terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Melhor que não foi um político... Melhor que escolheram um poeta!

                                          Melhor que não foi um político...
                                            Melhor que escolheram um poeta!


Poeta e pintor Newton Navarro
Igreja da Redinha - feita de pedras
                                         Certa feita eu entrei em um bar da cidade alta, à Rua Princesa Isabel, este, que ficava em frente à antiga Copiadora Central, era uma construção rústica, talvez de uma Natal dos fins do século dezenove, onde as paredes, até a da fachada, eram feitas de pau-a-pique – taipa.  Telhado em telhas-vãs no qual se viam as sinuosidades dos caibros grosseiros, sem acabamento, ambos escurecidos pelo tempo ou por conta dalguma picumã vazada da cozinha ao longo dos tempos, pelas aberturas das meias-paredes, comuns àquele tipo de habitação. Aquela construção antiga e acanhada, de portas baixas e pintada à cal, era relativamente arejada e fresca devido a altura da  sua cumeeira e a franquia gostosa dos frechais à passagem sonora dos ventos.  Velhas mesas e cadeiras, um balcão refrigerado e umas poucas prateleiras com bebidas diversas formavam, a grosso modo, o mobiliário do cômodo de entrada daquele que era, sem dúvida, um dos recantos boêmio de uma cidade que teimava em ainda guardar resquícios pitorescos dos seus tempos de província. Nem lembro porque adentrei ao recinto. Talvez, para comprar cigarros... O fato é que deparei-me, naquele começo de tarde, com dois indivíduos de meia idade que bebericavam em uma das mesas. Fumavam. Um deles eu conhecia, desde os meus tempos de adolescente na cidade de Caicó. Era Newton Navarro. (O mesmo artista plástico que eu vi, pelas brechas do tapume, pintar o bonito painel das futuras Instalações do Banco do Rio Grande do Norte, daquela cidade. Gostava de pintar à noite, movido a muitas e generosas doses de uísque escocês.)  Conversavam amenidades naquele papo de quem bebe. O outro, um sujeito bronco de poucos recursos intelectuais dizia à larga, como se entendesse, que não considerava Newton um poeta, porque seus versos não rimavam e nem ele os fazia de improviso. "Pintor? Vá lá!..." – dizia, o falaz energúmeno. Lembro que o poeta só fazia rir. Divertia-se, talvez, com tamanha burrice. Vê-se muito dessas coisas em boteco. É o espaço mais democrático que o ser humano conhece: o dos botequins. Ali, toda loucura é ouvida e poucas vezes contestada. E quando algum contra-argumento se apresenta, em contenda, na maioria das vezes não é levado a sério. “E fica o dito pelo não dito”.
Agência do Banco do Rio grande do Norte em Caicó
                            Newton Navarro no seu livro de Crônicas poéticas, “Do outro lado do Rio, entre os morros”, fez uma declaração de amor ao cenário mítico dos veraneios da sua mais tenra mocidade, guardando em um luzir fabuloso da memória todos os homens e mulheres, os mais humildes, daquela antiga aldeia de pescadores. Guardou-os, por inteiro... Com suas manias, riquezas de costumes, tradições herdadas de além mar; seus bêbados, seus valentes e seus saltimbancos. Suas mulheres..., matronas brejeiras, descendentes diretas dos ancestrais potiguares. Fez menções ao homem e aos bichos, no contesto natural marinho daquele lugarejo praiano e, ao seu ecossistema ainda primitivo de plantas cheirosas e de frutos comestíveis. Disse o poeta, em uma dessas suas crônicas:
                                 
Livro do poeta Newton Navarro
                              “... Falar desse tempo, seria encher as folhas de um caderno maior. Lembrar os natais, a ceia festiva, os doces que minha tia Idália fazia como nenhuma outra dona de casa, os banhos de mar, piqueniques no Rio Doce, festas de padroeira, o empinar de corujas, o bumba-meu-boi dançando no terreiro da casa, o sabor da vida que era tão igual ao dos cajus maduros que colhíamos entre as brisas do entardecer.”
                                     “Como no retrato de Itabira, do poeta Drummond, essas lembranças doem.”
                                   “E assim, nos afastamos da casa...”
                                          Na inauguração de uma belíssima ponte que liga a cidade de Natal à sua amada Redinha e as praias do litoral norte, tiveram, nossos gestores, a decência  - coisa rara - de escolher o nome do nosso poeta Newton Navarro para batizar àquela obra. Nada mais justo!
Ponte Newton Navarro - vista da Getúlio Vargas
                                    

                    Que bom, que temos o nome deste nosso querido poeta bem à saída da “Boca da Barra”!
                         
                     Ainda bem, que não escolheram um político!... Arre!



P. Newton Navarro e Redinha - Visão aérea.

                      
        Natal-RN, 20 de Dezembro de 2011.
              Gibson Azevedo – poeta.

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