Neste dia no qual dar-se
o início da primavera, que no latim significa “primeiro verão”, e que na maioria
das regiões da terra caracteriza-se por ser a estação climática de uma estonteante
beleza, pela profusão das cores inerentes a floração, como também o seu perfume,
com o qual a natureza atrai os insetos, para, inconscientes, colaborarem na
transferência de polens, inoculando-as e viabilizando a possibilidades de novos e fartos frutos. É a natureza...
Quero, no entanto,
lembrar, que nós do nordeste brasileiro não temos muito que comemorarmos nesta
primavera. Estamos contando os dias para que estes verões se vão rapidamente e,
com a chegada do outono, os céus, nas suas nuvens, nos tragam o pranto dos
animais que pereceram nesta angustiante estiagem, em forma de chuvas francas que
ajuntem água e criem possibilidades de novas vidas. Possa então a esperança , esta, semi morta, assim como uma fênix,
ressurgir das cinzas do inferno no qual tornou-se o nosso sertão. E que venham à
primavera..., o verão, mas que não nos neguem as águas do outono redentor na
nossa sofrida região.
Faço aqui uma reflexão,
em versos, de mais esta tragédia nordestina, através de um mote de um poeta
popular Geraldo Amâncio, e que foi versejado pelo poeta e amigo Jesus de Rita
De Miúdo.
Quem passar no sertão corre com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata!
(Mote dado por Geraldo Amâncio)
Na porteira o chiado está mais triste
O chocalho não tem voz, está calado
O gibão, coitadinho, abandonado
Só se apega a saudade que existe
O acauã, bem magrinho, ainda insiste
Agourando a má sorte, vida ingrata
Toda cinza a caatinga, assim retrata
Falta de chuva, e nesse pobre desenredo
Quem passar no sertão corre com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata!
Sob o pé do mourão um vira-lata
Moribundo, olho, pelo, carne e osso
Já não tem mais nem força no pescoço
Sem lutar, pois a vida lhe maltrata
E sob o choro, feito aboio, da beata
Vai morrendo num buraco desde cedo
Quem passar no sertão corre com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata!
(Jesus de Rita de Miúdo)
Das caveiras dos bois que a seca mata!
(Mote dado por Geraldo Amâncio)
Na porteira o chiado está mais triste
O chocalho não tem voz, está calado
O gibão, coitadinho, abandonado
Só se apega a saudade que existe
O acauã, bem magrinho, ainda insiste
Agourando a má sorte, vida ingrata
Toda cinza a caatinga, assim retrata
Falta de chuva, e nesse pobre desenredo
Quem passar no sertão corre com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata!
Sob o pé do mourão um vira-lata
Moribundo, olho, pelo, carne e osso
Já não tem mais nem força no pescoço
Sem lutar, pois a vida lhe maltrata
E sob o choro, feito aboio, da beata
Vai morrendo num buraco desde cedo
Quem passar no sertão corre com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata!
(Jesus de Rita de Miúdo)
Dirigi-me ao Jesus desta
forma:
Miudim! Aproveitei o mote em decassílabo do
supracitado poeta, não me contendo, tasquei o meu bedelho em forma de glosa,
sobre esta trágica realidade da nossa querida região. Desculpe-me a
intromissão.
Mote:
Quem passar pelo sertão corre com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata.
Glosa:
Somos parte da tragédia e seu brinquedo,
Onde a flora e a fauna sucumbiram,
E os bons ares, se há muito que partiram,
Quem passar pelo sertão corre com medo...
Desta peça natural e o seu enredo,
Neste palco do inferno em duplicata,
Onde vemos a miséria, essa insensata...
O cenário medonho e cadavérico,
Terrificante, dantesco e homérico,
Das caveiras dos bois que seca mata!
Natal-RN, 12 de setembro de 2013.
Gibson Azevedo – poeta.
Mote:
Quem passar pelo sertão corre com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata.
Glosa:
Somos parte da tragédia e seu brinquedo,
Onde a flora e a fauna sucumbiram,
E os bons ares, se há muito que partiram,
Quem passar pelo sertão corre com medo...
Desta peça natural e o seu enredo,
Neste palco do inferno em duplicata,
Onde vemos a miséria, essa insensata...
O cenário medonho e cadavérico,
Terrificante, dantesco e homérico,
Das caveiras dos bois que seca mata!
Natal-RN, 12 de setembro de 2013.
Gibson Azevedo – poeta.