quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Equívoco português


                                                                                       Equívoco português
Igreja de Sta. Engrácia - Panteão Nacional (Lisboa-Portugal)



                         Soube certa vez através de um amigo lusitano, o poeta Fareleira Gomes, que existe em Portugal, mais precisamente na igreja de Santa Engrácia, um local onde estão sepultados alguns portugueses ilustres chamado de Panteão Nacional. Ali se encontram no sono eterno os restos mortais de destacadas figuras da vida de Portugal, da história portuguesa, orgulho carinhoso dos ciosos lusitanos. Almeida Garrett, Amália Rodrigues, António Óscar de Fragoso Carmona, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro, Humberto Delgado, João de Deus de Nogueira Ramos, Manuel de Arriaga, Sidônio Pais, Teófilo Braga, são as figuras localizadas naquele  augusto estabelecimento seiscentista  –  cinco homens de letras, uma cantora e atriz, e quatro políticos. Louvável! Boas atitudes... Entretanto, um erro gravíssimo se comete com alguns luminares das letras portuguesas... E parece que ninguém liga! Ninguém se importa com esta segregação cultural. Daí por que,  o Estado laico(secular) leva vantagem sobre os seus pares de cunho eclesiástico, que confundem gestão com fé. Uma coisa, nada tem com a outra. A fé é livre e introspectiva. Quando esta, dita, às normas e leis do Estado, vemos aflorar os mais grosseiros erros administrativos, seja no campo social quanto em outros, como o econômico. O cultural, nem é preciso comentar! Não vemos maiores alardes para prantear devidamente,  com o douro que merece,  o poeta Manuel Maria Barbosa Du Bacage. Uma estatuazinha no Setúbal..., uma citação aqui, outra ali..., coisas muito discretas. Nada de mais pomposo para homenagear, com justiça, um dos três maiores poetas portugueses. Talvez, por ele não versar em temas insípidos como os eclesiásticos.
                          É patético o que acontece à memória do maior escritor português. Se existe um panteão em um ambiente que enobrece aos justos, como uma antiga igreja, deveria, com muita justiça, Eça de Queiroz encabeçar a lista dos eternamente pranteados nestes claustros mausoléus. Não fora um pequeno túmulo erigido em uma minúscula cidade (Tormes), que só passou a existir depois do lançamento do seu livro “A cidade e as serras”, talvez, estivesse este enorme escritor, sepultado em local desconhecido. É possível!... Talvez a Igreja Católica, vingativa como tem demonstrado ser ao longo dos séculos, não o tenha perdoado por ter concebido e publicado o impagável "O Crime do padre Amaro" tendo como cenário a cidade ultra religiosa de Leiria; quando colocou a nu toda a hipocrisia velada que existia e ainda existe, em muitas, senão em todas, dessas agremiações cristãs.
                        Não vejo outro motivo para este descaso. Ao melindrar os sentimentos de algumas pessoas religiosas, paciência; peço vênia, estou distante; talvez por isto eu enxergue melhor o contorno das evidências.
                         Este erro de memória, no mundo das letras portuguesas, precisa ser
urgentemente reparado.

                                  Natal-RN, 29 de setembro de 20011.
                                                                  Gibson Azevedo da Costa
                                

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Imbróglios da pequena burguesia.


                                               Imbróglios da pequena burguesia

Bevé, camisa entreaberta,bebericando com amigos.

                          ...Desta triste constatação, aqueles homens e mulheres tomaram a  seguinte decisão: seus filhos seriam decentemente instruídos! Se possível nos melhores estabelecimentos de ensino, nas melhores cidades do País. Estudariam e aprenderia o que fosse possível um Ser humano aprender. Seriam Doutores!... Muito justo! Justíssimo!  No entanto, num excesso de zelo, cometeram um grave erro: o de não permitir que seus filhos trabalhassem, para não perderem tempo com os “afazeres menores”.  Ora, se o trabalho sempre honrou e dignificou o homem, por que não dignificaria  àquela geração de jovens? O fato é que, os rapazes que trabalhavam eram desprezados pelas moças das melhores famílias, pois se sabia, de imediato, que tais donzéis eram de origem muito humilde. O jovem de origem aristocrática não trabalhava!  Isto gerou, alheio a vontade dos pais, alguns exemplos de miserandos vagabundos; párias mesmo!
                                                                 
                      Agora veio-nos à lembrança a figura de Bevenuto, mais conhecido como Bevé; Breguesso, para os amigos mais chegados. Apesar do esforço do seu honrado pai, o velho Né Veras, para colocar os filhos – Bevenuto, Preto e Arnaldo(Galego Manga Larga) -  para estudar, não conseguiu afastá-los da ociosidade, da vida mansa, do nada fazer. Dentre eles, Bevé destacou-se... Cultivou o gosto pelas coisas caras, roupas finas e hábitos extravagantes; geralmente fúteis, sem que, para isto, demonstrasse o menor esforço para merecê-los. Quando o seu pai tomou conhecimento da situação, fechou-lhe as torneiras do suprimento pecuniário, tão precioso àquela doce vida. Bevé, apesar de tudo, não perdeu a pose. Longe disto! Adotou a conduta de não pagar as suas contas; agindo como se fossem coisas rotineiras e sem importância. Transformou-se no maior “um sete e um” do seu tempo. Sentia-se realizado ao burlar qualquer norma, desequilibrando, com trotes bem bolados ou grosseiros, os inocentes, os incautos.
  
O advogado José Hélio, do INSS, mais conhecido como Zé Buchinho, referia-se com frequência a um episódio ocorrido no Recife-PE, onde morava, numa pequena república, com vários estudantes oriundos da cidade de Caicó-RN. Alguns, como ele, já cursavam alguma Faculdade. Viviam, como era natural que assim ocorresse, com muita dificuldade, pegando a “xepa” na Casa do estudante; sendo, por isto, portadores de uma fome crônica naqueles meses de estudos, ausentes de seus lares e famílias. Bevé não estudava mas por lá “dava as caras” e, mesmo sem ter direito, chegou a ser xepeiro na citada Casa do Estudante. Bem, tal episódio ocorreu num domingo à noite, quando vários estudantes moradores daquela república matavam o tempo daquele insípido dia, onde o doutor “Lisêu” reinava sem adversários, absoluto, jogando cartas (pife-pafe) e bebericando uma meióta de cachaça, com farofa de sardinha aquecida na própria lata da conserva. Lá pras tantas, apareceu Bevé...  Bem vestido e perfumado, com cara de quem vinha de bons ares.
 Depois de cumprimentar todo mundo e tendo feito as festas de praxe, foi-lhe oferecido uma dose de cachaça com um pouco de farofa. Bevé, boçal ao extremo, agradeceu, declinando o convite, pois, segundo afirmava, só estava ali de passagem e que acabara de jantar uma lagosta regada a vinho no tradicional Restaurante Savoy. Ficou a conversar alguns minutos, até que, num dado momento resolveu tomar a tal dose, já que para isto não precisaria pagar nada. Sorveu-a de um só gole. Mas, a “mardita” ficou atravessada entre a boca e o estômago, numa arenga medonha com a sopa que ele havia “defendido” há poucas horas na Casa do Estudante. Naquela luta inglória, Bevé saiu perdendo, pois devolveu de imediato todo o conteúdo estomacal, ali mesmo, junto aos companheiros. Zé Buchinho lembrou que estava presente um sujeito rouco, que apesar disto, falava alto e não gostava de quem contava vantagens. Neste momento, este indivíduo pegou um palito dental e começou a remexer o vômito, comentando: “cenoura..., chuchu..., batatinha..., pimentão..., macarrão...” “Huuunrrum...! Cadê a lagosta, Bevé?”
A gozação se fez à solta naquele resto de noite, entrando pela madrugada de conhecida e fria cruviana...


Natal-RN/fevereiro de 2001.
           Gibson Azevedo – Seridoense, com orgulho.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Botaram embreagem em sapo.


Raimundo - transpirando muito - pós performance
   


            Raimundo Cururu, certo sábado de feira em Caicó-RN, tomou todas e turbinado como estava, aproveitou um Trio de "forró pé de serra" que se apresentava frente a Loja Paraibana e deu um show de sapateado; um misto de xote, frevo e dança dos "negros do rosário". ( Raimundo ficou famoso, pois tornou-se o simbolo do "homem macho", na recente campanha de apoio ao projeto de lei que tramitou na Câmara de vereadores de São Paulo, para a criação do "dia do orgulho hétero-sexual". Projeto este, já  aprovado por aquela Casa Legislativa, mas que o prefeito Kassab vetou, numa atitude  pernóstica, arbitrária  e truculenta.)
           
             Fiquei muito impressionado com a performance de sapateado do Baryshnikov caboclo “Raimundo Cururu” e, não havendo outro jeito, a saída que encontrei foi glosar sobre o inusitado. Fantástico! Ei-la:


Mote:
             Botaram embreagem em sapo
             Na dança do Cururu.
Glosa:
             Era manso e sem sopapo,
             O bailado do Raimundo...
              Deduziu-se num segundo:
             - Botaram embreagem em sapo.
              Da risada, não escapo:
              Ver aquele jaburu
              Bicar cachaça com “imbu”,
              Improvisar gafieira,
              Rebolar no “mêi” da feira,
              Na dança do Cururu!...

          Natal-RN, 17/março/2010.
           Gibson Azevedo – poeta.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Somente para refletir. ( Lapso do pensar).

El Pensador - de Auguste Rodin

                  
                           Lapso do pensar


Será viagem ou aventura,
Esta ação de andarilho,
Que deixa minhas marcas..., rastros...
Sob a ação da poeira cósmica,
Que a tudo e a todos sepulta e
Joga no esquecimento.
Divago tolo...
Será que procede, o pensamento?



Natal-RN, 18 de abril de 2011.
Gibson Azevedo -  poeta
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