terça-feira, 3 de novembro de 2015

Narrativas seridoenses.



                 Na ultima quinta feira, 29 de outubro, compareci a concorrida noite de autografo no lançamento do livro “Narrativas Seridoenses”, de autoria do escritor caicoense Francisco Medeiros, na livraria - Sicilliano do Shopping Midway Mall. Volume este, é o segundo, que faz parte de uma trilogia, cujo último volume está programado para ser lançado nos dias que antecedem ao Natal deste ano. Devo dizer,  que enaltecer as qualidades literárias do Dr. Chiquinho - como é carinhosamente conhecido -, é o mesmo que “chover no molhado”, dado a forma sóbria, lacônica e prazerosa da sua escrita. Trata-se de um Ser preparadíssimo para discorrer sua verve pelos trancosos, lendas e benzidos tão carinhosamente guardados e a nós transferidos  por nossos antepassado, pioneiros fundadores da nossa região. Poucas pessoas escrevem como ele sobre o corriqueiro de nós outros,  como também sobre os “ sucessos “ ocorridos ou imaginados por nossos conterrâneos  de antanho, nos primórdios da nossa região.
               Li, devo dizer,  praticamente de uma “estirada só e ponho-me no aguardo do último volume de supracitada trilogia. Que venha mais estórias da carochinha e as de assombrações; dos valentes e as dos falsos valentes – medrosos –; não me faltará tempo para “sorvê-las de um só “gole”... Eu bem que as leio degustando uma boa cerveja ou uma honesta cachacinha. Um forte abraço ao grande amigo e escritor.

                 
Eu e o Dr. Chiquinho.
Vemos  aqui a presença de outro grande companheiro do autor, o Samuel Fernandes
Dr. Chiquinho, ..., Aluísio Lacerda, ... e seu grande amigo Albérico.
                                           
Autografando um exemplar para, o também escritor, Ciduca Barros.

                                       

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Lembranças.




            Os eventos vão e voltam obedecendo aos caprichos da nossa memória. Há poucos dias, ficou-me martelando o pensamento, a lembrança recorrente de uma expressiva poesia de autoria do meu querido amigo e poeta Marivaldo Ernesto dos Santos. Devo confessar que da referida não consegui lembrar o  título. Peço encarecidamente ao mestre “Mariva” que a intitule novamente para o nosso deleite, deleite de pobres mortais.
            Atendendo àquela insistência do meu subconsciente mostro, com muito prazer, a rainha das trovas (na minha modesta opinião) na visão daquele singular vate, de sensibilidade maiúscula. Observem:  

“ De que me vale a vitória
 Se ela representa a dor
Da taça cheia de glória
Do pranto do perdedor? ...”

   Marivaldo Ernesto dos Santos

Natal-RN, 26 de agosto de 2015.

       Gibson Azevedo da Costa.

sábado, 15 de agosto de 2015

Alecrim, um bairro popular que continua efervescente.


           
                                Existem nas grandes cidades, agrupamentos de ruas, alguns logradouros, determinados espaços urbanos que albergam algumas comunidades de pessoas que conservam muitos dos vários aspectos, das características dos povos dos seus arruados de origem e dos muitos viventes ali alocados. Alguns ali residem há muitos anos na nova morada, sem, contudo, perderem o jeitão brejeiro - bronco, por vezes – dos parceiros primitivos dos seus cantões de nascimento. Refiro-me a alguns bairros, que mesmo vivendo o avanço tecnológico dos tempos modernos, não abdicaram totalmente dos costumes ancestrais, pedaços do passado que teimam em nos acompanhar por caminhos longínquos, com muitas lembranças de eras medievais. É um encontro mágico do tempo: presentes no mesmo cadinho, o novo e o velho. Assim é o lugar... Assim é o seu povo. É assim o bairro do Alecrim.
Igreja de São Pedro.
                            O aspecto que mais caracteriza este povo é a vocação aparentemente fácil de buscar e consequentemente encontrar a felicidade... Sem maiores arrodeio, este Bem maior das sensações humanas se apegam imanentemente a estes entes simples. Como singelo também são os seus meios os quais estas pessoas utilizam para sentirem-se felizes. Falar do Alecrim e não falar do seu povo é o mesmo que pintamos um quadro de natureza morta. Se desperta algum interesse, este, não passa da técnica utilizada pelo artista. Não tem nenhum apelo popular. Trata-se de uma peça estranha... Quase alienígena.
                               Pois bem, dos viventes do Bairro do Alecrim, a maioria vinda do sertão do nosso Estado ou das grotas de outros entes federativos, também nordestinos, ou dalgumas regiões mais distantes como os militares da Marinha que servem na Base Naval de Natal  oriundos, repito, de outras plagas, herdou-se os costumes, a forma prática de enfrentarmos os obstáculos naturais do cotidiano. E no equacionamento rápido e eficiente destes óbices comezinhos gerou-se  a organização arquitetônica e topográfica daqueles logradouros público.
  
Feira Livre do Alecrim.

                             Sua gente? Ah!... São seres humanos fantásticos, sem mistérios! Seja na Feira, nas oficinas, nas igrejas, nos hospitais, no cemitério, nos colégios, no comercio – que é enorme -, nos eventos culturais etc., seus habitantes, com hábil desinibição, elucidam qualquer situação incômoda com desembaraço surpreendente. Isto é uma característica humana da luta pela sobrevivência... Aqui não podia ser diferente. É provável que se origine deste viés urbano, o zelo pelas tradições ainda presentes nestas comunidades. A história da nossa urbe, desde os primórdios de pequena província até dias atuais, quando a vemos com ares da maioridade de uma metrópole, sofre influência do antigo entreposto suburbano, “o saudoso Hotel Caiana”, do bairro Alecrim ainda incipiente. Nada ou ninguém chegava à Natal, exceto  por via férrea, aérea ou naval, que não passasse pelo crivo da recepção dos moradores e o do comércio do Alecrim. Assim sendo, não podemos deixar cair no esquecimento a história desta importante quadra habitada da nossa cidade.
Praça Gentil ferreira - Cruzamento do Relógio.
                             Surpreendeu-me em demasia a atitude de alguns abnegados das palavras, quando tiveram a feliz ideia de editarem uma matéria ( uma revista de cunho cultural) sobre aquele tradicional bairro enaltecendo seus valores , suas riquezas sociais, suas ilusões, seus objetivos..., sem que para isto visassem algum lucro  que lhes dessem vantagens... Fizeram-na com a vocação dos puros, salvaguardando o cabedal da memória da nossa cidade. Certamente serão lembrados pelos natalenses das futuras gerações. Que assim seja!... Foram eles: Maurifran Galvão, Fábio Henrique, Zenaide Castro, Edmo Sinedino, Rubens Lemos Filho, Fernando Quintiliano e outros... Nada poderá apagar a atitude deles: de transformar em realidade a vontade e os sonhos de alguns conterrâneos, que, infelizmente não possuíam coragem de ir à luta a transformar uma ideia em realidade.
                              Bravos! Vivas! Vocês encontraram-se com a HISTÓRIA e com o merecido garbo. Parabéns.
                                Natal-RN, 13 de agosto de 2015.
                                      Gibson Azevedo da Costa
                    – residente em Natal há quarenta e seis anos -.

domingo, 14 de junho de 2015

Mais uma do impagável Zé da Luz.

Tela do pintor Di Cavalcanti.
                     





  Esta, senhores, é um das suas mais conhecidos poesias. Não me canso em admirá-la visto tratar-se de coisas e temas simples, mas que prende o nosso imaginário sobremaneira... Ôôôôô... "cus diabos", "cumpade Zé"! Essa aí tira a gente do sério!...

                          







As flor de Puxinanã
                          (Paródia de as flor de Gerematáia, de Napoleão Menezes).


Três muié ou três irmã,
Três cachorra da molesta,
Eu vi num dia de festa,
No lugar Puxinanã.

A mais véia, a mais robusta
Era mesmo uma tentação!
Mimosa flô do sertão
Que o povo chamava Ogusta.

A segunda, a Guléimina,
Tinha uns ói que ô! maldição!
Matava qualquer cristão
Os oiá dessa menina.

Os ói dela parecia
Duas estrela tremendo,
Se apagando e se acendendo
Em noite de ventania.

A terceira, era Maroca.
Com um corpo muito malfeito.
Mas porém, tinha nos peito
Dois cuzcuz de mandioca.

Dois cuzcuz que, por capricho,
Quando ela passou por eu,
Minhas venta se acendeu
Com o cheiro vindo dos bicho.

Eu inté me atrapaiava,
Sem saber das três irmã
Que eu vi em Puxinanã,


Escolhendo a minha cruz
Pra sair desse embaraço,
Desejei morrer nos braços,
Da dona dos dois cuscuz










Poeta Zé da Luz











Natal-RN 14 de junho de 2015.
     Gibson Azevedo - poeta

terça-feira, 9 de junho de 2015

Beleza e criatividade no traço.

     

             Ontem me peguei contemplando a arte do meu grande amigo e primo, o cartunista de traços incomuns Reinaldo Azevedo. Este mimo que ele teve para comigo ocorreu, por conta de uma saudação que fiz ao poeta Carnaubense Francisco Rafael Dantas, conhecido carinhosamente por França, na noite de autógrafo do lançamento do seu livro de poesia "Carnaúba dos Dantas em quatro atos" , nos idos de 2006, nos salões da Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte. A charge ficou magnífica. Vejam:

E um pouco da verve poética no formato de sextilhas,  do, hoje saudoso, poeta França:

" Nasci na Volta do Rio,
  Longe de luxo e nobreza...
  Mas alegre por viver,
  Num cenário de beleza,
  Assistindo aos espetáculos
  Que fazia a natureza..."
                  (Francisco Rafael  Dantas)

Natal 09 de junho de 2015.
Gibson Azevedo.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A cacimba.

Mais uma pérola do grande poeta Zé da Luz. Vejam que preciosidade. É um Renoir das palavras brejeiras:

A CACIMBA

Tá vendo aquela cacimba
Lá na bêra do riacho,
Im riba da ribancêra,
Qui fica, assim, pru dibaxo
De um pé de tamarinêra?
Pois, um magote de môça
Quage toda menhanzinha,
Foima, assim, aquela tuia,
Na bêra da cacimbinha
Tomando banho de cuia!
Eu não sei pru quê razão,
As águas dessa nacente,
As águas qui alí se vê,
Tem um gosto deferente
Das cacimba de bêbê…
As águas da cacimbinha
Tem um gôsto mais mió.
Nem sargada, nem insôça…
Tem um gostim do suó
Dos suvaco déssas môça…
Quando eu vejo essa cacimba,
Qui inspio a minha cara
E a cara torno a inspiá,
Naquelas águas quilara,
Pego logo a desejá…
…Desejo, pra que negá?
Desejo ser um caçote,
Cum dois óio desse tamanho!
Pra vê, aquele magóte
De môça tumando banho!

Severino de Andrade Silva, mais conhecido como Zé da Luz, nasceu na cidade paraibana de Itabaiana em 1904, foi um alfaiate de profissão e poeta popular brasileiro; morreu no Rio de Janeiro em 1965.


Natal-RN 27 de maio de 2015.
Gibson Azevedo - poeta.


segunda-feira, 4 de maio de 2015

Na marcha batida do tempo.




Na marcha batida do tempo.
Hoje, dia 1º de maio, me dou conta que completou-se um ano de saudades, um período completo sem o meu compadre Mano (Justiniano Siqueira). 
O grande tribuno romano, Cícero, em um dos seus muitos ensaios filosóficos, disse-nos que a amizade é o maior dos sentimentos humanos, pois que nos é dado e, ou doamos gratuita e espontaneamente a pessoas que admiramos, ou que se nos admira; fato que acontece natural e perenemente, sem cobranças ou logro arteiros que visam tão somente vantagens espúrias. Assim falou o grande filósofo latino:
"...em meio à infinita sociedade do gênero humano, que a própria natureza dispôs, um vínculo é contraído e cerrado tão intimamente que a afeição se acha unicamente condensada entre duas pessoas, ou raramente mais que duas..."
" Os doutos estão habituados, sobretudo os gregos, a que lhes coloquem questões que eles debatem quanto se quiser na mesma hora. Por conseguinte, para explorar o que se pode dizer sobre a amizade, penso deveríeis interrogar aqueles que fazem profissão de fé desse tipo de exercício. De minha parte, tudo o que posso fazer é vos incitar a preferir a amizade a todos os bens desta terra; com efeito, nada se harmoniza melhor com a natureza, nada esposa melhor os momentos, positivos ou negativos, da existência."
A amizade
Marco Túlio Cícero (44 a C.)
O sentimento da amizade, assim como a música e a poesia, parece-nos ser um dos meios mais fácies de comunicação com o divino (divino, entenda-se a força criadora da mãe natureza). A amizade é uma atração, um amalgama de valores que se somam no relacionamento humano, que se fortalece com o tempo. E é válido para toda a vida. Visto não esmorecer com as ausências naturais dos hiatos da presença física que a vida caprichosamente nos submete.
Assim, assim, a amizade que tinha para com o meu querido amigo Justiniano, creio hoje, surpreendentemente, se estenderá para além da vida, pois que ainda sinto-a com a mesma intensidade.
Abraço saudoso a sua memória, amigo Mano.
Natal-RN, 1º de maio de 2015.
Gibson Azevedo – poeta.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Gracejos em forma de Lei.



                                                               Gracejos em forma de Lei.


                      Sem medir as consequências deste ato pouco pensado e de gestação leviana, o Congresso Brasileiro aprovou uma macaquice estapafúrdia e de necessidade nula, que chegou ao grande público com a alcunha chula de “Lei da palmada”. Essa gaiatice travestida em lei impede que os pais, em atos corretivos na educação e na formação do caráter das crianças brasileiras  possam, sob pena de serem punidos com rigor, aplicar aos seus filhos, quando necessários, uns bem distribuídos tabefes e ou umas mais que merecidas surras. Ora! Como sabemos, desde o começo da história da humanidade, com ajuda dos primeiros escritos rupestres, sabemos que os animais superiores, inclusive o homem, sempre disciplinaram suas proles com os rigores que julgavam necessários, métodos disciplinares que os séculos e os milênios consagraram. São Leis pétreas... Pedra angular na formação das famílias. Nunca, por estes costumes milenares, teve-se notícia dalgum “rebento malcriado” ter-se tornado demente ou incapaz, por ter levado algum corretivo em reprimenda a alguma “danação de menino levado”. Muito menos que tenham odiado ou guardado rancor dos seus genitores, por estes haverem sido severos na maneira de educá-los. Educá-los, sim! Pois é na família, com a educação aprendida no lar, que tornamo-nos cidadãos ordeiros e orgulhosos de sermos bons.
                       Existem uns filósofos apressados em celebrizar-se que, nos seus pensamentos gestados por conveniências e anunciados de afogadilho, dizem: “Toda criança nasce boa, nós é que as estragamos”. Ora! Nada pode ser mais falso!  Parece até que estes doutos senhores também não foram criança, não viveram as peripécias do pouco juízo dos nossos primeiros anos. Nesta época, não se tem noção dos limites da salutar convivência humana. Daí a necessidade de algumas memoráveis surras, para nos lembrarmos para toda a vida da existência destes sagrados limites. Alguém tem dúvidas? Então, aí vai uma pequena história para que vocês possam fazer o isento julgamento disto que estou afirmando:
                      Era meados da década de cinquenta do século que findou, na cidadezinha conhecida como Jardim do Seridó, que outrora, ainda como vila, chamava-se de Conceição dos Azevedo em homenagem a família fundadora daquele singelo arruado. Foi lá que deu-se um pequeno fato, episódio sem importância, mas que marcou-me sobremaneira, a ponto de está narrando-o passados sessenta anos. Pois bem, naquele aglomerado urbano, de poucas casas à época, morava uma provecta senhora, Dona Generina, que vivia, no ocaso da sua vida, a confeccionar coroas de flores para eventuais funerais, e o restante do tempo era destinado às suas sagradas preces, como também às obras sociais da igreja. Era um anjo de pessoa...
                     Certa vez, estava eu e o meu primo Niltinho em um “nada fazer” na calçada do seu avô Joaquim, que fazia esquina com a casa da citada senhora, quando ele tirou do bolso do calção  uma bombinha, um rojãozinho conhecido como “peido de veia” que promove um pequeno estalo (pipoco). Ele, muito sagaz, me disse de forma dissimulada que tinha medo de soltá-lo, perguntando-me se eu tinha a coragem de acender o pavio daquela bombinha.
                      Tenho medo não, Niltim! – respondi com exagerada coragem.
                   Tem não? Você solta mesmo? – perguntou-me como se duvidasse, quando na realidade ele estava me induzindo a fazer uma traquinagem por ele arquitetada.
                  Solto agora... Quer vê? Me dê ela aqui!... – respondi de pronto.
                   Eu dou. Agora, você tem que jogá-la dentro daquela casa, por aquela janela... – apontou para casa da Dona Generina. Peguei na bombinha sem pensar e esperei ele acender o fósforo para, de imediato, jogá-la por cima do batente da janela. (Naquele tempo as casas não tinham nenhum recuo e as janelas ficavam ligadas contiguamente à rua, voltadas para a calçada). Joguei-a e corri. Quando já alcançava a outra esquina do quarteirão, escutei o estouro do artefato e um grito de uma pessoa idosa: Aí, Jesus!!!! Naquele momento, percebi o tamanho do “mal feito” que eu havia cometido. Ao chegar a nossa casa, muito calado, minha mãe notou que boa coisa eu não tinha feito e começou a me interrogar... Não foi necessário muito interrogatório, não. Chegou uma pessoa, uma senhora que vivia na casa da Dona Generina, participando à mamãe que eu havia engendrado a tal maluquice. Apanhei como nunca da minha mãe e, mais tarde, fui severamente surrado por meu pai, sendo que, esta reprimenda era intervalada com sermões disciplinadores. Papai me fez entender que aquilo poderia ter causado um incêndio, que a anciã poderia ter morrido do susto, que um homem de bem jamais faria aquilo..., etc. Passei alguns dias com as nádegas doídas, e muito envergonhado, quase sem sair na rua. Sentia vergonha, de fato, pelo absurdo que eu havia cometido e não por haver apanhado, pois eu bem que mereci àquelas pancadas.
                    Meus pais? Nunca deixei de amá-los e respeitá-los. Agradeço sempre a Deus os pais severos que Ele me Deu. E agradeço e não esqueço as santas palmadas que formaram o homem que sou.

                                           Natal-RN, 16 de abril de 2015.
                                               Gibson Azevedo – Poeta.

terça-feira, 31 de março de 2015

Meio século.

Cinquenta anos sem o poeta Zé da Luz...


Zé da Luz ainda jovem.



Severino de Andrade Silva (Zé da Luz - poeta sertanejo), nasceu em Itabaiana, PB, em 29/03/1904 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 12/02/1965.

 












AI! SE SÊSSE!...

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e  cum tu insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!

             Poeta Zé da LUZ.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Relendo Esmeraldo.






   
A natureza forjava estes homens. 
              
Neste dia 26 de março de 2015, passando em revista rápida pelas redes sociais,  eis que vejo os três primeiros versos de um poema sobre a Natal de antigamente. Fiquei surpreso com o meu comportamento ante àquelas partículas de um poema, que não se nos aparecia por inteiro. Não me contive: apertei no “ver mais” e deparei-me com o grande poeta Esmeraldo Siqueira, que conheci através do seu filho, o meu compadre Justiniano Siqueira (Mano). Ele, já em idade avançada, mas, ainda muito incisivo no seu jeito áspero de pensar. Era um homem duríssimo.  No entanto, um ente muito justo e caridoso sempre assistindo aos mais necessitados. Ele e sua esposa, D. Iris, mantinham relacionamento anônimo com algumas famílias carentes do Morro de Mãe Luíza, sempre lhes chegando com alguns gêneros de primeiras necessidades.  Cheguei a testemunhar algumas vezes esta espontânea bizarria do casal.
Esmerado, como grande orador, discursava para amigos...
                  Pois bem, este vate de poesia ácida, por vezes ferina, foi até agora ignorado pelo grande publico literário de sua terra. Oportunamente vaticinou: - Natal não consagra nem “desconsagra” ninguém! 
                Como veremos, este isolamento inicial dos pseudo eruditos em nada o diminui, pois com o passar dos anos sua importância literária cresce, e crescerá como cresceu o valor de Augusto dos Anjos, que até após a sua morte era considerado um poeta maldito; ao contrário de um Olavo Bilac que era considerado o “príncipe dos poetas”. Hoje, décadas passadas, Augusto é muito mais estudado e apreciado do que, o outrora festejado, Olavo. Assim mesmo deverá ocorrer com o grande Esmeraldo, pelo simples motivo: ele, quando inspirou-se na concepção dos seus alumbramentos poéticos - sempre fiel às suas musas - nunca procurou agradar a quem quer que fosse. Sua poesia surgia limpa. Áspera, por vezes, mas nunca servil, sem pieguices.
 
Algumas trovas fantásticas.
         
Natal haverá de render melhores louvores a este HOMEM. Quem viver verá!
(Gibson Azevedo - Natal-RN , 26/03/2015).

                     




                      
                    Natal antiga

A Natal que eu amei não mais existe.
Era pobre, era humilde, era singela.
Recordo tudo ainda... E como é triste
A saudade que estou sentindo dela!

Visões celestiais da meninice
Devaneios febris da mocidade,
Ressurgem-me na ingênua garridice
Desse viver antigo da cidade.

Passava mansamente cada dia.
O tempo não mudava, e ainda havia
Que às maneiras d’agora semelhasse.

A própria natureza era serena,
Nossa existência transcorria amena
Como um sonho que nunca acabasse.

            Esmeraldo Siqueira
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