sábado, 26 de setembro de 2009

Nos rastros de um Frutica.

Um dia destes, estava a navegar pela a Web e numa paradinha que eu dei, como sempre faço, em um blog português de um dileto e virtual amigo Poeta do Penedo, local onde ele mantém uma coluna (Fruticas de um Mondego) com diversos e interessantes assuntos literários. Pesquei uma poesia entitulada "Emanações de uma ruína" e, com esta, tive a petulância de, também em linguagem poética, dialogar. Imaginem só! Peço desculpas ao Poeta do Penedo, mas, quedei-me ante a tentação de cometer esta heresia:

Emanações de uma ruína

Num tempo
Que ao tempo
Já não ocupa espaço,
Na pressa do abrigo
Ver surgir,
Vi nascer a minha essência
Vi abrir-se o teu sorrir.
Por mim passou o desejo,
O amor que se fez sem pressa.
Onde estás que te não vejo
Dono da minha existência.
Tive dias de alegria
Alguém por mim olhou,
Uma voz que sempre dizia
Que eu não chegaria
Ao que sou.
Mas a morte um dia veio
Afugentando de mim a vida.
A promessa ficou pelo meio,
Já que tu,
Meu dono,
Depressa foste de partida.
O meu dono é agora a solidão
Não passo de um triste ermo,
Sou sangue sem coração
Sou história a que se pôs termo.
Na ruína do meu ser
Tenho por companhia o luar.
Já me não é possível querer
O amor,
Que outrora em mim teve lugar.

Publicada por “Poeta do Penedo” (poeta de Coimbra-Portugal) .



Vejam as loucuras que escrevi:


Em que tempo?


Nem tudo lembra o fim
Nos arroubos do agora...
Na azáfama, no agito.
Não há tempo...
Abafa-se o grito.
Alheios ao momento,
Vagueiam súbito,
Reles pensamentos...
No etéreo, infinito:
Ermos, somos...
- Corolas fanadas –
Onde tudo o mais é finito... e breve!

Natal-RN, 18/ agosto/ 2009.
Gibson Azevedo - poeta

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Fora de órbita


Mais um pouquinho de reminiscências... Por favor, tolerem-me!



Fora de órbita

Eram um bom número... Eles têm todas as atenções das pessoas de bom coração; que contemplam com carinho, com ternura e bom humor, àquelas criaturinhas geneticamente imperfeitas que a natureza indiferente ao seu erro de criação coloca-as no seio da humanidade, dita sã, onde se constata serem inaptas de sozinhas sobreviverem a dura aventura de viver... Alguns são totalmente incapazes, com um elevado grau de dependência...; outros, com uma incapacidade mais leve, mais branda, vivem desviando-se das adversidades com a ajuda de uns, de outros..., de muitos. Esses erros naturais advêm, - crer-se-, da miscigenação irresponsável ou inocente entre seres consangüíneos, muito utilizada em pequenos clãs, em regiões remotas, de pouco ou nenhum contato com a civilização. É possível e justo pensar, que algumas vezes ocorrem como fruto de gestações, acontecidas em concomitância com algumas doenças crônicas e degenerativas. Dão frutos chochos, imaturos, encruados. "Atrofiados", como dizia meu avô paterno; referindo-se a alguns dementes que povoavam nossa região. Como foi dito em outra oportunidade, eram mansos os loucos de minha terra. Loucos que povoaram minha infância... Infância de menino pobre.
Severino comunista em conversa com Teví Clemente(Caico-RN)
Existia em Caicó, anos sessenta, oriundo das camadas mais pobre daqueles sítios, um indivíduo chamado Severino, conhecido, para seu desespero, como: "Severino comunista". Na cabeça de alguns cristãos sertanejos, versava uma estória que, no regime comunista, se comia, numa total antropofagia, criancinhas, e matavam-se padres e freiras; e era comum, em tais lugares, tomar-se, apoderar-se dos pertences dos outros, apossar-se do alheio, e mil e uma coisas abomináveis. Severino, só de pensar que o comparavam à gente dessa espécie, tremia de raiva e, não contendo-se, esbravejava, aos quatro cantos, onde quer que estivesse. Não havia, entretanto, naquela região, um varão mais "papa hóstia" do que ele. Católico fervoroso era, com muito orgulho, Irmão Mariano. Não perdia uma novena; muito menos uma missa; fosse esta, realizada a qualquer hora do dia ou da noite. Estava sempre presente às famosas missas das primeiras sextas feiras de cada mês (tão valorizadas pela Igreja Católica, como se isto fizesse alguma diferença ). Severino confessava-se - como se houvessem pecados para tanto - e comungava todos os dias. Participava de qualquer manifestação litúrgica, ou as ditas profanas, patrocinadas pela Paróquia de São José, no bairro da Paraíba. Não havia penitente mais enquadrado com os ditames da Igreja, que aquele inocente sertanejo. Se aquele modo de se conduzir e viver não assegurou sua solene entrada para o céu, creio, na minha humilde e modesta opinião, que cometeu-se uma grave injustiça nos tribunais celestes. Aquele viver ascético, de jejuns e penitências, asseverava uma beatificação imediata! Severino comunista, certamente, virou santo!..., ou então, virou xeleléu deles! É bastante factível.
Dos pecados que Severino confessava diariamente, alguns eram,certamente, os palavrões que soltava dentro da Igreja, quando era instigado a proferi-los pelos moleques inconseqüentes, que o chamavam pelo incômodo apelido. Era uma provocação feita sutilmente, de soslaio; com um baixo tom de voz, disfarçadamente......
A Igreja da Paróquia de São José foi concebida e construída no formato de uma cruz A nave principal onde se encontram o maior número de bancos, conseqüentemente, concentrando um maior número de fiéis, é cortada no nível do Altar Mor, no sentido perpendicular ao seu longo eixo, por dois apêndices laterais. Estes dois nichos, relativamente grandes, davam corpo aos braços da cruz. Por traz do citado Altar ficava a sacristia com suas subdivisões burocráticas, etc. Esta terminava, como previa o projeto da construção, o desenho do crucifixo. De maneira que, o celebrante ficava num ponto eqüidistante das partes laterais e a nave principal da Igreja; sendo visto por todos, independente do local onde estivessem. De uma parte lateral para a outra, passando pelo Altar Mor, avistava-se quem se encontrava do outro lado da Igreja. Naqueles lugares, tinha-se a vantagem de acompanhar mais de perto todo o cerimonial da Santa Missa.
Certo Domingo, feriado católico, igreja cheia, sentaram-se nos primeiros bancos, em frente um do outro, nas respectivas partes laterais da igreja: Ostenildo - moleque trabalhoso por aqueles tempos -, e Severino Comunista, piedoso e circunspecto "papa hóstia", nosso conhecido. Dependendo do celebrante, existem alguns momentos no cerimonial da Missa, que a Igreja, embora cheia, fica em total silêncio; um pesado silêncio... Foi num destes momentos, que Ostenildo chamando a atenção de Severino, com os olhos arregalados, numa mímica inconfundível com os lábios, mímica de fácil leitura labial, insistentemente, passou a chamá-lo de "comunista". E dizia:
- Cumunista! Psiu!..., cumuniistaa!!
Então veio, no meio do pesado silêncio,a desastrosa resposta:
- Cumunista é o corno do seu pai, cabra safado!! - Ói Pade Terço, esse muleque tá me chamano de cumunista!...
O Monsenhor Ausônio Tércio de Araújo,vigário daquela Paróquia por aqueles dias, era um homem bom; mas era sabido por todos, como sendo um indivíduo que tinha o pavio curto. Era de um temperamento muito forte. Ia da calmaria à afobação, em frações de segundos; e, ao olhar para o lado onde estava Severino, ficou vermelho de raiva, beirando à apoplexia, desconcentrou-se da cerimônia da qual era o celebrante, virando-se imediatamente para o outro lado, expulsando Ostenildo, sumariamente, das dependências da Igreja:
- Saia, moleque! Ruua!!... E voltando-se, continuou lentamente:
- Dominus vobiscum!!!
- Et com espíritu tuo!!... – respondeu meio a risotas, a assistência de muitos fiéis.

Natal-RN, 04 /Abril/2005.
Gibson Azevedo

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Momentos de reflexões


"Ouviram do Ipiranga às margens plácidas..."




Momentos de reflexões.


Nestes dias ditos da Pátria, nesta semana que antecede ao dia 07 de setembro, temos muito pouco ou nada a comemorar... Temos como certo, o mau costume de acomodarmo-nos à péssima prática de pagar taxas e impostos altíssimos. (Estes, os mais estapafúrdios que até hoje se teve notícia)
Nossa Independência, que na realidade não passou de um “negócio” entre parentes portugueses, tornou-se, por geração espontânea, numa interdependência entre os poderes das duas Nações; prática que nos conferiu o status de “nação perneta”, já que era impossível caminharmos naturalmente com os dois pés. O Brasil Colônia era habitado por portugueses que já nutriam o sentimento nativista pelas novas terras do lado de cá do oceano atlântico. Sentiam-se espoliados por seus patrícios da metrópole, pois que eram cobrados impostos, impagáveis à época (imposto de 1/5).
Resolveram dar um basta àquelas explorações, rompendo com seus pares e parentes da corte portuguesa, alçando ao poder um português da Casa de Bragança. Foi uma independência feita de afogadilho; até porque, a presença da família real portuguesa era insistentemente reclamada em terras lusitanas. Como vimos, não ficamos independentes coisíssima nenhuma! O poder passou de um apêndice da família real para outro. Tivemos, nós brasileiros, a única monarquia do continente americano. Na realidade, uma excrescência singular nas terras do novo mundo.
Neste reinado os vícios trazidos pela monárquica família, quando por aqui subitamente aportaram fugidos da sanha napoleônica, mudaram o comportamento da Colônia. Dizem as más línguas, que os compatriotas de Cabral, nossos irmãos portugueses, se nos apresentaram aqui no Brasil, "lisos de pegar verniz"; não lhes sobrando outra opção, que não fosse a de vender conversas soltas. E haja vendas de títulos de nobreza, de cargos vitalícios, etc. etc.(Alguns persistiram até aos nossos dias. Ex: os Cartórios.) Muitos afirmam que tais vícios concorreram, junto a desastrosas aventuras como a Guerra do Paraguai (1865 a 1870), aventura esta que corroeu, à exaustão, as finanças do Tesouro da já decadente monarquia, para a queda daquele colosso (neste período, o Brasil foi o último país a aderir à revolução industrial, preferindo manter sua força de trabalho baseada na aberração desumana do trabalho escravo). Ao abolir a escravatura tardiamente e, já com efeitos nocivos deixados pela demorada Guerra travada com nossos vizinhos, a monarquia caiu como cai um castelo de cartas. Finou-se ao som de valsas e polcas e algumas saliências de alcova do Grande baile da Ilha Fiscal. Na ressaca que o sucedeu, varreu-se de vez a monarquia.
Em 15 de novembro de 1889 (um ano após a libertação dos escravos) veio proclamação da República; meio a apupos de uma quartelada onde a população da capital da nação efetivamente não participou. Chegou prometendo “mundos e fundos”, deixando, de propósito, transparecer aos brasileiros passivos, inermes, daqueles tempos, que a nova forma de governo seria indubitavelmente remédio para todos os nossos males. Ledo engano!... Mais uma vez o poder, caprichoso como uma cortesã, passaria de uma mão para outra. Pouca coisa mudaria.
Senhores, nesta data magna relembramos um longínquo setembro de 1822, quando, à época, nos apresentávamos a comunidade internacional das nações livres, como sendo o seu mais jovem membro.
Não deixamos de sentir, apesar de emocionados, laivos de um ranço das oportunidades abortadas, cultivado no seio do nosso povo. Ranço tratado, a princípio, na estufa mesquinha das elites, que, ao servirem de mau exemplo, desenvolveram no cerne da nossa gente o deletério sentimento de impunidade às nossas faltas. Nossos representantes diretos e indiretos, a cada quartel do tempo que passa, tornam-se mais pusilânimes e venais. Já não é tempo para mudarmos?
Nestes dias, às vésperas da data que comemoramos a nossa autonomia de brasileiros livres, convido, todos quantos possam, a refletir: quais serão os rumos dos nossos Brasis tão sofridos do agora. Esperemos... Talvez nos venham melhores dias!...





Natal-RN, 02 de Setembro de 2009.
Gibson Azevedo
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