quarta-feira, 5 de junho de 2024




 

 

               


                   Ainda bem que este ano, aqui no nordeste brasileiro, o inverno chuvoso deu o “ar da graça” e mostrou-se generoso à nossa população campesina e a vida reviveu verdejante nas queridíssimas paragens rurais de nossa região.

                    Nada disto aconteceu há doze anos passados... e naqueles dias escrevi:

                                          Seca, a maldição de sempre

               De tão nefasta, a seca chega a nos dar saudades dos anos de boas chuvas... Nestes dias, nos quais mais uma vez o nordeste padece com as agruras de, talvez, mais um ano de seca em sequência ao negro período de estio do ano que findou, vê-se avizinhar a certeza da tragédia da “terra calcinada” na qual na qual esta região se transformará – local onde não sobreviverá a maior parte da sua fauna e sua flora. Restarão apenas alguns espécimes da vegetação nativa. Nas velhas caatingas somente serão ouvidos os cansativos e irritantes zumbidos das cigarras e o farfalhar fantasmagórico de galhos secos ao sabor dos açoites das fortes virações. Deste quadro, o mais terrível é escutar o berro da dor da fome e da sede da inocente animália que aos poucos, ofegantes, perdem suas vidas. É triste a constatação, por parte destes pobres animais, que as costumeiras e acolhedoras “Bebidas”, do refrigério de sempre, não mais existem. Mesmo assim, ficam estes inermes animais a cheirar a terra seca onde outrora houvera água. Este é o maior significado da palavra saudade que já tomei conhecimento na minha modesta existência. É um sentimento por um “Ser bruto”, que, do âmago das suas mais basilares necessidades, lembra a delícia e o bem que lhe fazia aquele precioso líquido. Estes animais, ante ao inevitável desastre, vão se exaurindo nas suas forças e estinguem-se. Não costumo criticar as forças naturais, mas diante desta miséria não me furto em dizer: que coisa estúpida!

               Um dia destes caiu em minhas mãos um poema feito em decassílabos, que tinha um mote fabuloso: “O Nordeste se enfeita e se perfuma/ Quando o pranto das nuvens se derrama”. Ao tomar conhecimento deste mote perfeito, também o usei para, inspirado, fazer uma sincera poesia, uma glosa, já que a saudade em melhores dias se aloja no meu peito sertanejo, ensimesmado e macambúzio com mais esta tragédia climática que se abate sobre nossa região. Vejamos:




Mote:

             O Nordeste se enfeita e se perfuma

             Quando o pranto das nuvens se derrama.

Glosa:

             Juramentos e propostas vem “de ruma”,

             Em resposta aos efeitos pluviais,

             Veem-se ao vivo os amores Celestiais:

             O Nordeste se enfeita e se perfuma!

             E nas longas noites de boa bruma,

            O desejo nordestino se inflama,

            No aconchego da rede ou da cama,

            Chispando nova vida, em centelhas:

            Um bater de sinos no barro das telhas,

            Quando o pranto das nuvens se derrama! ...

 

            Natal-RN, 18 de outubro de 2012(data do meu aniversário)

                                      Gibson Azevedo - Poeta 

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