtual amigo Poeta do Penedo, local onde ele mantém uma coluna (Fruticas de um Mondego) com diversos e interessantes assuntos literários. Pesquei uma poesia entitulada "Emanações de uma ruína" e, com esta, tive a petulância de, também em linguagem poética, dialogar. Imaginem só! Peço desculpas ao Poeta do Penedo, mas, quedei-me ante a tentação de cometer esta heresia:

Emanações de uma ruína

Num tempo
Que ao tempo
Já não ocupa espaço,
Na pressa do abrigo
Ver surgir,
Vi nascer a minha essência
Vi abrir-se o teu sorrir.
Por mim passou o desejo,
O amor que se fez sem pressa.
Onde estás que te não vejo
Dono da minha existência.
Tive dias de alegria
Alguém por mim olhou,
Uma voz que sempre dizia
Que eu não chegaria
Ao que sou.
Mas a morte um dia veio
Afugentando de mim a vida.
A promessa ficou pelo meio,
Já que tu,
Meu dono,
Depressa foste de partida.
O meu dono é agora a solidão
Não passo de um triste ermo,
Sou sangue sem coração
Sou história a que se pôs termo.
Na ruína do meu ser
Tenho por companhia o luar.
Já me não é possível querer
O amor,
Que outrora em mim teve lugar.

Publicada por “Poeta do Penedo” (poeta de Coimbra-Portugal) .



Vejam as loucuras que escrevi:


Em que tempo?


Nem tudo lembra o fim
Nos arroubos do agora...
Na azáfama, no agito.
Não há tempo...
Abafa-se o grito.
Alheios ao momento,
Vagueiam súbito,
Reles pensamentos...
No etéreo, infinito:
Ermos, somos...
- Corolas fanadas –
Onde tudo o mais é finito... e breve!

Natal-RN, 18/ agosto/ 2009.
Gibson Azevedo - poeta

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Fora de órbita


Mais um pouquinho de reminiscências... Por favor, tolerem-me!



Fora de órbita

Eram um bom número... Eles têm todas as atenções das pessoas de bom coração; que contemplam com carinho, com ternura e bom humor, àquelas criaturinhas geneticamente imperfeitas que a natureza indiferente ao seu erro de criação coloca-as no seio da humanidade, dita sã, onde se constata serem inaptas de sozinhas sobreviverem a dura aventura de viver... Alguns são totalmente incapazes, com um elevado grau de dependência...; outros, com uma incapacidade mais leve, mais branda, vivem desviando-se das adversidades com a ajuda de uns, de outros..., de muitos. Esses erros naturais advêm, - crer-se-, da miscigenação irresponsável ou inocente entre seres consangüíneos, muito utilizada em pequenos clãs, em regiões remotas, de pouco ou nenhum contato com a civilização. É possível e justo pensar, que algumas vezes ocorrem como fruto de gestações, acontecidas em concomitância com algumas doenças crônicas e degenerativas. Dão frutos chochos, imaturos, encruados. "Atrofiados", como dizia meu avô paterno; referindo-se a alguns dementes que povoavam nossa região. Como foi dito em outra oportunidade, eram mansos os loucos de minha terra. Loucos que povoaram minha infância... Infância de menino pobre.
Severino comunista em conversa com Teví Clemente(Caico-RN)
Existia em Caicó, anos sessenta, oriundo das camadas mais pobre daqueles sítios, um indivíduo chamado Severino, conhecido, para seu desespero, como: "Severino comunista". Na cabeça de alguns cristãos sertanejos, versava uma estória que, no regime comunista, se comia, numa total antropofagia, criancinhas, e matavam-se padres e freiras; e era comum, em tais lugares, tomar-se, apoderar-se dos pertences dos outros, apossar-se do alheio, e mil e uma coisas abomináveis. Severino, só de pensar que o comparavam à gente dessa espécie, tremia de raiva e, não contendo-se, esbravejava, aos quatro cantos, onde quer que estivesse. Não havia, entretanto, naquela região, um varão mais "papa hóstia" do que ele. Católico fervoroso era, com muito orgulho, Irmão Mariano. Não perdia uma novena; muito menos uma missa; fosse esta, realizada a qualquer hora do dia ou da noite. Estava sempre presente às famosas missas das primeiras sextas feiras de cada mês (tão valorizadas pela Igreja Católica, como se isto fizesse alguma diferença ). Severino confessava-se - como se houvessem pecados para tanto - e comungava todos os dias. Participava de qualquer manifestação litúrgica, ou as ditas profanas, patrocinadas pela Paróquia de São José, no bairro da Paraíba. Não havia penitente mais enquadrado com os ditames da Igreja, que aquele inocente sertanejo. Se aquele modo de se conduzir e viver não assegurou sua solene entrada para o céu, creio, na minha humilde e modesta opinião, que cometeu-se uma grave injustiça nos tribunais celestes. Aquele viver ascético, de jejuns e penitências, asseverava uma beatificação imediata! Severino comunista, certamente, virou santo!..., ou então, virou xeleléu deles! É bastante factível.
Dos pecados que Severino confessava diariamente, alguns eram,certamente, os palavrões que soltava dentro da Igreja, quando era instigado a proferi-los pelos moleques inconseqüentes, que o chamavam pelo incômodo apelido. Era uma provocação feita sutilmente, de soslaio; com um baixo tom de voz, disfarçadamente......
A Igreja da Paróquia de São José foi concebida e construída no formato de uma cruz A nave principal onde se encontram o maior número de bancos, conseqüentemente, concentrando um maior número de fiéis, é cortada no nível do Altar Mor, no sentido perpendicular ao seu longo eixo, por dois apêndices laterais. Estes dois nichos, relativamente grandes, davam corpo aos braços da cruz. Por traz do citado Altar ficava a sacristia com suas subdivisões burocráticas, etc. Esta terminava, como previa o projeto da construção, o desenho do crucifixo. De maneira que, o celebrante ficava num ponto eqüidistante das partes laterais e a nave principal da Igreja; sendo visto por todos, independente do local onde estivessem. De uma parte lateral para a outra, passando pelo Altar Mor, avistava-se quem se encontrava do outro lado da Igreja. Naqueles lugares, tinha-se a vantagem de acompanhar mais de perto todo o cerimonial da Santa Missa.
Certo Domingo, feriado católico, igreja cheia, sentaram-se nos primeiros bancos, em frente um do outro, nas respectivas partes laterais da igreja: Ostenildo - moleque trabalhoso por aqueles tempos -, e Severino Comunista, piedoso e circunspecto "papa hóstia", nosso conhecido. Dependendo do celebrante, existem alguns momentos no cerimonial da Missa, que a Igreja, embora cheia, fica em total silêncio; um pesado silêncio... Foi num destes momentos, que Ostenildo chamando a atenção de Severino, com os olhos arregalados, numa mímica inconfundível com os lábios, mímica de fácil leitura labial, insistentemente, passou a chamá-lo de "comunista". E dizia:
- Cumunista! Psiu!..., cumuniistaa!!
Então veio, no meio do pesado silêncio,a desastrosa resposta:
- Cumunista é o corno do seu pai, cabra safado!! - Ói Pade Terço, esse muleque tá me chamano de cumunista!...
O Monsenhor Ausônio Tércio de Araújo,vigário daquela Paróquia por aqueles dias, era um homem bom; mas era sabido por todos, como sendo um indivíduo que tinha o pavio curto. Era de um temperamento muito forte. Ia da calmaria à afobação, em frações de segundos; e, ao olhar para o lado onde estava Severino, ficou vermelho de raiva, beirando à apoplexia, desconcentrou-se da cerimônia da qual era o celebrante, virando-se imediatamente para o outro lado, expulsando Ostenildo, sumariamente, das dependências da Igreja:
- Saia, moleque! Ruua!!... E voltando-se, continuou lentamente:
- Dominus vobiscum!!!
- Et com espíritu tuo!!... – respondeu meio a risotas, a assistência de muitos fiéis.

Natal-RN, 04 /Abril/2005.
Gibson Azevedo

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Momentos de reflexões


"Ouviram do Ipiranga às margens plácidas..."




Momentos de reflexões.


Nestes dias ditos da Pátria, nesta semana que antecede ao dia 07 de setembro, temos muito pouco ou nada a comemorar... Temos como certo, o mau costume de acomodarmo-nos à péssima prática de pagar taxas e impostos altíssimos. (Estes, os mais estapafúrdios que até hoje se teve notícia)
Nossa Independência, que na realidade não passou de um “negócio” entre parentes portugueses, tornou-se, por geração espontânea, numa interdependência entre os poderes das duas Nações; prática que nos conferiu o status de “nação perneta”, já que era impossível caminharmos naturalmente com os dois pés. O Brasil Colônia era habitado por portugueses que já nutriam o sentimento nativista pelas novas terras do lado de cá do oceano atlântico. Sentiam-se espoliados por seus patrícios da metrópole, pois que eram cobrados impostos, impagáveis à época (imposto de 1/5).
Resolveram dar um basta àquelas explorações, rompendo com seus pares e parentes da corte portuguesa, alçando ao poder um português da Casa de Bragança. Foi uma independência feita de afogadilho; até porque, a presença da família real portuguesa era insistentemente reclamada em terras lusitanas. Como vimos, não ficamos independentes coisíssima nenhuma! O poder passou de um apêndice da família real para outro. Tivemos, nós brasileiros, a única monarquia do continente americano. Na realidade, uma excrescência singular nas terras do novo mundo.
Neste reinado os vícios trazidos pela monárquica família, quando por aqui subitamente aportaram fugidos da sanha napoleônica, mudaram o comportamento da Colônia. Dizem as más línguas, que os compatriotas de Cabral, nossos irmãos portugueses, se nos apresentaram aqui no Brasil, "lisos de pegar verniz"; não lhes sobrando outra opção, que não fosse a de vender conversas soltas. E haja vendas de títulos de nobreza, de cargos vitalícios, etc. etc.(Alguns persistiram até aos nossos dias. Ex: os Cartórios.) Muitos afirmam que tais vícios concorreram, junto a desastrosas aventuras como a Guerra do Paraguai (1865 a 1870), aventura esta que corroeu, à exaustão, as finanças do Tesouro da já decadente monarquia, para a queda daquele colosso (neste período, o Brasil foi o último país a aderir à revolução industrial, preferindo manter sua força de trabalho baseada na aberração desumana do trabalho escravo). Ao abolir a escravatura tardiamente e, já com efeitos nocivos deixados pela demorada Guerra travada com nossos vizinhos, a monarquia caiu como cai um castelo de cartas. Finou-se ao som de valsas e polcas e algumas saliências de alcova do Grande baile da Ilha Fiscal. Na ressaca que o sucedeu, varreu-se de vez a monarquia.
Em 15 de novembro de 1889 (um ano após a libertação dos escravos) veio proclamação da República; meio a apupos de uma quartelada onde a população da capital da nação efetivamente não participou. Chegou prometendo “mundos e fundos”, deixando, de propósito, transparecer aos brasileiros passivos, inermes, daqueles tempos, que a nova forma de governo seria indubitavelmente remédio para todos os nossos males. Ledo engano!... Mais uma vez o poder, caprichoso como uma cortesã, passaria de uma mão para outra. Pouca coisa mudaria.
Senhores, nesta data magna relembramos um longínquo setembro de 1822, quando, à época, nos apresentávamos a comunidade internacional das nações livres, como sendo o seu mais jovem membro.
Não deixamos de sentir, apesar de emocionados, laivos de um ranço das oportunidades abortadas, cultivado no seio do nosso povo. Ranço tratado, a princípio, na estufa mesquinha das elites, que, ao servirem de mau exemplo, desenvolveram no cerne da nossa gente o deletério sentimento de impunidade às nossas faltas. Nossos representantes diretos e indiretos, a cada quartel do tempo que passa, tornam-se mais pusilânimes e venais. Já não é tempo para mudarmos?
Nestes dias, às vésperas da data que comemoramos a nossa autonomia de brasileiros livres, convido, todos quantos possam, a refletir: quais serão os rumos dos nossos Brasis tão sofridos do agora. Esperemos... Talvez nos venham melhores dias!...





Natal-RN, 02 de Setembro de 2009.
Gibson Azevedo

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Argumentos da insônia

Confesso que estou ficando velho. Basta dizer que, o sono, que antes me vinha franco e generoso, ora sonega-me a sua essência regeneradora, deixando-me insone a percorrer por lembranças que julgava mortas, numa velocidade incrível (talvez, maior que a velocidade da luz). Por conta disto, até poesia sobre o tema já fiz. Pois que vejam, se não acreditam:


Argumentos da insônia



Admito que por vezes
É melhor não darmos crédito...
Duvidarmos até do óbvio...,
Servem-nos de lenitivo.
Impossível acreditar,
Não sentires:
O peso do meu olhar...
A dimensão exata do meu desejo.
Haverás, sim, de notar:
Minhas momices. meus gracejos,
- Meninice temporã de homem feito.
Se é certo, quem sabe? Não sei...
Ninguém sabe..., é meu pensar:
- Servem apenas de lenitivo.
Assim me deito...
Assim sonho.
Adormeço; mas, não de pronto!
Enfim, adormeço... ... ...



Natal-RN, 31 de Janeiro de 2007.
Gibson Azevedo - poeta

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Noite de Festa

Mais uma coisinha antiga para o deleite dos caríssimos leitores:

Bebemos muito, numa passagem de um ano em casa de parentes diletos. E no decorrer da festança, perdemos a noção do tempo e do ridículo, pois já tínhamos a presença dos primeiros raios solares do primeiro dia do ano, sem que, nós, retardatários, notássemos a necessidade urgente de recolhermo-nos às nossas casas, Era uma maratona sem vencedores, pois não sabíamos o que disputávamos. Beber por beber, ora bolas! Como de costume, nestas ocasiões, não existia mais no adiantado das horas, seriedade nos assuntos. E a pieguice dava a tônica às conversas.
Lá pras tantas, um dos sujeitos mais encharcados que os demais, ilustrando seus comentários, citou um dos Papas da igreja católica, sendo, de imediato, confundido com uma figura menor, pra não dizer vulgar, militante na política de nossa cidade. Esta foi a “deixa”, que aproveitamos de chofre, para encerrarmos aquela reunião interminável.
Como aquelas bizarras lembranças, insistiam em permanecer bem vivas em minha memória, resolvi documentá-las em forma de sátira:


Noite de festa

Já deviam processar
E no embalo julgar...
Um bêbado, porque falou;
Respondendo outro zurrou...
Também merecia o castigo,
Por discordar do amigo
E não cometer o engano,
De mexer com o Vaticano,
Com os Bispos e os Cardeais
E com muitos outros mais...

Falavam de coisa à toa...
Quase sempre de mulher boa;
Das coisas novas e antigas...,
Das discussões e das brigas
De galo e do futebol.
Fazendo fita e farol,
Com um linguajar rebuscado,
Tendo o Papa Pio, citado,
Interpelaram ligeiro:
Que Pio? Pio Marinheiro?



Natal-RN, Jan. de 2001.
Gibson Azevedo - poeta

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Trova dedicada ao dia dos pais.

Genuflexo, faço este pequeno mimo ao meu velho, neste seu dia (09/08/2009), e, nas alturas dos seus oitenta e cinco anos. Este Senhor é dono do meu bem-querer, que transcenderá, decerto, para bem além da vida!...

É bom seguirmos conselhos...
Venerandos..., anscestrais;
Refletirmos, como espelhos,
A vida dos nossos Pais!

(Gibson Azevedo - poeta).
Natal-RN, 07/Agos./2009.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Homenagem a Givaldo

Participo com muito gosto do Sarau lítero-cultural na sede do Conselho Regional de Odontologia do Rio Grande do Norte, onde se apresentam poetas, escritores, repentistas e performáticos em geral. Esses encontros têm como finalidade precípua, a fomentação e descoberta de novas vocações e expressões culturais. Naquele local tudo é feito às claras, sem visar-se qualquer auto-realce ou destaque e sem amealhar, à solerte, alguma soma. Tais reuniões acontecem, à noitinha, nas duas primeiras quartas feiras de cada mês. Por vezes, algumas palestras são proferidas por pessoas de relevância na nossa sociedade, quando, a critério do palestrante, vários assuntos são abordados.

Há coisa de quinze dias tivemos a honra de receber o renomado Cirurgião Dentista, o Dr. Givaldo Soares, que, com contagiante simplicidade, tratou de duas paixões brasileiras que se interligam: o Futebol e a Música; objetivamente, desde os primeiros anos do século vinte, até a conquista do nosso primeiro Mundial de futebol. (Isto, nos idos de mil novecentos e cinqüenta e oito.) O assunto é, para nós, apaixonante!... Somente sendo brasileiro para sentir, a demasia da paixão do nosso povo por este amado esporte, e a nossa, não menos amada, música popular. Essas paixões se completam..., e se entrelaçam como se fizessem parte de um só corpo. Poucos povos possuem estas singulares características.

O Dr. Givaldo Soares houve-se muito bem; sendo, por muitos, saudado ao término de sua prédica. De minha parte, dediquei-lhe um poema que havia concebido já há alguns anos. Contudo, achei oportuno fazê-lo naquele momento: votá-lo a uma pessoa por quem tenho grande amizade e pura admiração. Trata-se de uma mistura de sentimentos na organização concreta do ser humano, a partir de coisa(s) inanimada(s):

As pedras


As pedras que rolam no leito,

São as mesmas que endurecem o peito

E são as que do mesmo jeito, rolam no eito...

Palmilham-nas pés andarilhos, nus, com algum defeito;

Agregam-se, atraem-se, dão forma ao que está feito;

Formam os sonhos, talvez insanos, em um sono rarefeito!...

Natal-RN,/Dez./1998 (Gibson Azevedo – Poeta)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Eram mansos, os loucos de minha terra.

Faço um brinde a vocês, meus caros e pacientes leitores, com uma singela crônica feita, à toa, há alguns anos...

Eram mansos, os loucos de minha terra !
Geralmente eram. Salvo, raríssímas exceções de uns poucos mais enfezados; daqueles que jogavam pedras nos meninos, em resposta, troca, a certos insistentes chamamentos chistosos de odiados apelidos mordazes, feitos por estas turmas da segunda infância, e cujas estrepolias faziam o contraponto na quebra da monotonia daqueles lugarejos ermos, perdidos no passado; vivos apenas nas reentrâncias da memória; teimam, no entanto, como um moribundo que luta para manter-se vivo, a todo custo manter a sua história. Outros não!, não esboçam a menor irritação ao serem abordados. São loucos mansos, destrambelhados da bola - à grande maioria. Pacatos por natureza!... débeis mentais, retardados - como queiram. O Capitão José Alves da Costa, meu avô, sertanejo de boa cepa, experiente, de anos bem vividos, definia com muita justeza às pessoas que apresentavam os denunciantes indícios de retardo mental. "Meu filho! - dizia ele -, "essa pessoa nasceu e cresceu "atrufiada"? Coitado!...” Destas assertivas, por vezes, até alguns parentes chegados, não escapavam. Nas famílias mais antigas destes lugarejos de desbravadores, vamos sempre encontrar, algum indivíduo com alguma desordem física ou mental. Feitas às observações, deduziu-se, por longas experiências no decorrer de anos a fio - centenas deles -, que tais fatos aconteciam e acontecem devido a casamentos ou acasalamentos entre parentes muito próximos, onde os malefícios consangüíneos de tais junções, se fazem notar implacavelmente. Resultado: abilôlados, aos montes! Vítimas, como vimos, do desejo incontrolável do homem em ocupar novos espaços, em regiões remotas, de pouco ou nenhum contato com o mundo civilizado. Os casamentos, então, eram efetuados e celebrados no seio da parentela, frutos do mesmo ambiente. Tais himeneus ou mancebia, resultavam por vezes em prole frustrante.
* * *
No meio destas "peças com defeitos de fabricação", vamos encontrar nos primeiros lustros do século XX a presença impar do impagável Mane Télo. Este cidadão, "doidelo" por natureza, analfabeto, tinha o corpo pequeno e magro; de tez branca (à galega) queimada ao sol. Era incapaz de assumir qualquer atividade laboriosa; vivia, como era de se esperar, da caridade dos seus contemporâneos. Gozava de livre acesso às Fazendas e aos Sítios das várias cidades da região de Seridó Norte-rio-grandense. Existem dúvidas quanto ao local do seu nascimento. Alguns acham que ele nasceu para os lados da Fazenda São Roque, entre os municípios de Jardim do Seridó e Ouro Branco. Outros discordam, dando-lhe outra origem. Mané Télo era um vivente muito engraçado e perspicaz ao seu estilo. Afora alguns impropérios que distribuía aos meninos vadios, que, como vespas, o incomodavam com achincalhes e "pantíns", passava o tempo falando consigo mesmo a respeito de palpites de jogo de bicho: "sunhei cum arubú, o bicho de hoje é águia ou avestrui!” “Topei cum gato preto, hoje dinoite dá lião" E assim, ensimesmado num convercê íntimo, passava horas a fio numa algaravia medonha.
Apesar de maluco, possuía o dom da poesia; era um poeta popular e fazia com facilidade algumas "quadrinhas".
Certa vez - falam as bocas do domínio público -, vinha Mane Télo deslocando-se, a pé, como de costume, na zona rural de um Sítio para outro, quando encontrou-se com um menino muito feio. Imediatamente Mane indagou de quem ele era filho, obtendo como resposta que era filho de Mané Garcia. Passou-se..., seguiu em frente..., lá mais adiante, encontrou outro moleque que era mais feio do que o anterior. Perguntou-lhe: - você é fie de quem? Sou fie de Mané Garcia - respondeu-lhe o fedelho. Seguiu caminhando, no seu monólogo íntimo, quando por trote do destino topou com mais um filho de Mané Garcia que, se é que podia, era ainda mais feio que os dois primeiros. Tabulou uma conversa, e, quando descobriu quem ele era, saiu-se com este "repente"- uma pérola:

“Buraco em pau é oco,
Gancho de pau é furquia:
Toda “marmota” quêu vejo
É fie de Mané Garcia!...”

Doutra feita, fato relatado pelo Sr. Francisco Godofredo, da cidade de Caicó, Mane Télo chegou a um determinado Sítio, quando o proprietário, por farra, sabedor da inapetência para o trabalho ( preguiça ) que aquele desmiolado era portador, mostrou-se muito alegre ao vê-lo, dizendo que a ocasião daquela visita era muito oportuna, pois ele estava precisando de uma pessoa para carregar umas linhas, de um determinado local pra outro da sua Propriedade: - Você faz isso pra mim, Mane ? - perguntou o rurícula.
- Faço, - respondeu Mane Télo, de pronto.
Deslocaram-se, junto a outros curiosos, para um armazém onde se encontravam guardadas várias linhas e troncos de carnaúbas, coqueiros, angicos, etc., e lá, apontaram para os pesados toros de madeira e disseram: - Pronto, Mané, pode começar a carregar!
- Naã!..., eu pensei quéra linha de CARRITÉ!", - respondeu, na bucha, o sabido Mane Télo, apesar de maluco.
Natal-RN, 13 de Dezembro de 2005.
Gibson Azevedo da Costa

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Debut no sarau poético

Senhores..., senhoras meus saudares...
Sou Gibson Azevedo da Costa, Cirurgião dentista radicado nesta belíssima cidade há precisamente quarenta anos. Tenho por Natal uma paixão especial, só encontrada nos raros casos de pura mancebia, por vezes, de trágicos desdobramentos. Mas na poesia tragédia é o que não falta; e é bom que assim continue, pois como disse certa vez o poeta Chileno Pablo Neruda: fazer poesia, nada mais é do que enxergar as verdades onde elas existam, geralmente indignando-se com o status quo, e, externando-as com metáforas sucintas e precisas. Na realidade, o poeta não tem necessidade de ser simpático, de ser bom; ele tem, tão somente, a obrigação imutável de ser verdadeiro. Aí teremos uma poesia! Aí teremos um poeta.
Recebi do colega e amigo Rubens Barros de Azevedo, há algum tempo, o convite de participar deste simpático sarau; o que faço agora com muito gosto. Dizeres populares já não alardeiam, que: antes tarde de que nunca? Pois bem, “eis me aqui...., se vos sirvo aqui estou” , como já dizia, alhures, um certo poeta Russo.
Já que aqui estou, aproveito a oportunidade para demonstrar que a poesia pode apresentar-se de várias maneiras; e não será por isto: uma maior ou menor poesia. Exemplifico com dois poemas meus, que os fiz muito a propósito na forma de versos livre e também na forma metrificada e rimada. Vejam que dizem a mesma coisa, só que, com os arranjos diferentes; sem, contudo, perderem a emoção. Chamam-se: Ação do tempo...

Para o meu desgosto
O tempo passou...
Deixou marcas no meu rosto,
Mas não foram as mais profundas.
Conservou feridas abertas
Que pouco percebe-se no entanto;
- São as que verdadeiramente doem.
Surpreendo-me pensando...
E o tempo, mais e mais, passando...
O que restou?... Nada..., quase nada...,
Marcas no rosto,
Para meu desgosto!

Natal-RN 17/11/ 2006
Gibson Azevedo - poeta


Vejo o ocaso chegando,
No Tempo, penso e medito:
Este déspota maldito,
Que mais e mais vai passando...
Intimamente marcando,
Deixando, a contragosto,
Perplexidade e desgosto,
Numa existência fanada...
Restando, bem pouco ou nada:
Tristeza e marcas no rosto!


Natal-RN, 06/12/2006
Gibson azevedo-poeta

terça-feira, 23 de junho de 2009

Algumas reflexões

Habemus Stadium

Na falta de expressão melhor, sirvo-me desta, oriunda da língua mãe que, bondosa e abrangente como é, nunca nos falta, mesmo para nomear fatos novos; ocasião na qual os mais posudos e modernos léxicos encontram dificuldade de dar-lhe o real significado. Então, encontramos, no bom velho Latim, resposta para os fatos mais estranhos e alienígenas que possamos se nos deparar.
Habemus Stadium – esta expressão só agora veio à tona depois de muitos convercêres (convícios conversíveis) que se nos expuseram, às tulhas, nas últimas semanas, após o pirotécnico anuncio dos nomes das cidades sedes para a Copa do Mundo de Futebol do ano de 2014. Ora! Vivas! Foi o que todos disseram... Todos entrementes só olharam para o próprio umbigo; só, e somente só, pensaram nas próprias vantagens que podiam subtrair da notícia inusitada. Não se teve naquele momento o mínimo de humildade; a soberba assomou-se-lhes aos pensamentos, adonando-se dos seus seres. Todos, demonstrando exímio preparo, encontraram resposta para tudo: “Faremos isto; faremos aquilo; demoliremos tal estrutura; ergueremos a tempo tal projeto...; o problema da infra-estrutura de tal setor já está parcialmente solucionado, etc. etc.
Bem, ante a azáfama de pensamentos que nos veio em turbilhão e fomos obrigados a testemunhar, passada a euforia inicial, ouso proferir uma pergunta que teima em não calar:
Que seria do nosso débil e hesitante futebol, se, meio a essa parafernália de opiniões e de ego massageados ou melindrados, não existisse, e em boas condições de uso, o Estádio Maria Lamas Farache – O Frasqueirão?...
Aventou-se em demasia, idéias, as mais estapafúrdias como: o nosso principal confrade, o América, construir, num galope contra o tempo, o seu próprio Estádio (Nada contra, a não ser a inconveniência do momento); adequar com sensível e operosa reforma o Estádio do Potiguar de Parnamirim( o Ten. Luiz Gonzaga) e, ou o America ceder, parte do seu terreno do Centro de treinamento, para o Prefeitura de Parnamirim construir um Estádio com a capacidade para vinte mil pessoas. Lembrou-se também que a prefeitura de Macaíba,outra cidade da Grande Natal, concluiria a tempo o seu Estádio já em processo de construção; outra idéia, logo descartada, foi utilizar um Estádio na cidade de São Gonçalo(o Luiz Rios Bacurau), mas este localiza-se em uma fazenda, distando alguns quilômetros do centro da referida cidade.
Lembrou-se inclusive dos velhos e obsoletos Estádios: o Senador João Câmara (nas Rocas) e o Gov. Juvenal Lamartine (no bairro do Tirol). Nenhuma destas, supracitadas hipóteses, resistiria a uma análise isenta. Nenhuma! Algumas, pelo o incômodo de localizarem-se em outro município, e, em alguns casos, cuidar de empregar dinheiro público em uma propriedade privada. Outras, por deficiências operacionais, devido às péssimas localizações na realidade dos tempos atuais. E por aí vão, e foram, às luminosas idéias se desmiligüindo ante a cruel veracidade dos fatos.
O Estádio João Machado encerra suas atividades ao final deste ano; data marcada para o início de sua derrocada. Não havendo tempo e nem recursos financeiros para nenhuma destas pseudo-soluções, voltou-se a analisar, o que, na cabeça de muitos indivíduos radicais, seria uma conduta impensável: Usar, neste período de construção da nova praça esportiva, o Estádio do seu adversário – O Estádio Frasqueirão. Existe algum mal nisto? Observa-se algum demérito nesta atitude? Algum clube vai sentir-se diminuído por mandar seus jogos naquele moderno Estádio? É lógico e palpável que não!... O ABC Futebol Clube, no que tange a sua diretoria, seus conselheiros e seus torcedores, sentir-se-ão, por demais, honrados, em receber seus confrades de tantas e passadas disputas, nas suas acolhedoras instalações, pois que sabem estar a fazer História. Nada é mais gratificante! Sem falar no retorno financeiro que isso trará à equipe alvinegra; afinal de contas, as agremiações que utilizarem o Frasqueirão não o farão gratuitamente.
Sou de uma época, na qual presenciei, em algumas domingueiras promovidas pelo ABC, na sua antiga Sede Social da Rua Afonso Pena, que fazia esquina com a Rua Potengi, no Bairro de Petrópolis, quando por lá apareciam alguns dirigentes do America, estes eram especialmente bem recebidos, e suas presenças anunciadas via serviço de som instalado para aquele evento. Nada mais natural!... Da mesma forma posso afirmar e testemunhar, a gentileza que acontecia quando o fato ocorria nas dependências do América. Lembro bem, quando, por ocasião do casamento de Ricardo Siminéia, a recepção feita aos convivas aconteceu nas instalações do América Futebol Clube, no andar superior onde se localizava o restaurante daquela agremiação. Natal, naquela época, não possuía locais condignos para receber um razoável número de convidados. O America era o local preferido àqueles dias. Pois bem! José Newton Siminéia, seu pai, foi por longos anos Tesoureiro do ABC F. C., sendo um dos seus mais ferrenhos torcedores, em décadas passadas. Quando este se dirigiu à tesouraria do América, para quitar o compromisso do aluguel do espaço usado na recepção do casamento do seu filho, recebeu, pasmem os senhores, a seguinte resposta do Conselheiro Humberto Nesi: “Minéa , você acha que a gente é capaz de cobrar o aluguel do clube para o casamento do seu menino? Qué isso Minéa!, para nós é um prazer colaborar com essas bodas!..” – respondeu com sinceridade, aquele nobre alcaide do America Futebol Clube.
Estes são os meus depoimentos... Nunca pôde nem poderá haver o claro sem existir o escuro..., lembremo-nos disto!
Habemus Stadium! Que na realidade pertence a toda a sociedade natalense, pois foi uma obra concebida e executada por abnegados homens da terra de Poti, para nos servir, receber e abrigar a todos quantos procurarem as suas instalações, para a prática de um esporte tão querido qual o Futebol. Rivalidades haverão sempre. E é bom que continuem existindo para o bem e o viço do nosso amado esporte.

Natal-RN, 23 de junho (um friozinho chocho!...) de 2009.
Gibson Azevedo

sábado, 13 de junho de 2009

Apôis, têje prêso!

“Apôis, têje preso!”
(palavras do nefelibata que prendeu o Comendador)
Quis o destino nos seus imprevisíveis e caprichosos quereres que somente a pouquíssimo tempo eu tivesse a oportunidade de conhecer uma interessante e singular figura humana. Um sujeito folgazão, insinuante sob a égide de um bom papo, franco em demasia, distribui, nas ante-salas da boemia, locais nos quais mantém rotineira presença, o brilho inequívoco do seu caráter e a gostosa mansidão do seu temperamento. Um homem sereno... Trata-se do hoje Advogado Benevaldo Silva Lourenço (o Dr. Bené, de respeitável atuação nos meios jurídicos do nosso Estado). Apesar de ser um homem bom e sem maldades, não é de forma alguma um inocente. Mas, Já foi! Em dias idos, como todo jovem, era um imaturo e despreparado que cometeu, como todos na sua pouca idade, desatinos, destemperos, que seriam indesculpáveis em existências mais maduras. E esses frutos da imaturidade, ele os cometeu...
Seus pais, em décadas pretéritas, migraram com os filhos para o Estado de São Paulo em busca de dias melhores; por lá residiram uns bons pares de anos. Como conseqüência, alguns filhos - os mais velhos -, com eles não retornaram ao Nordeste, precisamente ao estado do Ceará.
O tempo passou e o Jovem Benevaldo já servia o Exército Brasileiro... Por este motivo era muito considerado em sua comunidade. Lembra o bem humorado Bené, que quando comparecia a um “arrasta pé” na sua cidade, não deixavam que ele pagasse despesa alguma. Tratavam-no como se fosse uma autoridade! Dias depois, comunicou ao seu velho pai que estava “dando baixa” do Exército, mas que ele não se preocupasse, pois estava “sentando praça” na policia militar. “- Na puliça, meu fio! Logo lá?” – perguntou surpreso, o velho sertanejo. “- Né milhor você ir pra São Paulo e arrumar um imprêgo, como seus irmãos, Não?” – insistiu com veemência, o experiente cidadão. Nada demoveu Bené do seu intento; ingressou, nos anos setenta, sem dar ouvidos aos conselhos do seu genitor, na gloriosa Polícia militar do Rio Grande do Norte.
O soldado raso Bené, segundo ele mesmo comenta, era enquadrado em demasia, seguindo à risca as ordens superiores; chegou ao ponto de, se encontrasse alguém fardado, sem observar nenhuma diferença na patente, bater continências até para guardas-noturnos...
Tudo parecia correr com tranqüilidade, sem maiores sobressaltos. Entretanto, certa noite, aquele solícito novato, tendo sido requisitado naquele dia a compor o pelotão da Radio Patrulha, cumpria nervosamente o seu plantão, quando o Praça do rádio anunciou: “Vamo, Vamo, vamo!... Pintou sujeira num Cabaré! Avie! Ligue a sirene e toque a viatura pra Zona!”
Quando a rural da polícia estacionou em frente à boate de propriedade de um proxeneta chamado David, na Av. Romualdo Galvão, apareceu uma récua de mulheres dizendo esbaforidas: “que se tratava de um velho que havia bebido muito, mas não queria pagar a despesa”. Ao encarar o suposto bêbado, Bené, querendo mostrar serviço, instava-o a pagar àquela conta... O indivíduo calado, muito calmo, fumava seu charuto como se nada estivesse acontecendo. Foi aí que Bené deu voz de prisão ao velho meliante e o encaminhou para o interior da surrada rural. Não antes de tomar-lhe, bruscamente, o charuto e o apagar com o coturno. “Era só o que faltava, um véio folgado desse, querer fumar, um charuto fedido desses, dentro da rural!... O senhor não tem vergonha, não? Um véio na sua idade, que podia ser meu avô..., vim pru brega, beber e beber..., e depois num querer pagar? Véi fulêro!” – falava indignado, o eficiente meganha.
Ao chegarem à Delegacia o delegado Mário Cabral, um Coronel aposentado, saudou com grande alegria àquele cidadão que ali adentrava: “Meu mestre, meu Comendador!..., a que devemos esta honrosa visita?” O homem não respondeu. Só disse: “quem sabe é esse soldado!” – apontando para Bené. “É o que, soldado! Que estória é essa?” - perguntou o surpreso Coronel. “Delegado, esse Elemento tava no beréu; bebeu, comeu e não pagou; aí..., nós truçemo ele preso.” – respondeu, gaguejando, o recente militar.
O Delegado trêmulo, pois estava mortificado de vergonha e de raiva, determinou: “vá deixá-lo no mesmo lugar onde ele estava; com as nossas desculpas.” “E a conta?” – perguntou o inocente recruta. “Diga ao David que o Comendador pode beber o que ele quiser; e pode botar na minha conta. Amanhã eu posso por lá para pagar. Vai!” – tangeu o delegado.
Ao retornarem ao Quartel de Policia, o Oficial de dia observou que o soldado Benevaldo apresentava sinais de embriaguez, tombando e com um forte hálito de bebida alcoólica. “Êi, soldado! qui parada é essa? Tá Bebo?” – inquiriu com rispidez, o zeloso Oficial. Mesmo com o detalhado relato feito por Bené, inclusive citando que ao retornarem à boate com o comendador, este, o convidou, praticamente forçando-o, a beber várias doses de conhaque de alcatrão e, portanto achava-se isento de qualquer culpa, coisa e loisa, etc., etc., etc.
“Era só e que faltava mesmo! Um mocorongo como você, que não faz nem um mês que “sentou praça”, já chegar para um seu superior, “chêi de mé” e com uma conversar fiada dessas!... Recolha-se ao alojamento, Seu porquêra! Aparece cada uma hoje em dia!...” – vociferou lívido de raiva, o exigente Oficial. O inocente Bené, que na sua estréia quis prender um Comendador, terminou sendo punido com uma semana de detimento – confinado ao alojamento dos Praças.
Para um melhor esclarecimento, o supracitado Comendador não era outro senão: o advogado, o etnólogo, o escritor, o jornalista e acadêmico Luiz da Câmara Cascudo; figura impar da nossa cidade, e, por demais, venerada no nosso País e no Mundo. Mestre Cascudo, com era mais conhecido, era um homem muito íntegro e muito ligado à família – Um homem honrado. Entretanto, como acontece com todo intelectual e boêmio, três dias a cada mês ele reservava para visitar alguns amigos, trocando com eles uns tostõezinhos de prosa; para descer aos recantos saudosistas da cidade que amava; e, por fim, para fazer umas visitinhas às primas do baixo meretrício... Assim era esse homem e assim era a sua terra...
Azar de Bené, que não o conhecia!

Natal-RN, 11/Jun./2009 - Gibson Azevedo da Costa

terça-feira, 26 de maio de 2009

Outro "barulhaço" por nada.

Outro “barulhaço” por nada


Existe uma cidade provinciana e bucólica que tem chamado a atenção das pessoas, ante aos fatos inusitados que por lá tem acontecido. Trata-se da cidade de Palmeira das Antas, que, como todas as cidades sertanejas, têm os seus costumes herdados dos priscos quartéis perdidos no tempo. Assim são os seus hábitos, também com relação aos santos da devoção da coletividade. Naquelas comunidades, é comum o arraigado apego às coisas antigas... Lá em Palmeira consideram-se, por demais, os velhos assuntos e manias. Cito o fato de: o santo Padroeiro daquela pequena urbe, ser, de fato, um santo velho – o São José. Pois, como sabemos, este, quando casou com Maria, já se tratava de um “rapaz velho”; há muito passado, os seus verdes anos. E entre essas coisas novas e antigas, existe também, no referido arruado das Antas, uma co-Padroeira; de prestígio até maior que o já citado e velho santo. Trata-se de Nossa Senhora do “Sucesso”; que reina absoluta em um santuário localizado no topo de uma elevação rochosa, mais conhecida como Monte do Galináceo, de piedosas romarias. O povo de Palmeira e adjacências é muito devoto; e como prova disto, naquele santuário do Monte do Galináceo, existe uma sala só para guardar as réplicas, em madeira ou em gesso, das Graças alcançadas. Esta dependência vive abarrotada destas relíquias... Dizem que todo tipo de deformação poderão ali ser encontradas – aleijões ,aos montes..., até um par de chifres, afirmam os mais afoitos, foi certa vez identificado meio ao monte de adereços das Graças obtidas. Coisas de romeiros!...

Pois bem! Foi nesta Terra onde a santidade, a etérea presença do Divino, se faz naturalmente sentir, que surgiu um herético comentário, no qual, algumas pessoas de destaque das redondezas manifestaram o irrevogável desejo de processar, na Justiça, a toda poderosa Nossa Senhora do Sucesso! Não bastasse o vergonhoso “arranca rabo” que ocorreu a alguns anos, na encenação da Paixão de Cristo, que acontece, todos os anos com destacado sucesso, na via sacra do Monte do Galináceo, durante a Semana Santa!... (Resumindo: um rapaz que representava o Nazareno, estava intrigado – de mal - com um outro, que fazia o papel do soldado Centurião e que o acoitava... Devido àquela querela particular e mal resolvida, os acoites foram aplicados com extremada eficiência, repetidas vezes de forma nada teatral, no lombo do inerme e acuado Jesus Cristo. Ora, aquilo não podia continuar!... Demorou mais alguns instantes..., e ao aproximarem-se de um local do caminho que se encontrava em reforma, Jesus soltou a pesada Cruz de madeira e pegou um porrete no canteiro de obras, partiu – com salvas e vivas dos fiéis - pra cima do seu desafeto, que, ladino, já corria monte-abaixo com uma folgada dianteira. Dizem que Jesus empurrou o bom Cireneu; deu um encontrão em São João; derrubou Nossa Senhora; resvalou no Seu Vigário assustando a “carolagem”, e, naquele malfadado ano, o santíssimo fato bíblico foi resolvido e encerrado na delegacia de polícia.)

Segundo relatos de Berto Paradão quanto ao supracitado processo da Santa, sabe-se que, devido à fama de milagreira, alguns candidatos a prefeito de algumas cidades próximas, como: Nova Bandeira, Frei Marinho, Baité, Pontaí, etc., e que não lograram êxitos nas suas pretensões eleitorais, sentindo-se lesados, entraram na Justiça em busca das devidas reparações; já que haviam feitos beatas promessas à N. S. do Sucesso, e esta, ao que tudo indica, não lhes deu ouvidos. Não se sabe bem o real teor das ações; entretanto, alguns populares, mais fuçadores e especialistas em “assuntos encobertos”, garantem que, tais calhamaços jurídicos, correm pela veia da “propaganda enganosa”, da “reparação por danos morais”..., e por aí vai...

O amigo Jair Diógenes, em suas sábias palavras, declarou, certa vez, que Deus quando Criou o Mundo só Colocou limites à inteligência; para a ignorância, por Descuido, presume-se, Deixou em aberto...

Natal,26/05/2009.
Gibson Azevedo da Costa


PS. – Alguns nomes, senão, os da maioria, foram alterados para evitar os naturais e costumeiros melindres.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Muitos vivas ao acaso.

Mais um causozinho para descontrair... Espero que gostem:



Estava eu, trilhando uma cansativa estrada na árdua procura da ciência, no X Congresso de Odontologia do Rio Grande do Norte, ocorrido de 23 a 26 de agosto último, quando meio à caterva da feira da indústria do citado evento e as representações das entidades da classe, um mundo de colegas a comparecerem aos melhores cursos ou específicos da suas preferências, foi-me apresentado, junto ao burburinho constante destas reuniões, um companheiro do Ceará ligado a farmacoterapêutica - vereda da ciência na qual publicou diversos e oportunos livros. A princípio não passamos de um discreto cumprimento que trouxe a tiracolo um sadio aperto de mãos. Passaram-se as horas e, neste ínterim, fortuitamente, acostumamo-nos com nossas presenças dentro de um mesmo espaço físico.
Dr. João Elias Cunha

A simpatia, sorrateira e discreta, sem avisos veio. Refiro-me ao colega Cirurgião-dentista, das terras Alencarinas, o Dr. João Elias Cunha; também carinhosamente conhecido por "Distinto".

Ele, um sertanejo simpático de aparência de um bom beato, onde a sinceridade - moeda farta, estampada em seu rosto -, disfarça em parte a renitente timidez que teima em acompanhá-lo sempre, só ausentando-se por completo quando o mesmo encontra-se ministrando uma aula ou um curso. De acordo com o testemunho de alguns colegas, João Elias, nestas ocasiões, transforma-se, como se, se servisse de um eficaz mimetismo, em um animal palrador afeito a falações demoradas e rebuscadas, alicerçadas em conhecimentos duramente adquiridos e postulados.
Pois bem, lá pras tantas, como disse, meio a bulha da comunicação dos presentes, ao ciciar das muitas conversas, João Elias apresentou-se súbito diante de mim, olhou-me sem medo dentro dos olhos e perguntou: - caro amigo, você acredita em "comida reimosa"? E complementou brincando com um gracejo próprio dos sertões Cearense: - Ande Tonha!...
Respondi de pronto que tanto acredito em comidas reimosas, como em outras crendices e pajelanças que o meio científico e douto insiste em não aceita-las como verdades. No entanto, sente-se impudicamente incapaz de provar suas assertivas, como era de se esperar que acontecesse. Há de ser talvez a nossa origem sertaneja que nos faz pensar na importância das crendices, dos costumes e dos medos imprescindíveis na sobrevivência e multiplicação populacional nestas hostis regiões de antanho, seiva de epopeicos capítulos na saga dos nossos antepassados.
Devo considerar que a pergunta do João Elias, referia-se tão somente às comidas que causam "pustemas" nas mais variadas parte do organismo humano. É de acreditar que o objetivo era este, todavia, a bem da verdade, gostaria de citar outras que causam os maiores e mais inconvenientes desconfortos e desarranjos: ramos, má triste, istalicidos, colerinas, piriris, bafios podres, bucho inchado, arrotos chocos etc.
Como me comprometi com o ilustre companheiro, entrei em contato com uns aparentados meus que possuem a fama - talvez injusta - de serem catimbozeiros e, com eles fiquei a rememorar, sem pressa, algumas situações e estados mórbidos causados por algum tipo de comida ingerida em circunstâncias pouco recomendáveis. Também, por respeito a essas verdades, devo dizer que o Ser urbano - aquele que nasceu nas cidades, na pseudo-segurança do mundo moderno -, não crê nestes conhecimentos rústicos que, queiram ou não, são o berço da mais avançada medicina moderna e autêntico esteio dos mais civilizados costumes. (Os bichos novos lá de casa - meus filhos - olham zombeteiros e incrédulos para os conhecimentos de sobrevivência dos povos antigos de "lá de nós".)
Elías, Cabra véí, promessa é divida! Estou cá a pagar as minhas. E lá se vão:
* Algumas frutas fibrosas e indigestas como: manga, jaca, etc.
* Comidas de origem também vegetal como: feijão verde, macaxeira, milho e seusderivados..., são consideradas quentes (reimosas) por alguns ciosos sertanejos.
* Todas as carnes de pássaros d’água: marreca, paturi, pato comum, garça,putrião (?). Seus ovos também.
* Dos peixes do mar, só os de couro são considerados "carregados"; já os de água doce, só lembro-me do curimatã que, mesmo sendo peixe de escama, mulheres de resguardo são proibidas de comê-los
* Cisma total deve-se ter pelos "frutos do mar": camarão, ostra, caranguejo, siri,sururu, lagosta, etc.
* Alguns pássaros avoetes como: arribaçãs, nambus, faisões, etc.
* Das aves caseiras só a galinha - limpa por mais de um mês, cevada num chiqueiro -, é que é recomendável a sua ingestão por pessoas convalescentes. (O mesmo não se pode dizer do consumo dos ovos das mesmas: ovos caipira). Já o Guiné - a galinha d'Angola ou Capote, como é mais conhecida em determinadas regiões -, por ser um animal mais rústico também é contra-indicada pra a dieta destas pessoas. Reservas reticentes feitas também ao consumo do peru.
*Algumas caças de animais rasteiros: camaleão, tejuaçu, tacaca, peba, tatu verdadeiro, paca, preá, moco, punaré, etc.
* Todos os derivados da carne de porco ou de javali: bacon, lingüiça, presunto,toucinho e defumados em geral, picados, etc.; e a própria carne de porco. (Óbices feitostambém ao consumo de uma conserva doce, saborosíssima, conhecida com o nome dechouriço, que é feita a base de sangue e banha de porco).
Para encerrar, mesmo ciente que me esqueci de citar algumas importantes comidas reimosas, lembro que o mel de abelha, de conhecidas propriedades medicinais, de benéficos e constatados efeitos cicatrizantes, quando degustado nos próprios favos do exu, ainda quentes pelos efeitos dos raios solares, transforma-se num indesejável vetor das infecções de garganta: amigdalite, faringite..., e mais uma série de "ites" que incomodam sobremaneira.

* * * *
Relatos

Estes relatos são destinados aos que, por quaisquer que forem os motivos, não acreditam que certas comidas possam trazer desconfortantes estados mórbidos aos incautos que inadvertidamente as consumirem. É verdade que nem todos os indivíduos são suscetíveis aos seus nefastos efeitos. Todavia, estes alimentos transmitem-nos por imanência algumas substâncias - protéicas, é provável -, que no contato pouco habitual ao cardápio rotineiro de parcela considerável da população de uma determinada região geográfica, promovem inegáveis transtornos à saúde. Posto que, ficam, estas pessoas, expostas aos eventos de respostas imunológicas ou reações inflamatórias a tais presumíveis, e, estranhas substâncias; mormente haver pouco hábito no seu consumo, dificultou-se as necessárias adaptações digestivas, por grande parte dos seres humanos, ao
longo dos séculos. Espero que estes casos possam elucidar alguns pequenos equívocos. Até porque, as rnais célebres elucidações a alguns famosos enigmas, deveram-se a pacientes observações aos achados estatísticos. Nada ou pouco, custa-nos observarmos mais alguns:

1º- José Estevão do Rego Neto casou-se muito jovem, ainda universitário. Ele e sua digníssima esposa - sempre enamorados -, quando solteiros partilhavam de um namoro “muito acochado". Não deu outra: sucumbiram ao apelo irresistível dos hormônios e “avançaram o sinal”. Sendo ele um jovem de bom caráter, casaram-se imediatamente, passando a morar na casa do sogro. Ficaram nesta situação, sob a tutela dos sogros, até a sua formatura. Estudávamos juntos, na mesma turma; morávamos no mesmo bairro. Certa feita, Netinho, como era mais conhecido, convidou-me a comer na sua casa um peba que seu sogro havia trazido de Pau dos Ferros e que seria torrado por sua sogra - mãos de fada, exímia cozinheira. Dito e feito. No Sábado saboreamos esse regalo dos deuses regado a cervejas e uma boa cachaça, como é bem recomendável. Devo dizer que poucas caças superam o sabor de um peba torrado na pimenta. Memorável! Sabor inesquecível...
O inesquecível e indesejável, entretanto, ocorreria com os primeiros sintomas de infecção manifestos logo na Segunda feira: Senti de inicio, moleza no corpo e enfado forte, parceiros que são dos estados febris. Seguiram-se erupções cutâneas que descambaram para furunculoses em algumas partes do corpo... Completando o quadro degenerativo, surgiu, como por força de mágica, um corrimento gonorréico, decorrente talvez, dalgurna uretrite mal curada e adquirida, certamente, em aventuras próprias dos verdes anos. A cura deu-se com o uso de antibióticos específicos e de largo espectro.
2º- O dileto amigo o Advogado Marcus Marinho, conta que certa vez teve uma reação tão forte a um peba que foi degustado, na sua granja, por ocasião de um seu aniversário, que alem de estourar uma unha de um dos pés, sentiu um inchaço geral que inchou até o seu pescoço. Na iminência de um espasmo de glote, foi obrigado a baixar hospital por vários dias. Segundo ele mesmo afirma, ficou tão assustado com o quadro que nunca mais comeu qualquer tipo de caça.
- Dizem que o peba tem estes poderes deletérios, devido alimentarem-se de matérias em decomposição existentes no subsolo. Afiançam, com segurança, alguns sertanejos, que o peba come até carne de defunto no subsolo de alguns cemitérios. Será por isto? E bem provável que sim. É factível esta suspeita .
Gibson Azevedo da Costa Natal-RN, 19/10/2007.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...