terça-feira, 17 de março de 2009

Desequilíbrio - Mais um conto

Martírios a parte, percalços sanados, injúrias desprezadas, etc., etc., etc. ..., êita, vidinha boa de se viver!... Não se pode chegar à outra conclusão, senão esta. “Benza Deus!” O nosso País é povoado por várias espécies de seres híbridos – misturas étnicas, as mais improváveis, pra não dizer absurdas – que trazem no risível de suas existências o riso fácil de um humor acima da média. Famílias inteiras, por vezes, têm no seu cotidiano a veia da galhofa, o dom do burlesco; sem que para isto houvesse necessidade do menor ensaio. Acontece naturalmente, meio que de afogadilho, entrançado nas oitivas brejeiras, do Falar, e no Entender, desses indivíduos. É um improviso semiconsciente de respostas abruptas como um estalo - e não menos adequados. Alguns caem como luva nas mãos generosas dos amantes da picardia: o Contador de estórias, o Guarda-livros dos causos, Amanuense dos trotes e das troças.
Então, para ilustrar existências picarescas de conhecidos Bandalhos, anotemos que, certa vez, um nosso conhecido sátiro, Doutor Dedé (Dedé Fulô), ao chegar - em outra oportunidade -, ao mesmo lugarejo, distrito da cidade de Cabrobó-PE, visitando, como de costume, o mesmo “Cai-pedaço” onde se deu o entrevero com a Quenga “fraca-de-feição” conhecida pelo nome de “Ináiça”, percebeu que a situação do ridículo Estabelecimento em nada havia melhorado. Na realidade não lhe haviam cerrado às portas, diziam, por falta de tramela. A cara do dono da espelunca era um desânimo só. Como sempre, foi Dedé quem puxou conversa:
- E aí Mestre, alguma melhora neste “Mundo de meu Deus”? – referindo-se com este mimo à situação do decadente Cabaré.
- Nada! As Quenga agora é tudo im Recife ou nas Oropas, inrolano os Gringos – ponderou o experiente Cafetão.
– Hoje num tem nem Ináiça... – arrematou o velho Proxeneta. De fato, naquela secura maldita que era a falta de mulher, um “Brocoió” mais sabido arrematou Ináiça, sem levar em conta a sua evidente feiúra e “montou casa” pra ela.
Dedé Fulô, cabra véio escolado na boemia, deu uma vagarosa olhada nas ruínas daquela desventurada taverna, como se observasse aos escombros de um pós-guerra, e deu de cara com um Bebinho meio alegre, daqueles do tipo caseiro, que o encarou com os olhos baços e um inacreditável estrabismo etílico, a lhe apontar longa e bambamente com um vacilante dedo indicador, para finalmente sair-se cantarolando esta pérola:
- Aaaaáá.....raácíí... de Almeeeida, ráá!, lárárárá, rárá. Lá, rárárá, rárá rárárárá..., ..., ..., ...
- Ôxente, Mestre! Isso aqui agora virou Silvio Santos? Era só o que faltava: o baú da felicidade nesta merda de espelunca! Sai de retro, satanás! - Despachou-se Dedé, apressadamente, resmungando migalhas de palavras meio a uns impropérios e despediu-se com um “até nunca mais”!

Natal-RN, 05 de março de 2008.
Gibson Azevedo da Costa

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