terça-feira, 26 de maio de 2009

Outro "barulhaço" por nada.

Outro “barulhaço” por nada


Existe uma cidade provinciana e bucólica que tem chamado a atenção das pessoas, ante aos fatos inusitados que por lá tem acontecido. Trata-se da cidade de Palmeira das Antas, que, como todas as cidades sertanejas, têm os seus costumes herdados dos priscos quartéis perdidos no tempo. Assim são os seus hábitos, também com relação aos santos da devoção da coletividade. Naquelas comunidades, é comum o arraigado apego às coisas antigas... Lá em Palmeira consideram-se, por demais, os velhos assuntos e manias. Cito o fato de: o santo Padroeiro daquela pequena urbe, ser, de fato, um santo velho – o São José. Pois, como sabemos, este, quando casou com Maria, já se tratava de um “rapaz velho”; há muito passado, os seus verdes anos. E entre essas coisas novas e antigas, existe também, no referido arruado das Antas, uma co-Padroeira; de prestígio até maior que o já citado e velho santo. Trata-se de Nossa Senhora do “Sucesso”; que reina absoluta em um santuário localizado no topo de uma elevação rochosa, mais conhecida como Monte do Galináceo, de piedosas romarias. O povo de Palmeira e adjacências é muito devoto; e como prova disto, naquele santuário do Monte do Galináceo, existe uma sala só para guardar as réplicas, em madeira ou em gesso, das Graças alcançadas. Esta dependência vive abarrotada destas relíquias... Dizem que todo tipo de deformação poderão ali ser encontradas – aleijões ,aos montes..., até um par de chifres, afirmam os mais afoitos, foi certa vez identificado meio ao monte de adereços das Graças obtidas. Coisas de romeiros!...

Pois bem! Foi nesta Terra onde a santidade, a etérea presença do Divino, se faz naturalmente sentir, que surgiu um herético comentário, no qual, algumas pessoas de destaque das redondezas manifestaram o irrevogável desejo de processar, na Justiça, a toda poderosa Nossa Senhora do Sucesso! Não bastasse o vergonhoso “arranca rabo” que ocorreu a alguns anos, na encenação da Paixão de Cristo, que acontece, todos os anos com destacado sucesso, na via sacra do Monte do Galináceo, durante a Semana Santa!... (Resumindo: um rapaz que representava o Nazareno, estava intrigado – de mal - com um outro, que fazia o papel do soldado Centurião e que o acoitava... Devido àquela querela particular e mal resolvida, os acoites foram aplicados com extremada eficiência, repetidas vezes de forma nada teatral, no lombo do inerme e acuado Jesus Cristo. Ora, aquilo não podia continuar!... Demorou mais alguns instantes..., e ao aproximarem-se de um local do caminho que se encontrava em reforma, Jesus soltou a pesada Cruz de madeira e pegou um porrete no canteiro de obras, partiu – com salvas e vivas dos fiéis - pra cima do seu desafeto, que, ladino, já corria monte-abaixo com uma folgada dianteira. Dizem que Jesus empurrou o bom Cireneu; deu um encontrão em São João; derrubou Nossa Senhora; resvalou no Seu Vigário assustando a “carolagem”, e, naquele malfadado ano, o santíssimo fato bíblico foi resolvido e encerrado na delegacia de polícia.)

Segundo relatos de Berto Paradão quanto ao supracitado processo da Santa, sabe-se que, devido à fama de milagreira, alguns candidatos a prefeito de algumas cidades próximas, como: Nova Bandeira, Frei Marinho, Baité, Pontaí, etc., e que não lograram êxitos nas suas pretensões eleitorais, sentindo-se lesados, entraram na Justiça em busca das devidas reparações; já que haviam feitos beatas promessas à N. S. do Sucesso, e esta, ao que tudo indica, não lhes deu ouvidos. Não se sabe bem o real teor das ações; entretanto, alguns populares, mais fuçadores e especialistas em “assuntos encobertos”, garantem que, tais calhamaços jurídicos, correm pela veia da “propaganda enganosa”, da “reparação por danos morais”..., e por aí vai...

O amigo Jair Diógenes, em suas sábias palavras, declarou, certa vez, que Deus quando Criou o Mundo só Colocou limites à inteligência; para a ignorância, por Descuido, presume-se, Deixou em aberto...

Natal,26/05/2009.
Gibson Azevedo da Costa


PS. – Alguns nomes, senão, os da maioria, foram alterados para evitar os naturais e costumeiros melindres.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Muitos vivas ao acaso.

Mais um causozinho para descontrair... Espero que gostem:



Estava eu, trilhando uma cansativa estrada na árdua procura da ciência, no X Congresso de Odontologia do Rio Grande do Norte, ocorrido de 23 a 26 de agosto último, quando meio à caterva da feira da indústria do citado evento e as representações das entidades da classe, um mundo de colegas a comparecerem aos melhores cursos ou específicos da suas preferências, foi-me apresentado, junto ao burburinho constante destas reuniões, um companheiro do Ceará ligado a farmacoterapêutica - vereda da ciência na qual publicou diversos e oportunos livros. A princípio não passamos de um discreto cumprimento que trouxe a tiracolo um sadio aperto de mãos. Passaram-se as horas e, neste ínterim, fortuitamente, acostumamo-nos com nossas presenças dentro de um mesmo espaço físico.
Dr. João Elias Cunha

A simpatia, sorrateira e discreta, sem avisos veio. Refiro-me ao colega Cirurgião-dentista, das terras Alencarinas, o Dr. João Elias Cunha; também carinhosamente conhecido por "Distinto".

Ele, um sertanejo simpático de aparência de um bom beato, onde a sinceridade - moeda farta, estampada em seu rosto -, disfarça em parte a renitente timidez que teima em acompanhá-lo sempre, só ausentando-se por completo quando o mesmo encontra-se ministrando uma aula ou um curso. De acordo com o testemunho de alguns colegas, João Elias, nestas ocasiões, transforma-se, como se, se servisse de um eficaz mimetismo, em um animal palrador afeito a falações demoradas e rebuscadas, alicerçadas em conhecimentos duramente adquiridos e postulados.
Pois bem, lá pras tantas, como disse, meio a bulha da comunicação dos presentes, ao ciciar das muitas conversas, João Elias apresentou-se súbito diante de mim, olhou-me sem medo dentro dos olhos e perguntou: - caro amigo, você acredita em "comida reimosa"? E complementou brincando com um gracejo próprio dos sertões Cearense: - Ande Tonha!...
Respondi de pronto que tanto acredito em comidas reimosas, como em outras crendices e pajelanças que o meio científico e douto insiste em não aceita-las como verdades. No entanto, sente-se impudicamente incapaz de provar suas assertivas, como era de se esperar que acontecesse. Há de ser talvez a nossa origem sertaneja que nos faz pensar na importância das crendices, dos costumes e dos medos imprescindíveis na sobrevivência e multiplicação populacional nestas hostis regiões de antanho, seiva de epopeicos capítulos na saga dos nossos antepassados.
Devo considerar que a pergunta do João Elias, referia-se tão somente às comidas que causam "pustemas" nas mais variadas parte do organismo humano. É de acreditar que o objetivo era este, todavia, a bem da verdade, gostaria de citar outras que causam os maiores e mais inconvenientes desconfortos e desarranjos: ramos, má triste, istalicidos, colerinas, piriris, bafios podres, bucho inchado, arrotos chocos etc.
Como me comprometi com o ilustre companheiro, entrei em contato com uns aparentados meus que possuem a fama - talvez injusta - de serem catimbozeiros e, com eles fiquei a rememorar, sem pressa, algumas situações e estados mórbidos causados por algum tipo de comida ingerida em circunstâncias pouco recomendáveis. Também, por respeito a essas verdades, devo dizer que o Ser urbano - aquele que nasceu nas cidades, na pseudo-segurança do mundo moderno -, não crê nestes conhecimentos rústicos que, queiram ou não, são o berço da mais avançada medicina moderna e autêntico esteio dos mais civilizados costumes. (Os bichos novos lá de casa - meus filhos - olham zombeteiros e incrédulos para os conhecimentos de sobrevivência dos povos antigos de "lá de nós".)
Elías, Cabra véí, promessa é divida! Estou cá a pagar as minhas. E lá se vão:
* Algumas frutas fibrosas e indigestas como: manga, jaca, etc.
* Comidas de origem também vegetal como: feijão verde, macaxeira, milho e seusderivados..., são consideradas quentes (reimosas) por alguns ciosos sertanejos.
* Todas as carnes de pássaros d’água: marreca, paturi, pato comum, garça,putrião (?). Seus ovos também.
* Dos peixes do mar, só os de couro são considerados "carregados"; já os de água doce, só lembro-me do curimatã que, mesmo sendo peixe de escama, mulheres de resguardo são proibidas de comê-los
* Cisma total deve-se ter pelos "frutos do mar": camarão, ostra, caranguejo, siri,sururu, lagosta, etc.
* Alguns pássaros avoetes como: arribaçãs, nambus, faisões, etc.
* Das aves caseiras só a galinha - limpa por mais de um mês, cevada num chiqueiro -, é que é recomendável a sua ingestão por pessoas convalescentes. (O mesmo não se pode dizer do consumo dos ovos das mesmas: ovos caipira). Já o Guiné - a galinha d'Angola ou Capote, como é mais conhecida em determinadas regiões -, por ser um animal mais rústico também é contra-indicada pra a dieta destas pessoas. Reservas reticentes feitas também ao consumo do peru.
*Algumas caças de animais rasteiros: camaleão, tejuaçu, tacaca, peba, tatu verdadeiro, paca, preá, moco, punaré, etc.
* Todos os derivados da carne de porco ou de javali: bacon, lingüiça, presunto,toucinho e defumados em geral, picados, etc.; e a própria carne de porco. (Óbices feitostambém ao consumo de uma conserva doce, saborosíssima, conhecida com o nome dechouriço, que é feita a base de sangue e banha de porco).
Para encerrar, mesmo ciente que me esqueci de citar algumas importantes comidas reimosas, lembro que o mel de abelha, de conhecidas propriedades medicinais, de benéficos e constatados efeitos cicatrizantes, quando degustado nos próprios favos do exu, ainda quentes pelos efeitos dos raios solares, transforma-se num indesejável vetor das infecções de garganta: amigdalite, faringite..., e mais uma série de "ites" que incomodam sobremaneira.

* * * *
Relatos

Estes relatos são destinados aos que, por quaisquer que forem os motivos, não acreditam que certas comidas possam trazer desconfortantes estados mórbidos aos incautos que inadvertidamente as consumirem. É verdade que nem todos os indivíduos são suscetíveis aos seus nefastos efeitos. Todavia, estes alimentos transmitem-nos por imanência algumas substâncias - protéicas, é provável -, que no contato pouco habitual ao cardápio rotineiro de parcela considerável da população de uma determinada região geográfica, promovem inegáveis transtornos à saúde. Posto que, ficam, estas pessoas, expostas aos eventos de respostas imunológicas ou reações inflamatórias a tais presumíveis, e, estranhas substâncias; mormente haver pouco hábito no seu consumo, dificultou-se as necessárias adaptações digestivas, por grande parte dos seres humanos, ao
longo dos séculos. Espero que estes casos possam elucidar alguns pequenos equívocos. Até porque, as rnais célebres elucidações a alguns famosos enigmas, deveram-se a pacientes observações aos achados estatísticos. Nada ou pouco, custa-nos observarmos mais alguns:

1º- José Estevão do Rego Neto casou-se muito jovem, ainda universitário. Ele e sua digníssima esposa - sempre enamorados -, quando solteiros partilhavam de um namoro “muito acochado". Não deu outra: sucumbiram ao apelo irresistível dos hormônios e “avançaram o sinal”. Sendo ele um jovem de bom caráter, casaram-se imediatamente, passando a morar na casa do sogro. Ficaram nesta situação, sob a tutela dos sogros, até a sua formatura. Estudávamos juntos, na mesma turma; morávamos no mesmo bairro. Certa feita, Netinho, como era mais conhecido, convidou-me a comer na sua casa um peba que seu sogro havia trazido de Pau dos Ferros e que seria torrado por sua sogra - mãos de fada, exímia cozinheira. Dito e feito. No Sábado saboreamos esse regalo dos deuses regado a cervejas e uma boa cachaça, como é bem recomendável. Devo dizer que poucas caças superam o sabor de um peba torrado na pimenta. Memorável! Sabor inesquecível...
O inesquecível e indesejável, entretanto, ocorreria com os primeiros sintomas de infecção manifestos logo na Segunda feira: Senti de inicio, moleza no corpo e enfado forte, parceiros que são dos estados febris. Seguiram-se erupções cutâneas que descambaram para furunculoses em algumas partes do corpo... Completando o quadro degenerativo, surgiu, como por força de mágica, um corrimento gonorréico, decorrente talvez, dalgurna uretrite mal curada e adquirida, certamente, em aventuras próprias dos verdes anos. A cura deu-se com o uso de antibióticos específicos e de largo espectro.
2º- O dileto amigo o Advogado Marcus Marinho, conta que certa vez teve uma reação tão forte a um peba que foi degustado, na sua granja, por ocasião de um seu aniversário, que alem de estourar uma unha de um dos pés, sentiu um inchaço geral que inchou até o seu pescoço. Na iminência de um espasmo de glote, foi obrigado a baixar hospital por vários dias. Segundo ele mesmo afirma, ficou tão assustado com o quadro que nunca mais comeu qualquer tipo de caça.
- Dizem que o peba tem estes poderes deletérios, devido alimentarem-se de matérias em decomposição existentes no subsolo. Afiançam, com segurança, alguns sertanejos, que o peba come até carne de defunto no subsolo de alguns cemitérios. Será por isto? E bem provável que sim. É factível esta suspeita .
Gibson Azevedo da Costa Natal-RN, 19/10/2007.
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