quinta-feira, 26 de junho de 2014

Republico.



                                                                              Acho que republico esses versos...

            Viver “com moderação”

Inventário de vida...
Será que tenho?
Será que posso?
Pra quê, se faço?...
Assim mesmo sou grato,
Por estar vivo e
Gerar vida...
Realizado?
Feliz?
Assim, assim...
Pra que mais?
                                                                                   Recebi em excesso.
                                                                                   E mesmo que eu me vá,
                                                                                   Visto crê em outras vidas,
                                                                                   De viver eu não cesso!

                                                                                 Natal-RN, 18 de outubro de 2012.
                                                                                         Gibson Azevedo - poeta

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Acorda, parceiro!



                                                        Acorda parceiro!


 
Eliezer, grande vascaíno, começando os "trabalhos".
Vida nova, vida velha..., sempre nos surpreendendo... Soube agora! Eliezer já é saudade!... Soube ontem, com evidente atraso, que um velho e especial companheiro nos deixou na quinta feira passada, dando-nos a sensação de que ele saiu da vida material, meio à francesa, assim de fininho, como quem detesta despedidas e os constrangimentos das tristezas súbitas. No entanto, cala-nos fundo a triste sensação de perda, a certeza da sua ausência, talvez eterna, do nosso convívio.
                                            Estávamos neste sábado, eu e amigos, na residência da amiga Inah, aqui no Barro Vermelho, convidados que fomos por aquela anfitriã para participarmos de uma sensacional feijoada, comida que ela, como poucos, sabe preparar com todos os predicados de cozimento e sabores. E naquela oportunidade, no deambular das conversas, estampou-se abrupta a referida realidade fúnebre relativa ao amigo Eliezer. Ele havia partido... E talvez para superar àquela tristeza instantânea, inesperada, ficamos a relembrar algumas passagens da sua vida de boêmio partilhadas no nosso convívio...
                                          Encontrávamo-nos quase sempre no extinto bar do Mário Barbosa, próximo a sua casa. Ele, um homem sério, militar aposentado da Marinha do Brasil da qual tinha muito orgulho, gozava dos seus parceiros de vagares, grande admiração e respeito, qualidade que não o impedia de ser, em certos momentos desta convivência, um “paisano” muito engraçado. Era um indivíduo bom de copo e melhor ainda de garfo. Talvez, por isto, padecesse de uma incomoda e descontrolada diabetes. Não a combatia realmente, preferiu sublimar-se ante a um possível êxito letal. É provável que assim tenha ocorrido... É possível.  O fato é que devido esta enfermidade mal administrada, ele possuía o habito de cochilar ao meio das conversas com os amigos. Ressonava alto! Lembro-me da vez que, ele apertando a minha mão e afiançando com francas palavras a grande amizade que nos unia, pegou no sono ensaiando um forte ronco, momento no qual perdi a paciência e bradei: - Acorda cara! Ôôôô... Sono fela da pu..! Há quem afirme também, que um tombo que ele sofreu ao pé do balcão daquela taverna, foi resultado de um raro momento no qual ele adormeceu em pé, conversando com os companheiros.
                                          Certa feita, estava a bebericar no boteco Caixa de Fósforos, no centro da cidade, quando encontrou-se com  o amigo e empresário do ramo de óticas José Neto, momento no qual colocaram alguns assuntos em dia, vez que,  o velho Eliezer inexplicavelmente esteve ausente por algumas semanas ao bar do Mário. No final, um natural pedido, já que ambos residiam no mesmo bairro:
                                        - Netinho, me dê uma carona!
                                        -Vamos lá, Soneca, pra mim é um prazer! Sabes disto. - Respondeu Zé Neto.
                                    
                                          No banco dianteiro daquele veículo, do lado do passageiro, havia algumas revistas de divulgações de óculos e afins. Ao percebê-las, Eliezer disse que se Neto não se incomodasse, ele iria no banco traseiro, evitando desse modo o transtorno de removê-las. Assim foi feito. Todavia, ao entrar alertou:
                                           - Netinho, se você quiser dá uma passadinha lá no Mário me deixe logo em casa, pois eu estou com um “preguinho” no bar dele há mais de um mês...
                                        - Tudo em cima, Soneca! –Tranquilizou Zé Neto. Ora, foi quase simultâneo, o carro arrancou e Eliezer pegou no sono...
                                          Por outro lado, Neto esqueceu-se do seu passageiro de última hora e, de forma quase automática, tomou o rumo do bar do Mário. Estacionou o carro defronte a porta principal do estabelecimento e, naturalmente, adentrou àquela muvuca. Chegou-se como de costume ao pé do balcão e, devido ao fraco movimento daquele dia, foi servido gentilmente pelo proprietário com o qual ficou trocando algumas ideias. Passados alguns segundos, Mario perguntou:
                                           - Neto, aquela pessoa que ta dormindo no seu carro é o Seu Eliezer?
                                            - É ele mesmo, Mário.  Por quê? – Perguntou Zé Neto fazendo-se de inocente, como se nada soubesse sobre a dívida.
                                               - Eu vou acordá-lo... Ele ta me devendo e pode ser que ele tenha vindo me pagar, não é?  - Perguntou o comerciante.
                                              - Pode ser, Mário. – Respondeu com seriedade, o malandro Zé Neto. Mário foi até o carro e gritou diversas vezes quase no ouvido de Eliezer:
                                              - Acorda!... Acorda, Seu Eliezer!...  Depois da terceira chamada ele, ainda sob o efeito da madorra, abriu os olhos e perguntou:
                                                - É Seu Mário?
                                                - É, Seu Eliezer, sou eu. Vamos descer um pouquinho! Diante da insistência, não havia outro jeito senão o de descer e embromar umas desculpas, para justificar o atraso no pagamento. Mário ofereceu-lhe uma cerveja que ele prontamente bebeu e “pindurou”, adicionando-a à velha conta e retirou-se prometendo  solenemente: logo que saísse o dinheiro da sua aposentadoria, ele viria honrar àquele pequeno débito. Assim era Eliezer... Dias depois comentou conosco, que quando acordou com Mário lhe chamando, pensou tratar-se de um pesadelo, assustando-se ao acordar.
                                                  Que saudade, amigo!... Agora você pode dormir em paz.
                                                   Deus o Tenha!

                                                       Natal-RN 08 de junho de 2014.
                                                            Gibson Azevedo - poeta.
                                                             
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