terça-feira, 1 de setembro de 2009

Momentos de reflexões


"Ouviram do Ipiranga às margens plácidas..."




Momentos de reflexões.


Nestes dias ditos da Pátria, nesta semana que antecede ao dia 07 de setembro, temos muito pouco ou nada a comemorar... Temos como certo, o mau costume de acomodarmo-nos à péssima prática de pagar taxas e impostos altíssimos. (Estes, os mais estapafúrdios que até hoje se teve notícia)
Nossa Independência, que na realidade não passou de um “negócio” entre parentes portugueses, tornou-se, por geração espontânea, numa interdependência entre os poderes das duas Nações; prática que nos conferiu o status de “nação perneta”, já que era impossível caminharmos naturalmente com os dois pés. O Brasil Colônia era habitado por portugueses que já nutriam o sentimento nativista pelas novas terras do lado de cá do oceano atlântico. Sentiam-se espoliados por seus patrícios da metrópole, pois que eram cobrados impostos, impagáveis à época (imposto de 1/5).
Resolveram dar um basta àquelas explorações, rompendo com seus pares e parentes da corte portuguesa, alçando ao poder um português da Casa de Bragança. Foi uma independência feita de afogadilho; até porque, a presença da família real portuguesa era insistentemente reclamada em terras lusitanas. Como vimos, não ficamos independentes coisíssima nenhuma! O poder passou de um apêndice da família real para outro. Tivemos, nós brasileiros, a única monarquia do continente americano. Na realidade, uma excrescência singular nas terras do novo mundo.
Neste reinado os vícios trazidos pela monárquica família, quando por aqui subitamente aportaram fugidos da sanha napoleônica, mudaram o comportamento da Colônia. Dizem as más línguas, que os compatriotas de Cabral, nossos irmãos portugueses, se nos apresentaram aqui no Brasil, "lisos de pegar verniz"; não lhes sobrando outra opção, que não fosse a de vender conversas soltas. E haja vendas de títulos de nobreza, de cargos vitalícios, etc. etc.(Alguns persistiram até aos nossos dias. Ex: os Cartórios.) Muitos afirmam que tais vícios concorreram, junto a desastrosas aventuras como a Guerra do Paraguai (1865 a 1870), aventura esta que corroeu, à exaustão, as finanças do Tesouro da já decadente monarquia, para a queda daquele colosso (neste período, o Brasil foi o último país a aderir à revolução industrial, preferindo manter sua força de trabalho baseada na aberração desumana do trabalho escravo). Ao abolir a escravatura tardiamente e, já com efeitos nocivos deixados pela demorada Guerra travada com nossos vizinhos, a monarquia caiu como cai um castelo de cartas. Finou-se ao som de valsas e polcas e algumas saliências de alcova do Grande baile da Ilha Fiscal. Na ressaca que o sucedeu, varreu-se de vez a monarquia.
Em 15 de novembro de 1889 (um ano após a libertação dos escravos) veio proclamação da República; meio a apupos de uma quartelada onde a população da capital da nação efetivamente não participou. Chegou prometendo “mundos e fundos”, deixando, de propósito, transparecer aos brasileiros passivos, inermes, daqueles tempos, que a nova forma de governo seria indubitavelmente remédio para todos os nossos males. Ledo engano!... Mais uma vez o poder, caprichoso como uma cortesã, passaria de uma mão para outra. Pouca coisa mudaria.
Senhores, nesta data magna relembramos um longínquo setembro de 1822, quando, à época, nos apresentávamos a comunidade internacional das nações livres, como sendo o seu mais jovem membro.
Não deixamos de sentir, apesar de emocionados, laivos de um ranço das oportunidades abortadas, cultivado no seio do nosso povo. Ranço tratado, a princípio, na estufa mesquinha das elites, que, ao servirem de mau exemplo, desenvolveram no cerne da nossa gente o deletério sentimento de impunidade às nossas faltas. Nossos representantes diretos e indiretos, a cada quartel do tempo que passa, tornam-se mais pusilânimes e venais. Já não é tempo para mudarmos?
Nestes dias, às vésperas da data que comemoramos a nossa autonomia de brasileiros livres, convido, todos quantos possam, a refletir: quais serão os rumos dos nossos Brasis tão sofridos do agora. Esperemos... Talvez nos venham melhores dias!...





Natal-RN, 02 de Setembro de 2009.
Gibson Azevedo

2 comentários:

Poeta do Penedo disse...

Caro amigo Gibson
li atentamente e com bastante interesse o seu texto. É latente uma grande amargura pelo justiça social que o Brasil deveria ter e não tem, pelo progresso que deveria possuir e não possui. Uma infeliz herança da inaptidão portuguesa para gerir os seus recursos (na minha óptica).
Relativamente ás circunstâncias que levaram à independência do Brasil, o Gibson deu-me a explicação que eu há muito buscava, que terá levado D. Pedro, herdeiro do trono português, a tornar o Brasil país independente. Na verdade, circunstância nada comum. Tanto a independência do Brasil, como as profundas e graves convulsões sociais da sociedade portuguesa nas primeiras décadas do sec. XIX, se devem ás invasões francesas de que fomos alvo em 1808, 1809 e 1810. Se elas não tivessem ocorrido, já a corte portuguesa não se teria visto obrigada a fugir para o Brasil, que por aí se manteve durante 13 anos. Foi aí que D. João VI passou de regente a rei. Com o seu regresso a Portugal, em 1821, tal facto criou uma cisão na corte. D. Pedro cresceu no Brasil. Amou essa terra mais que a Portugal. O ideal de independência nasceu.
Mas, enquanto o Brasil, muito justamente, festejava a sua independência da potência colonizadora, Portugal mergulhava num dos períodos mais negros da sua história, tendo o rei que enfrentar a traição de um filho (D. Miguel), e da esposa (rainha D. Carlota Joaquina), nas intentonas de Vilafrancada (1823) e Abrilada (1824), que culminou com a sua misteriosa morte em 1826. Depois seguiu-se um período de alguma acalmia política,que terminou com o regresso de D. Miguel do exílio para onde o pai o enviara, regresso esse (1828) eivado de uma confiança perfeitamente infantil, por parte de D. Pedro. Entrou-se então no chamado terror Miguelista, onde as forcas conheceram grande protagonismo. D. Pedro viu-se forçado a regressar a Portugal para defender os interesses da sua filha D. Maria (futura rainha D. Maria II) ao trono de Portugal, e devolver a liberdade ao povo português. Foi tempo de uma sangrenta guerra civil (1832-1834).
Isto para dizer que o Brasil se tornou independente no momento em que a corte portuguesa se transferiu para o Brasil. Em 1822 o Brasil já nada tinha de português, a não ser a lingua.
É claro que esta questão é demasiado complexa para ser discutida em tão poucas palavras.
Eu considero o Brasil um grande país no mundo e orgulho-me de no maior e melhor país da América do Sul se falar a língua que eu falo.
Que Deus permita que a dimensão de desenvolvimento do Brasil seja consonante com a sua dimensão territorial.

Um grande abraço deste seu amigo português.

Gibson Azevedo disse...

Meu caro Poeta do Penedo, agradeço suas palavras (de um sincero tom de crítica), pois do que foi exposto, creio que concordamos na quase totalidade dos argumentos. Não podia ser diferente, já que sabes - tenho certeza - da admiração que sinto pelo povo deste pequenino país; povo este que não acovardou-se ante ao imenso mar, e por ele aventurou-se em busca de novas possibilidades. Assim agindo, descobriu novas terras e deu-se ao labor de colonizá-las. Isto não tem preço!... Daí, a minha imensa admiração aos vossos patrícios. Peço as minhas sinceras escusas por eu ter, meio a esta natural admiração, uma justa e sincera visão crítica do desenrolar dos acontecimentos, nos anos que se seguiram àqueles grandes feitos.
Fique sempre com meus sinceros saudares.
Gibson Azevedo

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