
(Coisa antiga...)
A natureza nos propicia a satisfação de convivermos com pessoas inteligentes na sua simplicidade de ser, que, por possuírem uma alma inquieta, criam, sem promoverem reais prejuízos a quem quer que seja, situações jocosas com a genialidade dos puros de sentimentos; seres que vivem para descontrair as tensões individuais e coletivas na sequência implacável dos tempos.
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Confirmando o exposto, tomamos conhecimento através do amigo Jair Diógenes, numa conversa informal, da existência de uma figura maior, já falecida; um ex-funcionário do Banco do Nordeste do Brasil, o Sr. Rômulo da Fonseca Miranda - conhecido entre os colegas mais íntimos, como: Rômulo "minha gata". Sujeito espirituoso e bem-humorado, possuía, além destas qualidades, a virtude de ser poeta; e as suas rimas trocistas, colocavam a nu nossas aberrações, que abeiravam-se do ridículo, trajando-nos, por instantes, com as cores berrantes dos palhaços.
Na agência de Natal, Rômulo foi contemporâneo de Rivaldo Lopes dos Santos; indivíduo medroso, temia, constante e perniciosamente, que algum dia, por algum motivo, viesse a ser demitido do seu trabalho. Era um homem muito nervoso que os colegas taxavam de doido. Assim, gratuitamente! Ademais, sentia-se injuriado quando chamavam-no pelo apelido de “Bode Rouco”. Ficava possesso! Destrambelhava, de vez!
Houve por esta época, um período no qual o Sr. Rivaldo ausentou-se do trabalho, pois encontrava-se doente; ausência que motivou insinuações, por parte de alguns colegas, de que este estava fazendo corpo mole - de malandragem com o serviço.
Rômulo "minha gata" fez circular, por toda à agência, um requerimento em forma de verso, de Rivaldo ao seu chefe, o Sr. Deca ( José Alberto Ribeiro).
"Seu Deca vá desculpando
Os dias que estive ausente;
Não foi por malandragem,
Estava mesmo doente.
Se o Sr. não desculpar,
Me demito, fico louco...
Aqui pede deferimento:
Seu amigo, "o Bode Rouco"!
É desnecessário dizer, do tempo que fechou-se no pacato local de trabalho. Por pouco – dizem - não houve inquérito administrativo para apurar a autoria do inesperado e incômodo requerimento.
Caiu no esquecimento, todavia...
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Nos idos dos anos sessenta, Rômulo "minha gata" foi destacado para a cidade de Angicos-RN, para ajudar na instalação da Agência bancária naquele pequeno lugarejo. Assim dizia Jair:
- Olhe amigos! Angicos, ainda hoje é uma bosta! Imagine naqueles tempos!
Rômulo não queria fazer tal sacrifício, sob nenhum pretexto; e para lá deslocou-se, somente depois da solene promessa dos superiores, que assegurava: "com uma semana, no mais tardar, estaria de volta à Natal". O tempo foi passando..., passando..., corroendo sua paciência, para finalmente, ao cabo de seis meses, sair daquele antro de atraso e ignorância. Não, sem antes deixar pregada na mesa da gerência, esta impagável quadrinha:
"Que os malditos urubus,
Me caguem com seus cus
E me belisquem com seus bicos,
Se algum dia eu voltar à Angicos!"
Praguejava a si mesmo! Eita!
Natal-RN, 03 de julho de 2003. Gibson Azevedo da Costa.