Naquele inocente banheiro, já fazia, provavelmente, uns dois bem contados anos que um moderno chuveiro - bicho com fama de promover prazerosos banhos a quem dele se utilizasse, devido ao mais que satisfatório volume d'água bem distribuído pelos jatos de sua ducha - não sabia o que era água. Achávamos que aquele primor da indústria nacional, decantado pela mídia e adotado pela opinião pública, teimava em se aposentar sem o devido tempo de serviço. Matutei um pouco sobre o assunto e cheguei a conclusão que precisávamos da ajuda de um especialista. Depois de muito procurar alguém que preenchesse a base daqueles requisitos, chegamos a uma figura impar que, de acordo com informações de alguns solícitos camaradas, tratava-se de um "gênio" no tocante a problemas com canos entupidos. " O homem é esse, não tem outro!" - Diziam alguns. "Pra esse tipo de serviço o indicado é o João Caduco, sem dúvida!" - Comentaram outros, algures.
![]() |
João Caduco de volta da padaria |
De posse deste conjunto de espontâneos elogios, julgamos de bom alvitre recorrermos aos préstimos deste "bamba" das desobstruções. Entretanto, para nossa surpresa, ao término do inusitado trabalho só restou-me a inspiração par um desabafo - em versos satíricos - que acanhadamente vos mostro:
Conserto com João CaducoMas que sorte acachapante
Tive naquele momento,
Tipo a de um judeu errante.
Foi uma ideia de jumento...
Pra não dizer, de maluco,
Ao levar o João Caduco
Pra consertar um chuveiro,
Que a muito não vai água
Que vinha da caixa d'água,
Depressinha, bem ligeiro!
Muito solícito e falante,
Um cabo de aço sacou,
Suando, muito arfante,
Nos vários canos enfiou...
Depois de muito mexer,
Longe da pose perder,
Disse que era assim mesmo,
Que noutro dia , não nesse!...
Mesmo esperando à esmo,
Talvez a água descesse!
Seu Caduco, que vexame!
Eu já fiz o curso inteiro
E já passei nesse exame...
Não me afogo em tal banheiro.
Não morro e até acho,
Nem com força de "despacho",
Que embroma aos inocentes
Que muita doença sara,
Essa águas "dão as caras"
Pra alegrar os viventes!...
Natal-RN, Janeiro de 2001.
Gibson Azevedo - poeta.