segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Peres



                                                                                   Peres

                          Conheci, há alguns anos, um senhor que atendia pelo nome de Edison Peres. Um homem de espírito desarmado que ostentava um corpanzil de bonachão. E no rosto daquela figura simples, guarnecia o seu sorriso franco um venerável bigode de mais de meio século de existência. Era, apesar de ser um autêntico boêmio, um trabalhador na sua faina de funcionário público. Frequentava alguns bares, inclusive o bar do vovô, no bairro de Petrópolis, onde nos conhecemos.  Peres era um poeta, o mais popular que o seu gosto de homem maduro permitisse. Gostava de versejar e declamava pausadamente ao sabor de sua verve singular, com a voz grave e nasalada e uma gostosa encenação. Era, como disse, um poeta!... Adorava ouvir algumas loas feitas por seus pares. Era de um bom papo, uma companhia agradável.
                            Gostaria de prestar-lhe uma sincera homenagem, publicando alguma poesia de sua autoria. Confesso que caíram no esquecimento toda aquela alegria, que eram os seus poemas, a maioria de cunho fescenino. Peres nunca publicou nada. Acho que foi melhor assim... , pois testemunho boquiaberto, serem editados nesta aldeia de Poti toda sorte de baboseiras, fruto de topetudos que se dizem poetas, mas que os  produtos destas falsas liras são letra morta a mancharem o branco límpido do papel, com garatujas desenxabidas, caraminholas insípidas, insulsos estropícios literários.  Com o mestre Peres víamos um versejar diferente, sem meias palavras, em um ritmo e métrica inconfundíveis; mesmo que a sua poesia fosse pouco recomendável às pessoas de ouvidos delicados, reticentes aos versos licenciosos, obscenos. 
                             Lembro que ele se referia a um encontro de poetas glosadores ao qual ele compareceu, oportunidade na qual declamou uma glosa de sua autoria, da qual, com pesar, só lembro o segundo verso do mote: “merda n’água não afunda”. Contava, às gargalhadas, que alguns luminares da poesia, presentes àquele evento, desceram, dos seus respectivos pedestais, para abraçá-lo com honestas saudações de júbilo. Quantas saudades, mestre Peres! Por isto mesmo, lanço mão da minha veia poética para reder-lhe esta singela galanteria, com o mesmo tipo de poesia que tanto gostava... E usando a parte do mote que não se perdeu, da sua inusitada e hilariante glosa, ousei glosar:

Mote:
Vindo de qualquer Sujeito
Merda n’água não afunda
Glosa:
Não é que seja defeito,
Erro de fabricação...
É próprio do cagalhão,
Vindo de qualquer Sujeito.
Quanto a isto não tem jeito,
Não há com que se confunda... 
Saindo de qualquer bunda,
Seja do pobre ou do rico,
Saiu de qualquer furico:
Merda n’água não afunda!

Natal-RN, 23 / out./2007.
           Gibson Azevedo - poeta.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Previsão e realidade



                                       Vaticinei logo depois das primeiras ações da atual administração municipal, que para o nosso alívio encerra-se no próximo ano (2012), o desastre, a hecatombe, que cairia sobre as nossas cabeças, no transcorrer dos quatro anos se nos adviriam.  Àquela data (29/04/2009), apesar de ser pouco provável que se acertasse alguma previsão quanto ao futuro daquela gestão que começava, não encontrei maiores dificuldades para prevê a derrocada administrativa, que iminente se delineava. Só não viu quem não quis enxergar, parodiando o vulgo que diz: “O pior cego é aquele que não quer vê!”  Senão vejamos:
                                                   
Palácio Frei Miguelinho - Câmara Municipal de Natal
                                        Comentário on line da notícia:
                          Câmara inicia votação das emendas à reforma
                              (Jornal Tribuna do Norte do dia 29/04/2009)

                                 A câmara Municipal de Natal está votando as emendas de reforma administrativa impetrada pela atual gestão do Poder Executivo da nossa cidade.  Emendas de cunho polêmico, somente uma não foi votada: a de autoria do Vereador Adenúbio Melo, que visa à construção de uma “Matança” (matadouro público). Todas as demais foram votadas e efetivadas.  (Quanto a esta emenda, sabe-se muito bem que, o que mais existem no nosso País, são: frigoríficos modernos, com criteriosas normas de higiene e, abastecimento satisfatório; não existindo a menor necessidade do capital do povo ser empregado em ação aventuresca, num setor econômico  onde o governo não tem  nenhuma aptidão de concorrer com estas empresas.)
                                  Já existem 33 emendas votadas em cunho consensual. Dentre elas, três já estão dando muito o que falar:
                                     Uma, a mais esdrúxula e discriminatória, habilita o Poder Executivo à criação de uma nova Secretaria: a de Articulação de Políticas Públicas para as Mulheres. Pergunto: e a Secretaria de Articulação de políticas Públicas para os Caolhos, também não vai ser criada, não?   Não?... Por que motivo? Será que na nossa Nação, finalmente, instituiu-se que existem cidadãos de primeira, de segunda ou de terceira categoria? É possível que estejamos assistindo tais aberrações bem abaixo dos nossos narizes e, ainda mais, financiadas com o dinheiro do povo?(Estamos muito mal de emendas).
                                   Outra é mais perdulária (cabide de emprego?), a que cria uma nova Secretaria no bojo de uma Pasta já existente: a Secretaria da Defesa Social. Ela, o rebento, seria uma Secretaria adjunta (Secretaria meia sola) para cuidar diretamente da Guarda Municipal, com certa independência; o que nos passa um certo mau cheiro de Milícia. Ora se, se dorme com um barulho desses!...
                                      Por último, existe a que amordaça e submete a Ouvidoria do Município, diretamente ao gabinete da Prefeita Micarla de Souza; Senhora de conhecidos e hesitantes humores. Nada mais perigoso...  (Que Deus, ao menos no atual mandato, Tenha piedade de nós!...)

                                                     Natal-RN, 29 de abril de 2009
                                                        Gibson Azevedo da Costa
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