segunda-feira, 4 de maio de 2009

Muitos vivas ao acaso.

Mais um causozinho para descontrair... Espero que gostem:



Estava eu, trilhando uma cansativa estrada na árdua procura da ciência, no X Congresso de Odontologia do Rio Grande do Norte, ocorrido de 23 a 26 de agosto último, quando meio à caterva da feira da indústria do citado evento e as representações das entidades da classe, um mundo de colegas a comparecerem aos melhores cursos ou específicos da suas preferências, foi-me apresentado, junto ao burburinho constante destas reuniões, um companheiro do Ceará ligado a farmacoterapêutica - vereda da ciência na qual publicou diversos e oportunos livros. A princípio não passamos de um discreto cumprimento que trouxe a tiracolo um sadio aperto de mãos. Passaram-se as horas e, neste ínterim, fortuitamente, acostumamo-nos com nossas presenças dentro de um mesmo espaço físico.
Dr. João Elias Cunha

A simpatia, sorrateira e discreta, sem avisos veio. Refiro-me ao colega Cirurgião-dentista, das terras Alencarinas, o Dr. João Elias Cunha; também carinhosamente conhecido por "Distinto".

Ele, um sertanejo simpático de aparência de um bom beato, onde a sinceridade - moeda farta, estampada em seu rosto -, disfarça em parte a renitente timidez que teima em acompanhá-lo sempre, só ausentando-se por completo quando o mesmo encontra-se ministrando uma aula ou um curso. De acordo com o testemunho de alguns colegas, João Elias, nestas ocasiões, transforma-se, como se, se servisse de um eficaz mimetismo, em um animal palrador afeito a falações demoradas e rebuscadas, alicerçadas em conhecimentos duramente adquiridos e postulados.
Pois bem, lá pras tantas, como disse, meio a bulha da comunicação dos presentes, ao ciciar das muitas conversas, João Elias apresentou-se súbito diante de mim, olhou-me sem medo dentro dos olhos e perguntou: - caro amigo, você acredita em "comida reimosa"? E complementou brincando com um gracejo próprio dos sertões Cearense: - Ande Tonha!...
Respondi de pronto que tanto acredito em comidas reimosas, como em outras crendices e pajelanças que o meio científico e douto insiste em não aceita-las como verdades. No entanto, sente-se impudicamente incapaz de provar suas assertivas, como era de se esperar que acontecesse. Há de ser talvez a nossa origem sertaneja que nos faz pensar na importância das crendices, dos costumes e dos medos imprescindíveis na sobrevivência e multiplicação populacional nestas hostis regiões de antanho, seiva de epopeicos capítulos na saga dos nossos antepassados.
Devo considerar que a pergunta do João Elias, referia-se tão somente às comidas que causam "pustemas" nas mais variadas parte do organismo humano. É de acreditar que o objetivo era este, todavia, a bem da verdade, gostaria de citar outras que causam os maiores e mais inconvenientes desconfortos e desarranjos: ramos, má triste, istalicidos, colerinas, piriris, bafios podres, bucho inchado, arrotos chocos etc.
Como me comprometi com o ilustre companheiro, entrei em contato com uns aparentados meus que possuem a fama - talvez injusta - de serem catimbozeiros e, com eles fiquei a rememorar, sem pressa, algumas situações e estados mórbidos causados por algum tipo de comida ingerida em circunstâncias pouco recomendáveis. Também, por respeito a essas verdades, devo dizer que o Ser urbano - aquele que nasceu nas cidades, na pseudo-segurança do mundo moderno -, não crê nestes conhecimentos rústicos que, queiram ou não, são o berço da mais avançada medicina moderna e autêntico esteio dos mais civilizados costumes. (Os bichos novos lá de casa - meus filhos - olham zombeteiros e incrédulos para os conhecimentos de sobrevivência dos povos antigos de "lá de nós".)
Elías, Cabra véí, promessa é divida! Estou cá a pagar as minhas. E lá se vão:
* Algumas frutas fibrosas e indigestas como: manga, jaca, etc.
* Comidas de origem também vegetal como: feijão verde, macaxeira, milho e seusderivados..., são consideradas quentes (reimosas) por alguns ciosos sertanejos.
* Todas as carnes de pássaros d’água: marreca, paturi, pato comum, garça,putrião (?). Seus ovos também.
* Dos peixes do mar, só os de couro são considerados "carregados"; já os de água doce, só lembro-me do curimatã que, mesmo sendo peixe de escama, mulheres de resguardo são proibidas de comê-los
* Cisma total deve-se ter pelos "frutos do mar": camarão, ostra, caranguejo, siri,sururu, lagosta, etc.
* Alguns pássaros avoetes como: arribaçãs, nambus, faisões, etc.
* Das aves caseiras só a galinha - limpa por mais de um mês, cevada num chiqueiro -, é que é recomendável a sua ingestão por pessoas convalescentes. (O mesmo não se pode dizer do consumo dos ovos das mesmas: ovos caipira). Já o Guiné - a galinha d'Angola ou Capote, como é mais conhecida em determinadas regiões -, por ser um animal mais rústico também é contra-indicada pra a dieta destas pessoas. Reservas reticentes feitas também ao consumo do peru.
*Algumas caças de animais rasteiros: camaleão, tejuaçu, tacaca, peba, tatu verdadeiro, paca, preá, moco, punaré, etc.
* Todos os derivados da carne de porco ou de javali: bacon, lingüiça, presunto,toucinho e defumados em geral, picados, etc.; e a própria carne de porco. (Óbices feitostambém ao consumo de uma conserva doce, saborosíssima, conhecida com o nome dechouriço, que é feita a base de sangue e banha de porco).
Para encerrar, mesmo ciente que me esqueci de citar algumas importantes comidas reimosas, lembro que o mel de abelha, de conhecidas propriedades medicinais, de benéficos e constatados efeitos cicatrizantes, quando degustado nos próprios favos do exu, ainda quentes pelos efeitos dos raios solares, transforma-se num indesejável vetor das infecções de garganta: amigdalite, faringite..., e mais uma série de "ites" que incomodam sobremaneira.

* * * *
Relatos

Estes relatos são destinados aos que, por quaisquer que forem os motivos, não acreditam que certas comidas possam trazer desconfortantes estados mórbidos aos incautos que inadvertidamente as consumirem. É verdade que nem todos os indivíduos são suscetíveis aos seus nefastos efeitos. Todavia, estes alimentos transmitem-nos por imanência algumas substâncias - protéicas, é provável -, que no contato pouco habitual ao cardápio rotineiro de parcela considerável da população de uma determinada região geográfica, promovem inegáveis transtornos à saúde. Posto que, ficam, estas pessoas, expostas aos eventos de respostas imunológicas ou reações inflamatórias a tais presumíveis, e, estranhas substâncias; mormente haver pouco hábito no seu consumo, dificultou-se as necessárias adaptações digestivas, por grande parte dos seres humanos, ao
longo dos séculos. Espero que estes casos possam elucidar alguns pequenos equívocos. Até porque, as rnais célebres elucidações a alguns famosos enigmas, deveram-se a pacientes observações aos achados estatísticos. Nada ou pouco, custa-nos observarmos mais alguns:

1º- José Estevão do Rego Neto casou-se muito jovem, ainda universitário. Ele e sua digníssima esposa - sempre enamorados -, quando solteiros partilhavam de um namoro “muito acochado". Não deu outra: sucumbiram ao apelo irresistível dos hormônios e “avançaram o sinal”. Sendo ele um jovem de bom caráter, casaram-se imediatamente, passando a morar na casa do sogro. Ficaram nesta situação, sob a tutela dos sogros, até a sua formatura. Estudávamos juntos, na mesma turma; morávamos no mesmo bairro. Certa feita, Netinho, como era mais conhecido, convidou-me a comer na sua casa um peba que seu sogro havia trazido de Pau dos Ferros e que seria torrado por sua sogra - mãos de fada, exímia cozinheira. Dito e feito. No Sábado saboreamos esse regalo dos deuses regado a cervejas e uma boa cachaça, como é bem recomendável. Devo dizer que poucas caças superam o sabor de um peba torrado na pimenta. Memorável! Sabor inesquecível...
O inesquecível e indesejável, entretanto, ocorreria com os primeiros sintomas de infecção manifestos logo na Segunda feira: Senti de inicio, moleza no corpo e enfado forte, parceiros que são dos estados febris. Seguiram-se erupções cutâneas que descambaram para furunculoses em algumas partes do corpo... Completando o quadro degenerativo, surgiu, como por força de mágica, um corrimento gonorréico, decorrente talvez, dalgurna uretrite mal curada e adquirida, certamente, em aventuras próprias dos verdes anos. A cura deu-se com o uso de antibióticos específicos e de largo espectro.
2º- O dileto amigo o Advogado Marcus Marinho, conta que certa vez teve uma reação tão forte a um peba que foi degustado, na sua granja, por ocasião de um seu aniversário, que alem de estourar uma unha de um dos pés, sentiu um inchaço geral que inchou até o seu pescoço. Na iminência de um espasmo de glote, foi obrigado a baixar hospital por vários dias. Segundo ele mesmo afirma, ficou tão assustado com o quadro que nunca mais comeu qualquer tipo de caça.
- Dizem que o peba tem estes poderes deletérios, devido alimentarem-se de matérias em decomposição existentes no subsolo. Afiançam, com segurança, alguns sertanejos, que o peba come até carne de defunto no subsolo de alguns cemitérios. Será por isto? E bem provável que sim. É factível esta suspeita .
Gibson Azevedo da Costa Natal-RN, 19/10/2007.

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