segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Alegria e tristeza.



                                  Alegria e tristeza
  
Eu e o meu grande amigo.
Os sentimentos, as emoções que se nos apresentam à nossa existência, por mais díspares que nos possam parecer, são feitos com a mesma argila e agregados caprichosamente no mesmo molde. Nada é estanque ou segregado, tudo se interliga por caminhos imperceptíveis, todavia de enorme adesão, tornando-se difícil o seu entendimento.  Estão parelhos ou caminham paralelos, o amor e o ódio, a alegria e a tristeza, o claro e o escuro, a vida e a morte... Nada vem separadamente.
Foto recente no aniversário de 30 anos de fundação do seu bar.
                 Na semana que passou houve em todo Nordeste Brasileiro um vergonhoso  “apagão”, ocasião na qual faltou, na maior parte daquela tarde adentrando ao começo da noite, o necessário fornecimento de energia elétrica, fato que transformou esta vasta região num verdadeiro pandemônio. Um desastre! Toda a nossa matriz econômica ficou comprometida, e a grande massa de trabalhadores liberada do trabalho antecipadamente, viu-se refém de um trânsito caótico, "hiper-engarrafado",  devido a todos os semáforos terem ficado momentaneamente imobilizados, deixando, as normas dos cruzamentos das principais artérias urbanas das grandes cidades, sob a lei pré-histórica dos mais fortes. O nosso governo "pseudo-popular", de inúmeras e pouco recomendáveis ações administrativas, deu-nos como desculpa e causa daquele ensaio de tragédia, uma pequena queimada no Estado do Piauí. Não nos convenceu. Sobejamente sabemos, que há muito não se investe neste setor estruturante, o que nos coloca em posição de um perigo iminente, de um colapso catastrófico, de prognóstico ainda desconhecido. Pois bem, naquela quarta feira, por conta deste maldito e inesperado apagão, vi-me encalacrado num imenso e descomunal engarrafamento, quando inadvertidamente me encaminhava ao trabalho. Como não havia muito que fazer..., percebi que, com algum esforço e paciência, chegaria às proximidades do tradicional bar do meu amigo Mário Barbosa. Já se fazia tarde. Escurecia rapidamente no rastro de uma chuvinha persistente. Lá chegando, encontrei o ambiente cheio de pessoas que, como eu, fugíamos das desventuras das ruas às escuras e prenhe de carros. Comprovei, naquele momento, a veracidade das supracitadas assertivas.  Presenciei uma inesperada e alegre reunião humana, meio a um ambiente caótico e escuro, iluminado à luz de velas. Esta foi a anti-penúltima vez que vi  este meu grande amigo com vida. Confesso que aquela ocasião ficou gravada na minha memória como se fosse a última. Lembro dele brincando ao acender algumas velas, dizendo que elas seriam para pagar uma promessa feita ao seu santo de devoção: o Padre João Maria. Argumentava: “tenho muita afinidade com o Pe. João Maria ...” “ Ele vai entender por eu estar usando-as, pois ele sabe que comprarei outro maço e acenderei todas em intenção à sua santa memória”. Mário Barbosa da Silva morreu hoje, dia 02 de outubro de 2013.
                    Descanse em paz, amigo!
                   
                     Natal-RN, 02 de setembro de 2013.
                                      Gibson Azevedo

               "Nenhum Homem é uma ilha, um ser inteiro em si mesmo; todo homem é uma partícula do Continente, uma parte da terra. Se um pequeno torrão carregado pelo Mar deixa menor a Europa, como se todo um Promontório fosse, ou a Herdade de um amigo seu, ou até mesmo a sua própria, também a morte de um único homem me diminui, porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti."
        
                                                        John Donne - poeta

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