quinta-feira, 19 de maio de 2011

As rosas não falam ( ato II )


               ...Certo domingo, por aqueles dias, na vizinha cidade de Jardim do Seridó, quando as famílias daquele arruado reuniam-se na praçinha após os ofícios religiosos da Igreja próxima, aconteceu o inusitado. Ali, naquele rotineiro ajuntamento de pessoas, punham-se os assuntos em dia, revigoravam-se as amizades, renovavam-se as promessas de namoro, e nos namoros, vislumbravam-se os casamentos. Naqueles momentos, a pequena cidade, álacre, pulsava viva... Eram, contudo, pessoas pacatas, 
 de espíritos desarmados.
               Pois bem, ali mesmo, no meio do povo, surgiu inesperadamente uma figura por eles desconhecida. Estava visivelmente embriagado, topando a todo o instante nos limites do desacato.
              - Quem é esse sujeito? – perguntavam alguns.
              - Parece que é de Caicó – respondiam sem firmeza.
               As conjecturas iam sucedendo-se, quando aconteceu o infeliz desfecho: o celerado, dando mostras de estar possuído por alguma entidade do mal, desabotoou a braguilha da calça expondo sua enorme genitália, e, para completar o desplante, balançou-a para que todos a vissem; e cantarolou um sambinha carnavalesco, sucesso por aqueles anos, que dizia mais ou menos assim:
                “Balancei a roseira..., balancei a roseira
                  E a rosa caiu... , caiu, caiu...
                  Rosas têm espinhos, rosas têm espinhos,
                  Rosa me traiu!..."
                  É desnecessário dizer, que os homens presentes àquele trote fulo, a princípio pasmos, ficaram alguns instantes sem ação; porém, logo a seguir, partiram para moê-lo à pancadas. Aqueles momentos de indecisão – surpreendidos como ficaram, os incrédulos cidadãos – foram, todavia, suficientes para o safado subir habilmente na sua lambreta e partir em disparada, deixando-os frustrados na sua raiva, por não terem aplicado um corretivo exemplar ao moleque que ultrajou o pudor de suas mulheres e de suas crias.
                 Contudo, não escapou das garras do Judiciário. Pois foi processado criminalmente no devido tempo.
                 Esse homem era Jessé! É inacreditável que um dia isto possa ter acontecido, mas é a pura verdade.


Natal-RN, 19 de maio de 2011.
Gibson Azevedo.

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