segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Observando o personagem.





                                                      Observando o personagem

                                Dia destes, observei a caricatura com a qual o meu amigo e colega Reinaldo Azevedo brindou-me, e, de forma indelével, rabiscou a minha fisionomia de homem maduro. Sempre me impressiona a facilidade que certos artistas têm, de captarem as formas que caracterizam uma pessoa, por vezes deformando-as, como no caso dos cartunistas, sem, no entanto, fugirem dos traços principais que formam os caracteres basilares que lembram, sobremaneira, à fácies do objeto humano em questão. 
Observando o personagem
                          Reinaldo é este artista multifacetado que se enveredou no mundo da arte através da música, da pintura, da gravura, da pirogravura, da escultura, da caricatura, do desenho e mais umas tantas proezas artística de homem criativo e perfeccionista. Natal, a tempo, vem reconhecendo o seu valor artístico. É tanto que, nesta semana, quinta feira, dia 27 às 19.30 horas, o Programa “Memória viva”, da TV Universitária (programa de entrevista com pessoas de destaque), com oportuna justiça e felicidade, escolheu o Dr. Reinaldo Azevedo para ser o alvo do entrevistador Tarcísio Gurgel e amigos, nesta já conhecida e tradicional sabatina televisiva. Imperdível! É ver e conferir.

Natal-RN, 24 de setembro de 2012.
       Gibson Azevedo - poeta.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Para os poetas o tempo é um detalhe



                    Para os poetas o tempo é um detalhe(parte II)

O poeta Ronaldo na idade madura
...Somente a partir da ciência destes acontecimentos, eu entendi o afastamento sem justificativa daquele jovem poeta do programa “ O céu é o lime”, no comecinho da década de setenta. Aqueles verdugos jamais deixariam uma, de suas vítimas, adquirir notoriedade nacional e, talvez, colocar em xeque aquele arremedo de governo que se instalara na nossa nação, à revelia da vontade livre do nosso povo.  (Entretanto, a justiça do acaso se fez sentir, quando aquele ultrajado cidadão foi, anos depois, reconduzido à prefeitura de Campina Grande; depois ao governo do Estado da Paraíba e em seguida tornou-se Senador da República, pelo mesmo Estado. No final de sua vida ele enfrentou algumas adversidades de cunho pessoal que reputo desnecessário comentá-las.)

Para demonstrar o caráter deste homem, companheiro inseparável, imanente da justiça e da liberdade, é justo citar o caso que aconteceu com ele à época  recém-formado em direito, quando alguns rapazes fazendo uma tradicional serenata , muito comuns nos períodos das férias escolares, por volta de mil novecentos e cinquenta e cinco, foram surpreendidos pela polícia militar que os prendeu junto com um violão. Resultado: foram logo liberados, como não podia ser de outro jeito, mas, o criminoso violão ficou preso às garras da justiça nas dependências da cadeia pública. Os rapazes entraram em contato com o Dr. Ronaldo com o intuito de reaver o instrumento musical. Daí foi que surgiu uma famosa petição nos meios jurídicos e poéticos com o título de Habeas Pinho, que transcreverei logo abaixo com muito gosto, como também a decisão judicial feita pelo juiz Roberto Pessoa de Souza, também poeta, que despachou em forma de soneto.
Vejamos:

Senhor Juiz.
Roberto Pessoa de Sousa

O instrumento do “crime”que se arrola
Nesse processo de contravenção
Não é faca, revolver ou pistola,
Simplesmente, Doutor, é um violão.

Um violão, doutor, que em verdade
Não feriu nem matou um cidadão
Feriu, sim, mas a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade
O crime a ele nunca se mistura
Entre ambos inexiste afinidade.

O violão é próprio dos cantores
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam mágoas que povoam a vida
E sufocam as suas próprias dores.

O violão é música e é canção
É sentimento, é vida, é alegria
É pureza e é néctar que extasia
É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório.
Mas seu destino, não, se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.

Ele, Doutor, que suave lenitivo
Para a alma da noite em solidão,
Não se adapta, jamais, em um arquivo
Sem gemer sua prima e seu bordão

Mande entregá-lo, pelo amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno acoite
De suas cordas finas e sonoras.

Liberte o violão, Doutor Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado
Derramando nas praças suas dores?

Mande, pois, libertá-lo da agonia
(a consciência assim nos insinua)
Não sufoque o cantar que vem da rua,
Que vem da noite para saudar o dia.

É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento
Juntada desta aos autos nós pedimos
E pedimos, enfim, deferimento.


A liberação do instrumento musical:


Recebo a petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no Cartório, um violão.

Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,
É desumana e vil destruição
De tudo que há de belo no universo.

Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte á rua, em vida transviada,
Num esbanjar de lágrimas sonoras.

Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de luz, plena madrugada,
Venha tocar à porta do Juiz.
              Roberto Pessoa de Souza.
                        João Pessoa – PB.


Natal, 10 de setembro de 2012.
        Gibson Azevedo – poeta.






   

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Para os poetas o tempo é um detalhe.



                                  Para os poetas o tempo é um detalhe.(Parte I)

                       Já faz alguns dias, na verdade mais de mês, da morte do poeta nordestino Ronaldo Cunha Lima. Não nos custa fazer uma pequena avaliação da sua vida, já que a emoção do seu encantamento inevitavelmente esmaeceu, para estabilizar-se aos níveis da normalidade. Assim sendo, sentimo-nos mais confortável para tecer-lhe algum comentário, distante dos arroubos de louvações de corpo presente e dos réquiens (“dai-lhes o descanso eterno”), naturalmente dedicado aos mortos ilustres. Longe estamos, cada vez mais ficando, de suas exéquias, e assim, como nos afastamos instintivamente para melhor observarmos a dimensão, a beleza, a real aparência de algum monumento grandioso, também, na medida do aumento da distância desde o dia que ele se foi do nosso convívio, podemos sentir a real estatura do poeta da Borborema. Grande homem!
Material de propaganda eleitoral.
Recordo que ao chegarmos a Natal, advindos da região do Seridó, no finalzinho da década de sessenta, na nossa casa, como na grande maioria das residências dos natalenses, não havia aparelho televisor. Isto só viria a acontecer, por ocasião dos jogos da Copa do Mundo de Futebol, no ano de mil novecentos e setenta. A partir daí tínhamos, diariamente, acesso a programação de TV Jornal do Comércio da cidade do Recife, grande Meca para os nordestinos de então. A grande Mauricéia espargia cultura a todos os recantos do Nordeste brasileiro. E não podia ser diferente, pois foi naquela cidade que se inaugurou a primeira faculdade de Direito do nosso país. Foi berço de grandes juristas e poetas, e onde prosperou as primeiras idéias de liberdade nos primórdios da nossa nação.  Pois bem, recebíamos o sinal daquela emissora de televisão e, através dela, tínhamos  acesso aos programas de entretenimento criados e difundidos desde são Paulo e Rio de Janeiro, no centro-sul do país. Dentre os tais programas, existia um de perguntas e resposta, de muito sucesso, de nome “o céu é o limite”, apresentado pelo famoso animador Jota Silvestre.  
Programa "O céu é o limite".
 Logo que eu assisti aos primeiros citados programas, me inteirei da participação de um jovem Senhor nordestino chamado  Ronaldo Cunha Lima que, sendo poeta, respondia sobre a vida e a obra do maior poeta sonetista da literatura brasileira, o também paraibano Augusto dos Anjos.  Era uma maravilha, ver aquele moço responder, à maioria das vezes em versos - quadras ou sextilhas - as questões que lhe eram perguntadas sobre a vida e a obra daquele grande poeta. O “Eu”, único livro publicado por Augusto, era semanalmente esmiuçado - no bom sentido - por aquela sabatina cultural. A alegria ia de “vento em popa” quando, subitamente, sem maiores anúncios, aquele segmento destinado ao entrevistado Ronaldo deixou de existir. Assim..., como se nunca tivesse existido. Este fato logo gerou muitos buchichos, e foi através destes que eu me aproximei da verdade sobre a vida de Ronaldo Cunha Lima.  Ele, um jovem advogado, havia sido eleito prefeito de Campina Grande, uma das maiores cidades do interior do nordeste brasileiro, vinha fazendo uma administração exemplar frente ao executivo daquele município, voltada explicitamente para as camadas menos favorecidas da população, quando foi colhido pela violência do truculento regime implantado por um desnecessário “golpe de estado”, uma verdadeira “quartelada”, ocorrido no ano de mil novecentos e sessenta e quatro, fato que jogou por terra todas as prerrogativas constitucionais, anulando, no nosso jovem país, todo tipo de direito. Era a barbárie!... Iniciava-se  o período ditatorial – ditadura militar... (Continua...).

Natal-RN, 10 de setembro de 2012.
        Gibson Azevedo - poeta.


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