quinta-feira, 3 de março de 2011

Deus protege os inocentes.




Deus protege os inocentes 
Existe um adágio popular que diz: "Deus protege os inocentes"! Apesar de um tanto piegas, esta afirmativa, depois de alguns fatos comprovarem, se nos apresenta como sendo verdadeira. Para isto, necessário seria, colocarmos neste mesmo segmento, além das crianças, bêbados, dementes e idosos; da mesma forma, pessoas incultas, onde o intelecto nunca ultrapassou os limites da infância, tornando-os, mesmo não sendo, em aparentes debiloides. Abilolados também, são as pessoas excessivamente crédulas, que acreditam sem questionar, em: políticos, na religião, nas autoridades ou em pessoas de presumível cultura e erudição. A verdade não está, necessariamente, na opinião e atitudes destas pessoas. Estes sim, usam -nos como massa de manobra. Os crédulos inocentes - os incautos -, que sendo ingênuos,são chamados de Lesados", em virtude de andarem, quase sempre, embrulhados nas artimanhas dos “sabidões”.
Só que, em suas crenças compulsórias, nada dispõe-se a protegê-los. É justo entretanto, que deduzamos que existe um Deus, mesmo com certa preguiça, a ampará-los.
Alguns flagelos cíclicos ou episódicos, podem levar o ser humano a um estado de letargia de aspecto pueril, confundindo-se à demência. A miséria e a pobreza extrema, com frequência, causam o mesmo efeito. O fato do indivíduo nascer e sobreviver em regiões agrestes, inóspitas - lugares ermos -, levam-no invariavelmente a um estágio evolutivo quase nulo, deixando-o similar, em quase todos os aspectos, aos nossos parentes genéticos - os primatas - que ainda encontramos com facilidade em estado bruto e natural, nas poucas florestas intocadas. O isolamento promove estes indesejáveis retrocessos ao homem.
Entretanto, em contato íntimo com a natureza, este hominídeo dos tempos modernos defende-se como pode. Daí a crença de poder contar com as boas graças do “todo-poderoso", num viver aventuroso, cheio de riscos, sem garantias. Nas pequenas cidades acontece a mesma coisa. Pouquíssimas, são as diferenças!
Como se vê, a inocência faz morada no viver inconsciente das almas simples, fruto duma confiança cega em forças que, na maioria das vezes, portam-se indiferentes e silentes aos seus anseios e apelos.
Agora, alguma coisa os protege! Talvez o acaso. Disto,ninguém pode ter dúvida. Senão vejamos:
Xeno, um pobre motorista da cidade de Jardim do Seridó, era um homenzarrão caucasiano, grisalho, de pele curtida, olhos verdes, arcabouço esquelético um pouco encurvado devido à boa estatura e, um caminhar marcado porém oscilante. Vivia deambulando pelas vias públicas daquele arruado, quando num dado momento deparou-se com Geraldo Dias, que se preparava para dispensar ao lixo, três curimatãs que trouxera de seu Sítio e que esquecera de salga-las. Por um lapso de memória esqueceu de conserva-las no sal prezo, assim como não as manteve confinadas ao refrigerador. Daí, no seu entender, houvesse ficado estragadas. Surpreso, Geraldo ouviu os protestos de Xeno:
“- Cumpade Gerarrdo!, pelo amor de Deus,  num faça uma disgraça dessa, não!!! Eu num acritido, que você vai jogar fora esses pexim, não...!”
“- Cumpadre Xeno!” - Preveniu Geraldo – “Esses peixes estão podre, homem!”
“- Chêu vê..., ssffhummm!”- Disse Xeno, cheirando as parte internas daqueles pescados.

“-Não, cumpade! Isso é até um pecado...eles tão bonzím!...” - Sentenciou Xeno com o nariz impregnado daquela saburra malcheirosa e, já  os enrolando em um papel, para apressadamente deslocar-se na direção da sua casa. 
É de domínio público, o fato de terem comido o tal repasto, e, ninguém da família ter adoecido.
Lá mesmo, na mesma cidade, outro causo aconteceu quando, a porca, que pertencia a Dona Preta (esposa do Seu Chico Galdino), amanheceu morta. Já passava das duas horas da tarde, quando Ciço Teixeira - um negro muito querido, figura popular - apontou no começo de uma das ruas do centro daquela urbe, empurrando um carro de mão. Levava a pesada porca, já dura, para fazer sua desova em algum lugar desabitado, um pouco além da periferia. Foi aí que apareceu outro personagem caricata, destes que emergem com muita facilidade do seio da populaça; que contam no entanto, com a simpatia de figuras mais abastadas destes lugarejos. Este cidadão,atendia pelo nome de Limoeiro - Limão, para os íntimos. Negro alto e forte, olhos repuxados; bigode farto - tipo bigode de arame. Limão, assim como Ciço, era “pau pra toda obra”. Ambos eram cabeceiros, serventes de pedreiro, esgotadores de fossas, etc., etc. Apesar de gostarem muito de cachaça, eram tidos como os bambas dos serviços gerais! Limoeiro também exerceu por algum tempo o ofício de coveiro.
Vinha, como vimos, Teixeira fazendo o seu bizarro carreto, quando Limão interpelou:
                     “- E aí negão? Vai levando esse buato pra onde?”
“- Vô jogar num monturo!” - Respondeu Teixeira.
“- Mas cumpade Ciço, o qué qui ove com esse buato?”
“- É a porca de Dona Preta..., mãeinceu morta!”- Asseverou Teixeira.
“- Deixe eu dar uma oiadinha nela, negão!” - Disse Limão, já abrindo a boca da defunta.
                     “- Ah! Cumpade Ciço, o buato morreu de ingasgo!...  Vamo tirano esse buato lá pra casa, quêle tá primêra!” - Rematou Limoeiro...
                   
                     Alguns dias se passaram quando, por curiosidade, foi inquirido sobre o paradeiro da porca. Limão informou que comeram tudo, à exceção de algumas vísceras. Disse, ele:
                     “- Tirano os bofe e o figo, o resto tava primêra!!!”
-  E vocês, Limoeiro, não sentiram nada, não? - Perguntavam outros.
“- Não. Tirano uma bufinha fedorenta, ninguém sintiu nada, não!”- Respondeu satisfeito, aquele protegido do acaso.

Satisfeita também, certamente ficou a roleta do destino...



           Natal-RN, 03 de março de 2011.
                       Gibson Azevedo

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