terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Limites da pouca idade.

Limites da pouca idade

Para um ser humano em formação, ainda criança, o tempo não passa. Ô coisa chata! Essa medida inventada, que mais parece um déspota aos olhos dos bichos miúdos, ávidos em crescerem, tornarem-se adultos. Na verdade, existem os impedimentos até para os adultos jovens. Todos nós nos lembramos de situações nas quais ficavam urdidas e postas em prática, mesmo que dissimuladas, descriminações e éramos descartados por conta da existência de uma inevitável imaturidade. Não importava se éramos capazes ou não; a pouca idade condenava-nos inexoravelmente...

Por volta de 1937 do século passado, chegava a nossa cidade, que em nada parecia com a atual metrópole, o jovem médico pernambucano, natural de Olinda, o Dr. Clovis Travassos Sarinho, noviço de uma profissão a qual entregou-se por completo até os seus últimos dias de vida. Veio a convite do Dr. Januário Cicco, Diretor do Hospital de Caridade Juvino Barreto, assumindo a Chefia de Clínica Cirúrgica e teve como colaborador o Dr. Múcio Galvão, na função de anestesista. Depois atendeu ao convite, do insigne colega o Dr. Varela Santiago Sobrinho, para trabalhar no Instituto de Proteção e Assistência da Infância do Rio Grande do Norte – hoje, Hospital Infantil Varela Santiago. Naquele hospital, o Dr. Sarinho trabalhou como cirurgião infantil por longos quarenta anos. Ajudou a fundar a Faculdade de medicina de Natal, sendo dos seus primeiros catedráticos. Também fez parte da iniciativa de fundar o hospital do câncer. Junto com outros próceres do seu tempo, fundou a Policlínica do Alecrim, assim como, o Hospital São Lucas – atualmente, referência nas cirurgias cardíacas. O Dr. Sarinho exercia a medicina por vocação e nunca a cantilena do mercantilismo o seduziu. Quando faleceu em 1994, possuía uma família criada e educada com dignidade, uma casa que lhe servia de residência e um automóvel com alguns anos de uso. Fora isto, só a justeza de caráter que lhe rendeu admiração dos colegas e de resto, de todo o povo desta Taba de Poti. E hoje, com muita justiça, dá o seu nome ao Serviço de Pronto Socorro do maior hospital do nosso Estado: o Hospital Walfredo Gurgel. Clovis Travassos Sarinho, figura maiúscula, digno das mais altas honrarias... Natal lhe fez justiça.

Entretanto, no começo não foi assim. O recém-formado de 25 anos de idade chegava a Caicó, depois de ter clinicado por um ano na cidade de João Pessoa-PB, convidado, que foi, para fazer parte do corpo médico do recém-construído Hospital do Seridó – o mais antigo hospital do interior do nosso Estado. Muito jovem, ainda com uns poucos aspecto de menino, encontrou nas primeiras semanas, apesar do seu invejável currículo acadêmico, dificuldades quanto a sua credibilidade profissional junto à população daquele município. Ninguém queria se operar com aquele menino. Preferia esperar uma oportunidade para submeterem-se aos cuidados do Dr. Medeiros, cirurgião conhecido e respeitado, decano daquela região. E teria permanecido assim por muito tempo, até que a figura do novo médico se tornasse um pouco carcomida, dando-lhe a veneranda confiança, não fosse por um fato inusitado que ocorreu à época naquela cidade.

Em todos os arruados do Seridó existia, um ou mais, abilôlados de plantão que surgiam, provavelmente, devido aos cruzamentos entre parentes próximos, existentes no passado, sem a observância dos riscos destes himeneus consanguíneos. Caicó não seria diferente! Existia deambulando por suas ruas um louco manso e divertido, que era muito querido pela população daquele município e redondezas. Certo dia notou-se a ausência daquela figura, por dois dias, nos lugares que ele costumava frequentar. Procuraram saber o motivo e descobriram que o mesmo se encontrava prostrado, muito doente. Levaram-no ao hospital e, na ausência do Dr. Medeiros que se encontrava fora do município naquele dia, o caso caiu como luva na sala do jovem Dr. Sarinho. Este, o examinou e vendo tratar-se de um caso de urgência, adentrou-o à sala de cirurgia e de imediato extirpou-lhe o apêndice. O caso espalhou-se depressa e trouxe-lhe inevitavelmente a bem-vinda fama. Dizem que, passado alguns dias, o doidinho andava por todo centro de Caicó, batendo na barriga e dizendo:

“Quem me operô foi o dotozim!” “Oi aqui!...” - E exibia a cicatriz em perfeita e completa recuperação.

Ora, depois de uma propaganda gratuita e isenta como aquela, o jovem cirurgião assistiu pela primeira vez formar-se uma fila à frente da sua sala. Sua fama logo chegou a nossa capital e no ano seguinte, recebeu o convite do grande Januário Cicco para fazer parte do Corpo clínico do Hospital da Caridade Juvino Barreto – o primeiro hospital de Natal.

Para cá se deslocou o jovem Clovis Travassos Sarinho ao final da década, tomou casa e criou a família; trabalhou sem descanso e tornou-se um dos mais ilustres natalenses. Um grande Homem!

Que descanse em paz.

Natal-RN, 20 de janeiro de 2011.

Gibson Azevedo da Costa.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Desabafo


Certo dia, com intuito de me provocar, já que me considero (e algumas pessoas têm ciência) um poeta bissexto, o meu dileto amigo - um irmão que escolhi -, Antenir de Oliveira Neves, atiçando a minha ira, sem cerimônias comentou, que a minha poesia era de uma expressão decadente...; diria mais, que estava morta, etc. , etc. Mortificado fiquei então, e, como uma Fênix, ressurgi violentamente lépido no pensar, e minha lira cantou altos brados de protestos: - aqui me encontro!... Não morri! Posso até ter fenecido, mas não morri... E posso provar! Ora, quando apresentei o meu desagravo poético ao citado amigo, este, sorriu feliz e, maroto, comentou: “- o meu objetivo foi atingido. Isto é você novamente... “

Aí está:


Desabafo


Falso Juízo à minha Lira...

Tipificam-na, sem escrúpulos, de: “Doente”,

Decadente na essência e na origem,

Fuligem de sandices que ao acaso

Medram...

Haveria justeza neste pensar?

Quem dera!...

(Pondera de pronto, minha vontade).

Deveras, ponho “Justas” àquele Julgar:

Anseio o dia, incerto talvez,

Que meus olhos poetas vejam...

E sintam...

Coisas que a muitos encantem...

E que meditem..., devagar,

Tresloucados de verdades

Com tal canto duradouro...

(Isento de bazófias e dizeres douro...)

Que, porém não alcançarão, decerto,

Aos que julgam-na decadente;

Incapazes, que são, de ouvir

O sussurrar inequívoco das Musas!...

(Assim espero. Talvez, em mais dias,

Aconteça...)


Natal-RN, 01/Mar./ 2007.

Gibson Azevedo – poeta.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...