quarta-feira, 25 de maio de 2011

Olfato de fera - soneto.


                                 Olfato de fera – soneto.
         
               Aqui vai, caríssimos leitores, uma poesia de minha lavra que me ocorreu logo após uma amiga, de encontros fortuitos, ter-se indignado com outra peça minha, na qual, eu enaltecia o amor carnal como uma forma pura de relacionamento humano e, consequentemente, de preservação da nossa espécie. Visto ter causado tantos protestos, incontáveis queixumes, julguei necessário reafirmar o predito; só que, desta vez utilizei uma das formas mais antigas de poesia: o soneto.


        

                       Olfato de Fera – Soneto


   Ledo engano... Se cuidei ser de bom fado,
   Num amasso de poesia, demonstrar...,
   De relance, um vate louco declamar...
   Em delírios, um amor simplificado.

      Tal revolta, não havia imaginado
      Nem que arenga se pudesse suscitar...  
Se algum outro argumento condenar,
Ignoro, de outro jeito, ser amado.

Pois que a força infalível e carnal,
Deixou rastros: digital que é só sua
- Passos vagos de mulher -, a deusa nua:

Um dengo de fera, mulher canibal...
Que aos machos sensitivos, se insinua,
                                             Num lupino caminhar..., à luz da lua!




                                                      Natal-RN, 19/ Nov./ 2007
                                                         Gibson Azevedo - poeta

quinta-feira, 19 de maio de 2011

As rosas não falam ( ato II )


               ...Certo domingo, por aqueles dias, na vizinha cidade de Jardim do Seridó, quando as famílias daquele arruado reuniam-se na praçinha após os ofícios religiosos da Igreja próxima, aconteceu o inusitado. Ali, naquele rotineiro ajuntamento de pessoas, punham-se os assuntos em dia, revigoravam-se as amizades, renovavam-se as promessas de namoro, e nos namoros, vislumbravam-se os casamentos. Naqueles momentos, a pequena cidade, álacre, pulsava viva... Eram, contudo, pessoas pacatas, 
 de espíritos desarmados.
               Pois bem, ali mesmo, no meio do povo, surgiu inesperadamente uma figura por eles desconhecida. Estava visivelmente embriagado, topando a todo o instante nos limites do desacato.
              - Quem é esse sujeito? – perguntavam alguns.
              - Parece que é de Caicó – respondiam sem firmeza.
               As conjecturas iam sucedendo-se, quando aconteceu o infeliz desfecho: o celerado, dando mostras de estar possuído por alguma entidade do mal, desabotoou a braguilha da calça expondo sua enorme genitália, e, para completar o desplante, balançou-a para que todos a vissem; e cantarolou um sambinha carnavalesco, sucesso por aqueles anos, que dizia mais ou menos assim:
                “Balancei a roseira..., balancei a roseira
                  E a rosa caiu... , caiu, caiu...
                  Rosas têm espinhos, rosas têm espinhos,
                  Rosa me traiu!..."
                  É desnecessário dizer, que os homens presentes àquele trote fulo, a princípio pasmos, ficaram alguns instantes sem ação; porém, logo a seguir, partiram para moê-lo à pancadas. Aqueles momentos de indecisão – surpreendidos como ficaram, os incrédulos cidadãos – foram, todavia, suficientes para o safado subir habilmente na sua lambreta e partir em disparada, deixando-os frustrados na sua raiva, por não terem aplicado um corretivo exemplar ao moleque que ultrajou o pudor de suas mulheres e de suas crias.
                 Contudo, não escapou das garras do Judiciário. Pois foi processado criminalmente no devido tempo.
                 Esse homem era Jessé! É inacreditável que um dia isto possa ter acontecido, mas é a pura verdade.


Natal-RN, 19 de maio de 2011.
Gibson Azevedo.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

As rosas não falam.








                        As rosas não falam ( ato I )


                  ...A grande maioria dos jovens caminha para a idade adulta, desvencilhando-se naturalmente das manias e condutas reprocháveis; sendo animadoras as expectativas de crescimento evolutivo do espírito humano. Entretanto, não ocorre sempre... Nem são todos, os herdeiros dos bons costumes. Alguns perduram maus..., permanecem amorfos; tornam-se inconvenientes, anti-sociais contumazes, de presenças indesejáveis.
                   Assim acontecia com Jessé! Jessé de Dona Rosa, como era mais conhecido. Era um sujeito de estatura mediana, moreno magro, de cabelos lisos, soltos, penteados para trás à força de muita brilhantina, bigode fino. Era míope... Sendo ele, um retrato fiel do indivíduo desleixado com a aparência; vivendo sempre de bermudas, e a  camisa ele só a abotoava os últimos botões, deixando a nu um peito magro e desprovido de pelos. Também não caprichava no asseio pessoal..., faltava-lhe índole.
                   Dominava, entretanto, como poucos, a mecânica. Sendo um exímio mecânico de lambretas e posteriormente de motocicletas. Gozando, por isto, da simpatia de pessoas da classe média, pessoas influentes, proprietárias daqueles pequenos veículos. Por outro lado, habituara-se, quando fora do horário de trabalho, a dar alterações em todos os ambientes nos quais circulava – em uma Caicó dos anos sessenta, castiça e respeitável na fé da sua população em Sant’Ana, padroeira do sertão. Ele era dono de um humor estranho, sendo perverso com as crianças. Tinha o hábito de dar cascudos no cocuruto dos meninos que, desavisados, transitavam a calçada da sua oficina. Era, por vezes, socialmente inconveniente, e, não raro, envolvia-se em questiúnculas só resolvidas com a presença da polícia ou de pessoas importantes.  Sua vida permeava-se de momentos hílares, principalmente aqueles desavergonhadamente voltados para o deboche. Sentia-se à vontade no carnaval, em comícios, passeatas, em frente a circos e no cabaré. No carnaval era, presença garantida no tradicional corso; ele todo sujo de pó de arroz, com um apito irritante no escape da sua lambreta. Nos outros locais já citados, transitava com a mesma irreverência: largo, espaçoso e tudo o mais. Na zona do baixo meretrício, aí sim! : sentia-se em casa. Tendo por algumas mundanas, afagos e mimos, declarado apreço. Deleitava-se na sonoridade e no lusco-fusco das boates.  Sentia uma estranha magia naqueles ambientes degenerados e decadentes. Gargalhadas à solta, à toa. O tilintar de copos no esfumaçado dos salões, caricaturas de sapateados ao som de reles músicas de inspirações bizarras, faziam-no delirar intimamente, embora não deixasse transparecer. Sempre fechado, taciturno.
                   Esse sujeito marcou época... Fora da sua oficina, era um pára-raios de problemas!  ...  

 (Continua...)

Natal-RN, 12de maio de 2011.
Gibson Azevedo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Quatrocentos mil acessos - (bardeferreirinha@gmail.com).





           Aos amigos Roberto Fontes e Clóvis Pituleira, envio um forte abraço neste dia no qual alcançaram a respeitável marca dos quatrocentos mil acessos, com aquele simpático e descontraído blog, que bem enaltece as particularidades - e mesmo, as manias - das pessoas da nossa querida Caicó. Assim sendo, homenageio-lhes com uma humilde décima, fruto do meu pensar ronceiro e bronco. É sincera, no entanto! Sintam-se abraçados.

                    
                    (Quatrocentos mil acessos)



Recolheram alguns sucessos
No meio de alguns gaiatos,
Deturpadores dos fatos:
“Quatrocentos mil acessos!...”
Escaparam dos processos,
Das pragas de esconjurar...,
Tiveram que desatar
Os nós de encruzilhada,
Com muita pinga e buchada
E fuleiragens no ar!


                       Natal-RN, 10 de maio de 2011.
                           Gibson Azevedo – poeta.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Torcer é jogar sozinho...



                               Não sou abcedista, sou verdão, o meu Alecrim! Sei o que é sofrimento por conta de uma paixão futebolística. O meu filho, Diego Ivan, torce pelo ABC, e quando as pelejas daquela tradicional equipe não terminam em bom êxito, vejo a tristeza estampada no rosto da minha cria. Bate-me o banzo, também. Não tem jeito!... Em homenagem a este meu muito amado filho, fiz, certa vez, esta singela décima que ora vos mostro, com muito orgulho:
                          
                               (Torcer é jogar sozinho)

Nos percalços do caminho
Seja de amor ou de morte,
Na paixão ou no esporte:
Emoções em desalinho...
Se depuram como vinho,
No seio da intimidade...
Com fervor, com liberdade,
No compasso da paixão,
No bater do coração
De um ABC de verdade!...


                               Natal-RN, Out./2007.
                             Gibson Azevedo – poeta.
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