Pessoas que o poeta teima em não esquecer
Encontro do poeta Wellington Medeiros com o amigo o Doutor Luiz Antônio(+)
numa festa do ex-aluno do Colégio Diocesano Seridoense ocorrido há vários anos.
Sinto-me no dever de publicar este poema no formato de quadras que me foi presenteado pelo amigo e poeta popular Wellington Medeiros, referindo-se a vultos populares que povoaram, há tempos, a nossa cidade Jardim do Seridó. São preciosidades da memoria daquele homem maduro, que bem ficariam se não se perdessem nas curvas empoeiradas do tempo. Penso assim e assim faço o registro:
Peço a sua permissão
Pra falar de eternidade
E figuras que se foram
Deixando muita saudade
Júlio Lobo, foi primeiro
Em seguida Antoin Baxim,
Biró Preto, João Vilar
E Seu Mané Chicotim
Avelino, Joaquim Alves,
Miliano, Andrézinho,
O grande Antoin Diá
E o maestro Galinho
Severiano, Pedro Lucas,
Fufado, Mané de Ana,
Cabra João, Migué Silvestre,
Seu Rosendo e Zé Santana
Comerciantes de fama
Júlio Mizael e Paulinim
Eram parentes próximos
Do fazendeiro Nequim
Vereador Esmerino,
Homem sério sem iguá
Eram do mesmo naipe
Ferreirinha e Dorgivá
Leopoldo, homem tranquilo,
Mané Xambá, bom padeiro
Chico Né vendia fumo,
Bebêdo, o relojoeiro
Ozires é um caso à parte
Foi enfermeiro e prefeito
Morava no meu coração
Do lado esquerdo do peito
Paulo e Pedro Paú
Dois irmãos muito queridos
Viveram mais de cem anos
Alegres e sempre unidos
Murilo, o comerciante,
Chico Galdino, o bodegueiro
Abá dos filmes no Grupo
Jesuíno o tesoureiro
João Medeiros, Orilo Dantas
- Este deixou muita dor -
Não frequentou faculdade
Mas era o nosso "Doutor"
Homero era o poeta,
Carneiro o historiador,
Seu Tião o tabelião,
Seu Vicente o consultor
Ciço Teixeira, o Buato
Zé Agostim, o carteiro
Chico Gonzaga, o forró
E Tutu, o mensageiro
João Babado das bananas
Era uma figura marcante
Pena que não gostava
Do mecânico Zé Cavalcante
O grande Mané Bernardo
Um exímio ponta esquerda,
Pensou disputar com Miranda
A seleção brasileira
Walter Nóbrega, o mentiroso,
Zé Santana, o loroteiro,
Cheno,
o arataca
Quelemente o açogeiro
Migué Peba, pai de Lalá,
Foi um grande sapateiro
Pena que nunca entrou
Na Porta de um banheiro
Gregório Cego falava
Gemendo como uma cama
Mas ele o que mais gostava
Era encher a cara de cana
O meu amigo Pachola
Filho do primo Gelásio,
De tanto emborcar o copo
Morreu bem moço, o coitado
Mestre Ciço mascava fumo
E Limoeiro também
Zé
Babado vendia tempero,
Gengibre, pimenta e xerém
O Presidente Getúlio
Morreu dum tiro de lazarina
Em Jardim deixou um devoto
O Seu Chico Catarina
Seu Paulino Chapeleiro
“Poeta do Lino é pau:
Tirando o Pau de Paulino,
Paulino fica sem pau!”
Antoin Sabino cuspia
Para comprar algodão
Mas quem trazia pra Usina
Era o tarado Cição
Avelino Maciel
Matava bode e ovelha
Mas
quando tomava umas
Terminava em caganeira
Júlio e Antoin Cristino
Herdaram do pai o apelido
Levaram Geraldo Dias
Deixando o Ganso sofrido
Pedro Roque (dos Morais) todo sábado
Tomava um porre danado
Pra amanhecer no domingo,
Na praça, todo cagado
Tinha uma empresa de ônibus
Do Seu Joaquim Baltazar
Homem que tinha uma puta
Em quase todo lugar
Teve Júlio Cassiano,
Misto de músico e tribuno,
Nas truacas que tomava
Discursava para o mundo
Falando sobre o Brasil
Na esquina, com Nêgo Zãe,
Um fuleiro gritou: BURRA!
Respondeu: “É o cu da mãe!!!”
Zé Braúna tinha uma burra
Famosa na região
Que fazia a alegria
Dos meninos do meu rincão
Benício o funileiro
Presava ceder “os quartos”
E se
roçando em Fulô
Prometia uns “artefatos”
Pedi ao meu Deus do Céu
Pra não esquecer ninguém
Sei que faltou muita gente
E muita rima também
Quem escreveu estas coisas
Não passa de um
Fuleiro,
Além de Cabra Safado,
Tinha que ser brasileiro
Termino
estas asneiras
Sem pensar em ser vedete
Sentindo, porém, um orgulho:
Ser filho de Maria Odete.
(Poeta Wellington Medeiros)
Natal-RN 14/ setembro/ de 2022.
Gibson Azevedo