Existem nas grandes
cidades, agrupamentos de ruas, alguns logradouros, determinados espaços urbanos
que albergam algumas comunidades de pessoas que conservam muitos dos vários
aspectos, das características dos povos dos seus arruados de origem e dos
muitos viventes ali alocados. Alguns ali residem há muitos anos na nova morada,
sem, contudo, perderem o jeitão brejeiro - bronco, por vezes – dos parceiros primitivos
dos seus cantões de nascimento. Refiro-me a alguns bairros, que mesmo vivendo o
avanço tecnológico dos tempos modernos, não abdicaram totalmente dos costumes
ancestrais, pedaços do passado que teimam em nos acompanhar por caminhos
longínquos, com muitas lembranças de eras medievais. É um encontro mágico do
tempo: presentes no mesmo cadinho, o novo e o velho. Assim é o lugar... Assim é
o seu povo. É assim o bairro do Alecrim.
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Igreja de São Pedro. |
O aspecto que mais
caracteriza este povo é a vocação aparentemente fácil de buscar e
consequentemente encontrar a felicidade... Sem maiores arrodeio, este Bem maior
das sensações humanas se apegam imanentemente a estes entes simples. Como
singelo também são os seus meios os quais estas pessoas utilizam para
sentirem-se felizes. Falar do Alecrim e não falar do seu povo é o mesmo que
pintamos um quadro de natureza morta. Se desperta algum interesse, este, não
passa da técnica utilizada pelo artista. Não tem nenhum apelo popular. Trata-se
de uma peça estranha... Quase alienígena.
Pois bem, dos viventes
do Bairro do Alecrim, a maioria vinda do sertão do nosso Estado ou das grotas
de outros entes federativos, também nordestinos, ou dalgumas regiões mais
distantes como os militares da Marinha que servem na Base Naval de Natal oriundos, repito, de outras plagas, herdou-se
os costumes, a forma prática de enfrentarmos os obstáculos naturais do
cotidiano. E no equacionamento rápido e eficiente destes óbices comezinhos
gerou-se a organização arquitetônica e
topográfica daqueles logradouros público.
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Feira Livre do Alecrim. |
Sua
gente? Ah!... São seres humanos fantásticos, sem mistérios! Seja na Feira, nas
oficinas, nas igrejas, nos hospitais, no cemitério, nos colégios, no comercio –
que é enorme -, nos eventos culturais etc., seus habitantes, com hábil
desinibição, elucidam qualquer situação incômoda com desembaraço surpreendente.
Isto é uma característica humana da luta pela sobrevivência... Aqui não podia
ser diferente. É provável que se origine deste viés urbano, o zelo pelas
tradições ainda presentes nestas comunidades. A história da nossa urbe, desde
os primórdios de pequena província até dias atuais, quando a vemos com ares da
maioridade de uma metrópole, sofre influência do antigo entreposto suburbano, “o
saudoso Hotel Caiana”, do bairro Alecrim ainda incipiente. Nada ou ninguém
chegava à Natal, exceto por via férrea, aérea ou naval, que não passasse
pelo crivo da recepção dos moradores e o do comércio do Alecrim. Assim sendo,
não podemos deixar cair no esquecimento a história desta importante quadra
habitada da nossa cidade.
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Praça Gentil ferreira - Cruzamento do Relógio. |
Surpreendeu-me em
demasia a atitude de alguns abnegados das palavras, quando tiveram a feliz
ideia de editarem uma matéria ( uma revista de cunho cultural) sobre aquele
tradicional bairro enaltecendo seus valores , suas riquezas sociais, suas
ilusões, seus objetivos..., sem que para isto visassem algum lucro que lhes dessem vantagens... Fizeram-na com a
vocação dos puros, salvaguardando o cabedal da memória da nossa cidade.
Certamente serão lembrados pelos natalenses das futuras gerações. Que assim
seja!... Foram eles: Maurifran Galvão, Fábio Henrique, Zenaide Castro, Edmo
Sinedino, Rubens Lemos Filho, Fernando Quintiliano e outros... Nada poderá
apagar a atitude deles: de transformar em realidade a vontade e os sonhos de
alguns conterrâneos, que, infelizmente não possuíam coragem de ir à luta a transformar
uma ideia em realidade.
Bravos! Vivas!
Vocês encontraram-se com a HISTÓRIA e com o merecido garbo. Parabéns.
Natal-RN,
13 de agosto de 2015.
Gibson
Azevedo da Costa
– residente em Natal há
quarenta e seis anos -.