segunda-feira, 30 de julho de 2012

A herança de Natal.

Natal, além de acolhedora, é uma cidade belíssima que encanta a todos que a visitam(Ponta Negra à noite).


                                               
                                        A herança de Natal
                        
                       Dia destes, ao folhear o jornal diário e matutino Tribuna do Norte, da cidade de Natal – RN, na coluna do jornalista Woden Madruga, deparei-me com uma glosa do poeta Aurino Araújo, com a qual fazia severa crítica ao desempenho da atual administração municipal sob a batuta da alcaidessa Micarla de Sousa, e cujo resto de mandato teima em acontecer a passos de tartaruga – lentos e enfadonhos. A nossa população esta ansiosa para vê-la desaparecer de cena. E haja paciência!
Situação atual da nossas belas praias - um verdadeiro descaso.
                        Aproveitei o mesmo mote do poeta Aurino Araújo "Sem o belo calçadão/ com buracos e crateras”, e meti também o meu bedelho sobre o resultado das administrações de "faz de contas", que de maneira continuada, desastrosamente,  tem nos gerido. Natal precisa buscar coisa melhor do que esta choldra de mesmices que, ano apos ano,  mandato após mandato se repete desavergonhadamente.



Mote:
             Sem o belo calçadão
             Com buracos e crateras.
Glosa:
              De misérias, em petição,
              Pois são obras “sonrisal”,
              Vejo as praias de Natal,
              Sem o belo calçadão.
              Foi levado de roldão
              Qual enfeite de quimeras...
              Prefeita, se adulteras,
              A firmeza destas obras,
              Natal vai ficar com as sobras:
              Com buracos e crateras!

               Natal-RN 30 de Julho de 2012.
                       Gibson Azevedo – poeta.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Pirarucu (2ª parte).



                                                       Pirarucu(2ª parte)

  

Pirarucu, alguns chegam a alcançar quase três metros de tamanho.
               O Nordeste brasileiro sofre de tempos em tempos os efeitos terríveis do flagelo da seca, que, não obstante apresentar-se de forma episódica, encorpa também certa sina cíclica, espalhando a desgraça e a miséria nestes períodos sinistros onde o capital amealhado à duras penas, com enormes sacrifícios, é bestamente destruído penalizando alem do homem com a terrível devastação nas terras herdadas dos seus ancestrais, penaliza também a própria natureza, subtraindo-lhes a fauna e a flora. Por conta da insegurança causada por essas tramóias perpetradas pelo nosso clima, é que  o nordestino optou por cultivar espécies vegetais mais resistentes aos climas secos de solos áridos. Da mesma maneira o fez com animais mais adaptados como os caprinos e o gado mestiço (bovinos). No entanto, ao assumir tal conduta derrubou as matas nativas, onde existiam plantas naturalmente adaptadas as intempéries do clima de pouca densidade pluviométrica, como:  xique-xique, mandacaru, cardeiro, coroa- de- frade, bromélia, oiti, facheiro, trapiá, macambira,faveleira,carnaúba, craibeiras, pereiro, oiticica, juazeiro, mofumbo, jurema-preta, etc., tec., etc., deram lugar a descampados destinados a criação de animais e a imensos roçados, de vulneráveis monoculturas, satisfazendo a ganância do lucro fácil, no plantio e benefício do ouro branco – o algodão.   
A pesca predatória quase o leva a extinção, mesmo no Amazonas.
                 Desmatou-se o solo tanto para abrir os espaços, quanto para utilizar a madeira como fonte de energia de uma indústria incipiente movida a máquinas a vapor.  Parte dela foi transformada em carvão para alimentar pequenas fornalhas. Outra parte foi utilizada como material de construção. De sorte que, o nosso solo já há muito erodido transformou-se, incapaz que ficou de captar e absorver as parcas e erráticas chuvas, em paragens desérticas sujeitas à ação nefasta dos ventos alísios, das virações. Quando sumiram nossas matas nativas – substituídas, que foram, por monoculturas que feneceram sob o ataque de pragas terríveis, para as quais todos os esforços despendidos em seu combate se mostraram  ineficazes – secaram nossos rios, barreiros, lagoas, açudes e barragens. Alguns deles tornaram-se esgotos fétidos e sem vida, cheios de dejetos industriais nocivos e venenos terríveis, usados na lavoura por homens ignorantes e, portanto, despreparados. E assim, completando este quadro de tristeza, morreram ou afastou-se do nosso convívio a maioria dos nossos animais, principalmente- é desnecessário dizer – os aquáticos.





                             No meio destes, sumiram do Seridó os impressionantes pirarucus...







                                     Natal-RN, 23 de julho de 2012.
                                                       Gibson Azevedo - Seridoense.                 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Façanhas de Belarmino.

              

               Recebi, via blog bardefereiriha, o convite do poeta e confrade Jesus de Rita de Miúdo, seridoense da cidade do Acari,  bom sujeito e bom de rima, no qual solicitava a minha ajuda para concluir uma estória por ele começada e esticada nos meandros da literatura de cordel. Trata-se  de mesuras e  louvações, feitas à fama de valente de um “cabôco” encapetado conhecido por nome de Belarmino, que, entre uma bravata e outra, detalhava as peripércias da brabeza de citado falastrão, que por estas,  e por ser seridoense, deve ser parente próximo de Ojuara, personagem do escritor Nei Leandro de Castro.

                Atendi ao apelo de Jesus e, com muito gosto, conclui as referências feitas ao valente Belarmino,  procurando botar os pingos nos is, acompanhando irmanado e de forma escorreita aos dotes da verdade, até ao fim desta poética empreitada.
Observem:
                                Cordel pra Gibson Azevedo continuar

              Mais uma de Jesus de Miúdo, poeta acariense, devoto de Da Guia, blogueiro e leitor deste Bar.
              Detalhe: depois da inspiração, Miúdo cutucou o cão com vara curta.
E desafiou Gibson Azevedo a continuar a peleja.
              Confiram:

A deixa foi a seguinte, Roberto: outro dia imaginaram um cabra valente, um tal de Belarmino, que estava numa festa rodeado de amigos e muita rapariga. Isso tudo no cordel. Aí, um desses seus queridos era surdo-mudo. Então uns cabras metidos a valentes chegaram pra arrumar confusão. Um dele escorou o pobre do surdo-mudo na ponta de uma peixeira.Nisso o poeta me perguntou: “Jesus, continua a festa para nós? Agora tem que meter o diabo pelo meio, senão não é cordel.”
E eu lá sou de correr da raia? Então... 

Façanhas de Belarmino ( ato I).
"O Cramunhão uma das vítimas de Belarmino."

 Belarmino sem besteira
Do mudo tomou as dores
Pulou na frente da arma
Dizendo "Atenção senhores,
Isso até parece karma,
Mas peixeira não me alarma
Não me venham com clamores".

Com os membros superiores
Deu tapa, murro e puxão
Pegou o cabra no meio
Jogou o pobre no chão
E sem nenhum aperreio
Sendo mestre em manuseio
Amarrou-lhe de cinturão.

Lhe chamou a atenção
Um cabra forte e careca
Que se levantou dum pulo
E agarrou-lhe a munheca
"- Belarmino não engulo,
Boa briga, não simulo.
Vou deixá-lo é de cueca".

Belarmino bem sapeca
Deu um passo para trás
Soltou-se do cabra forte
Chamando-lhe de satanás
"- Você perdeu foi a sorte,
Inda hoje encontra a morte
E não briga nunca mais."

Nesse instante, aliás
Deu no cabra uma rasteira
O sujeito voou alto
Caiu sobre uma cadeira
Belarmino noutro salto
Jogou-lhe fora, no asfalto,
Nosso herói é capoeira.

Escutou uma zoeira
Virou-se pra ver quem era
Um galego da voz rouca
E da cara amarela
"- Comigo a conversa é pouca,
Dar-lhe-ei uma surra louca,
Eu hoje 'tou uma fera!"

Belarmino sem espera
Deu-lhe um soco na barriga
Rodou a perna direita
Encaixou-lhe na bexiga
E sem nenhuma canseira
Porém da mesma maneira
Jogou-lhe fora da briga.

Foi assim nessa cantiga
Que um caboclo entrou
Na roda que se formara
"- Berlamino, me chamou?
Vou dar nessa sua cara,
pois 'tou feito uma arara,
Uma surra hoje lhe dou."

"- Ainda não apanhou?"
Lhe perguntou Belarmino
"- Encontrou o homem certo.
Corra aqui, não sou menino
Venha cá, chegue pra perto”.
E num único golpe certo
Pôs no chão o tal cretino.

E assim foi o destino
De quarenta e cinco ou mais
Que ousaram na valentia
Desafiar o rapaz
Porém, o tempo perdia
Quem entrava na arrelia
Só apanhava demais!

Foi quando lá por detrás
Ouviu um tiro assombroso
Na terra abriu um buraco
Saiu dele um horroroso
"- Belarmino, seu macaco,
Vou arrancar-lhe o saco,
Saiba que sou o Tinhoso."

Belarmino, que é manhoso
Fez logo o sinal da cruz
Deu dois passos para a frente
Disse: "- Valhei-me, meu bom Jesus!
Vou pegar esse doente,
Arrancar dente por dente,
E ao Pai vou fazer jus."

E na rapidez da luz
Belarmino sem tabu
Como arranjou, eu não sei
Uma vara de bambu
E feito um cetro de rei
Sem importar-se com a lei
Meteu-lhe a vara no cu!

"- Socorro, pai Belzebu!"
Gritou com a dor o diabo
Com a língua toda pra fora
E com a vara toda no rabo
Belarmino nessa hora
Deu-lhe um soco, sem demora
Os dentes foram a cabo.

"- Tinhoso, tu não é brabo?
Quero ver escapar desta
Tome um chute no focinho
Pegue um tapa em tua testa
Vai-te embora de mansinho,
Nunca mais volte, corninho,
Pr'atrapalhar minha festa." 


Aqui entrego para Gibson Azevedo complementar a estória.

                                         Jesus de Rita de Miúdo  - poeta.

Façanhas de belarmino(ato II).
A mulher de belarmino na espreita, esperando-o

Belarmino era assim mesmo...
Era um siri numa lata,
Gostava de valentia,
De briga estava à cata.
Se há brabo neste mundo,
Ali mesmo, num segundo,
Ele empurra e desacata.

“Chegue perto se for homem”
“ Prêu”rasgar seu ás-de-copa”
“Você metido a parrudo”
“Hoje um macho você topa”
“Surro-lhe o lombo e a pança”
“Acabo com a “embuança”
“E dou fim a sua tropa”

“Bato bem em cabra grande”
“Que a queda é bem maior”
“Quando eu mando um recado”
“Eu já escolho o menor”
“Se aviso uma rapariga”
“Que com ela eu quero briga”
“Um nanico é o portador”

“Agora, pra trocar tapa,”
“Brigar de faca peixeira”,
“Não escolho dia, não!”
“Do domingo à sexta-feira,”
“Quanto mais for afamado,”
“Eu lhe corto os badalos”
“Que ele vira uma rameira!”

“Se você não acredita”
“Corra dentro e me ataque”...
“Mas se prepare fanchone”,
“Que na briga eu sou um craque.”
“Se empine pra cima de mim,”
“Pra decorar o que é ruim”
“E ver o tamanho do baque!”

É assim que esse valente
Se comporta pela rua,
Mas a estória é diferente...
De tanto medo, ele sua,
Quando vai voltar pra casa,
A valentia defasa,
A brabeza se atenua.

Lembra logo da mulher:
Uma onça, essa sim!
“- Diga logo onde cê tava
Cabra frouxo..., bicho ruim!
Tava contando vantagem
No “mêi” da raparigagem...
Você me paga bichim!...

Só de lembrar dessa cobra,
Zanha e de arma na mão,
Batendo no pé da porta
Com o pau de macarrão,
Belarmino muda o tom,
De branco fica marron,
Fala fino o valentão:


“O que é isso meu amor?”
“Cê num sabe que eu te amo?”
“Meu bem eu sou seu escravo...”
“De meu tesouro lhe chamo.”
“Tendo prato sujo eu lavo...”
“Se precisar varrer, eu varro,”
“Na sua beleza eu mamo...”

“- Vá mamar na sua avó!...”
“Cabra mole e sem futuro!”
“Até hoje eu não entendo,”
“Como diabo eu aturo,”
“Esse cabra mentiroso,”
“Broxa, velhaco e medroso...,”
“- Ainda lhe capo, eu juro!”


                Natal-RN, 16 de julho de 2012.
                    Gibson Azevedo – poeta.



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Pirarucu (1ª parte).


                                                      Pirarucu (1ª parte)

    

                    Nos caminhos caprichosos do destino por onde temos trilhado, onde vagas lembranças sem um parecer exato, desbotadas, esbatidas, veladas, distantes..., agrupam-se em impensáveis conluios, donde, numa troca de memoráveis e até inconfessáveis momentos, readquire nova alegria cromática, novo viço - virtude das coisas novas. Parece que só nós, os latinos, temos estas características. Ou seja, qualidades saudosistas, emoções súbitas e fortes que, homens opacos e frios de outras culturas, num erro gritante de avaliação, consideram-nas reles pieguices.
                    Daquele mundo afastado e obscuro dos nossos primeiros anos de vida costumamos divisar através de lampejos fugazes, como se observássemos via algumas  entreabertas janelas da alma, um interior um tanto encoberto dos registros arquivados da nossa saga infantil. Adultos..., miramos para dentro de nós mesmos, furtivamente, como se cometêssemos , ao revirarmos as vãs quinquilharias do passado, o pecado dos pecados...  Tão somente por atualizarmos lembranças esmaecidas, guardadas descuidadamente em algum sótão antigo e lúgubre do nosso subconsciente. São coisas que acontecem espontaneamente, quando atingimos, com pouco encanto ou nenhuma graça, a idade madura. Entretanto, apesar disto, nestes momentos a nossa memória funciona a mil, à revelia da ordenação dos pensamentos, indiferente a nossa vontade.
                   É num destes momentos de alheamento – hoje, vivendo os últimos anos da minha quinta década -, que sinto a presença de cenas vividas há tanto tempo. Cenas estas, que mais parecem um “faz de contas” ou que foram histórias criadas e ligadas exclusivamente a outras pessoas. 
Velhas cercas de pedras, hoje restaram poucas.
                 Mesmo assim, vejo-me retornando do Colégio Diocesano Seridoense, onde cursava o ginasial..., o sol escaldante apesar do inverno rigoroso daquele ano, olhando para uma ancestral cerca de pedras (destas cercas, temos poucos remanescentes que sobreviveram ao advento do arame farpado) que se situava ao lado do Colégio, ligada ao Seminário para ser exato. Percebi, com surpresa, que havia muitas mantas de carne que foram salgadas e expostas ao sol, que, desidratando, secavam estendidas naquela pitoresca cerca de pedras. Este processo de conservar alimentos sempre foi muito usado nestas terras ensolaradas desde a chegada dos primeiros colonizadores. Consistia em desidratar totalmente a carne, salgando-a e expondo-a ao sol, de maneira que, depois de secas, acondicionadas, envolvidas e amarradas em esteiras novas de palha de carnaúba, haveria a possibilidade desses alimentos, assim armazenados, serem consumidos de forma saudável, vários meses depois. Todavia, ensimesmado, tentava adivinhar de qual animal seriam aquelas carnes, à mostra, naquele sol a pino. Solicitei a ajuda de alguns colegas mais experientes para satisfazer àquela minha curiosidade e natural impaciência, dos quais recebi a resposta que se tratava de carnes de pirarucu, peixe abundante em alguns banhados das partes baixas dos rios represados, e dos açudes cheios daquelas cercanias, nos idos de sessenta de invernos memoráveis...

                      Natal-RN, 09 de julho de 2012.
                            Gibson Azevedo - poeta.

Ps. Este texto foi escrito em 05 de julho do ano de 2002. Devo também dizer, que o pirarucu é um remanescente pré-histórico, pois este peixe respira tanta na água como fora dela por alguns minutos, e é um peixe tipicamente amazônico, só aparecendo em alguns acudes e rios do nordeste brasileiro, devido uma campanha feita na década de cinquenta pelo Governo Federal, de povoar com alevinos desta espécie os reservatórios de água existentes na citada região.
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