sexta-feira, 13 de maio de 2011

As rosas não falam.








                        As rosas não falam ( ato I )


                  ...A grande maioria dos jovens caminha para a idade adulta, desvencilhando-se naturalmente das manias e condutas reprocháveis; sendo animadoras as expectativas de crescimento evolutivo do espírito humano. Entretanto, não ocorre sempre... Nem são todos, os herdeiros dos bons costumes. Alguns perduram maus..., permanecem amorfos; tornam-se inconvenientes, anti-sociais contumazes, de presenças indesejáveis.
                   Assim acontecia com Jessé! Jessé de Dona Rosa, como era mais conhecido. Era um sujeito de estatura mediana, moreno magro, de cabelos lisos, soltos, penteados para trás à força de muita brilhantina, bigode fino. Era míope... Sendo ele, um retrato fiel do indivíduo desleixado com a aparência; vivendo sempre de bermudas, e a  camisa ele só a abotoava os últimos botões, deixando a nu um peito magro e desprovido de pelos. Também não caprichava no asseio pessoal..., faltava-lhe índole.
                   Dominava, entretanto, como poucos, a mecânica. Sendo um exímio mecânico de lambretas e posteriormente de motocicletas. Gozando, por isto, da simpatia de pessoas da classe média, pessoas influentes, proprietárias daqueles pequenos veículos. Por outro lado, habituara-se, quando fora do horário de trabalho, a dar alterações em todos os ambientes nos quais circulava – em uma Caicó dos anos sessenta, castiça e respeitável na fé da sua população em Sant’Ana, padroeira do sertão. Ele era dono de um humor estranho, sendo perverso com as crianças. Tinha o hábito de dar cascudos no cocuruto dos meninos que, desavisados, transitavam a calçada da sua oficina. Era, por vezes, socialmente inconveniente, e, não raro, envolvia-se em questiúnculas só resolvidas com a presença da polícia ou de pessoas importantes.  Sua vida permeava-se de momentos hílares, principalmente aqueles desavergonhadamente voltados para o deboche. Sentia-se à vontade no carnaval, em comícios, passeatas, em frente a circos e no cabaré. No carnaval era, presença garantida no tradicional corso; ele todo sujo de pó de arroz, com um apito irritante no escape da sua lambreta. Nos outros locais já citados, transitava com a mesma irreverência: largo, espaçoso e tudo o mais. Na zona do baixo meretrício, aí sim! : sentia-se em casa. Tendo por algumas mundanas, afagos e mimos, declarado apreço. Deleitava-se na sonoridade e no lusco-fusco das boates.  Sentia uma estranha magia naqueles ambientes degenerados e decadentes. Gargalhadas à solta, à toa. O tilintar de copos no esfumaçado dos salões, caricaturas de sapateados ao som de reles músicas de inspirações bizarras, faziam-no delirar intimamente, embora não deixasse transparecer. Sempre fechado, taciturno.
                   Esse sujeito marcou época... Fora da sua oficina, era um pára-raios de problemas!  ...  

 (Continua...)

Natal-RN, 12de maio de 2011.
Gibson Azevedo.

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