sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Comício de um certo Carvalho Neto - 3º ato.



Comício noturno na década de 60 - só que este foi no centro de Natal

                         ... Ainda ao som dos últimos acordes daqueles “encapetados do forró”, eis que subiu ao palanque entre palmas e apupos, a estrela maior daquela noite: o candidato a Deputado Federal – o Dr. Carvalho Neto. Aquela cidade, por ser, à época, a maior – em tamanho e importância - daquela, nacionalmente respeitada, região algodoeira, houvera produzido, por longos períodos, as principais figuras políticas do nosso Estado. Chegou a mandar, simultaneamente, dois dos seus filhos para o Senado Federal, eleitos pelo voto popular nas duas vagas daquele pleito. (Um, Dinarte Mariz, era ex-governador. O outro, Walfredo Gurgel, era vice governador;  que depois de assumir a cadeira do Senado, pediu afastamento para concorrer, contra aquele, ao governo estadual – obtendo memorável vitória em acirradíssima campanha.) Existia então, naquela ordeira cidade, um clima constante de animosidade entre os “pela-buchos” e os “vira-tripas”, como eram conhecidos, chistosamente, os seguidores daquelas correntes antagônicas. Algumas discussões descambavam para o entrevero e, não raro, propiciavam sofríveis cenas de pugilato.
Pois, foi naquela onda de efervescência e tensão política – muito embora houvesse naqueles dias uma sensação de calma, apercebia-se facilmente que era uma paz enganadora -, que aquele aspirante a uma vaga de deputado no Congresso Nacional subiu ao palanque.
Figura impressionante possuía o Dr. Carvalho Neto naqueles dias da sua juventude. De boa estatura, era forte, sem barriga; de tez clara apesar de mestiço; cabeleira ondulada tratada na força da brilhantina; sobrancelhas largas, nariz de bom tamanho, boca de bons dentes e um mento relativamente encorpado. Era dono de um olhar expressivo e penetrante, que denunciava uma petulância atrevida e indômita que se confirmaria nos anos que se seguiram. Houve muitas palmas..., das mocinhas, em maior número. E o orador, de improviso, começou o seu discurso...
Carvalho Neto - aqui já na idade madura.
Aquele tribuno, homem de boa voz e gestos teatrais, tinha o gravíssimo defeito de enaltecer carinhosamente aos seus correligionários, ao mesmo tempo em que injuriava e tripudiava ridicularizando, de forma desumana, seus inevitáveis adversários. Seu discurso, então, era cheio de altos e baixos; permeado de palavras de baixo calão, as quais eram pronunciadas evidenciando-se sílaba por sílaba. Exemplo: “Fulano de Tal é um La-drão!”.  “Aquilo é uma corja de Cor-rup-tos!” “Um antro de Ban-di-dos!” “A-pre-sen-ta-te Fres-co, Fe-la da pu-ta!”
E naquela torrente de impropérios, aquele energúmeno falaz, à medida que se passavam os minutos, gerava a insegurança, acirrando os ânimos e fomentando a discórdia. Em determinado momento do malfadado discurso, houvera uma pequena escaramuça: quando um dos adversários ferrenhos, irritadiço famanaz, ante a deslavada zombaria, ameaçou puxar uma arma de fogo, quando foi, prontamente, coibido por amigos. Correu, no entanto, o zum-zum-zum: “Fulano está armado e disse que atira na testa daquele falastrão, se ele continuar com estas lorotas!”
Indispensável dizer, que a assistência encontrava-se, por demais inquieta, atenta aos menores fatos...

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