segunda-feira, 18 de julho de 2011

Comício de um certo Carvalho Neto(início).






                                                Comício de um certo Carvalho Neto.


Numa envolvente efervescência política, vivíamos nós, os brasileiros, no começo da década de sessenta. E como nos tinham tirado o direito de exercermos e vivermos uma cidadania plena estávamos como que desabituados a expressarmo-nos naturalmente, com civilidade; faltava-nos o costume..., onde a força dos argumentos, e não o volume e o peso das grosserias fosse, capaz de impressionar e sugestionar nossos semelhantes. É verdade que ficamos por duas décadas sob o jugo severo, draconiano do Estado Novo, pelos idos de trinta. Nada era feito sem sofrer a intervenção direta do Estado. O Congresso e as Assembleias – fechados; a Justiça desfigurada, sem a tradicional venda dos olhos, sofrendo o estupro infamante da mordaça. Amordaçada e vendida estava também a nossa Imprensa, incipiente e quixotesca, castrada por censores incapazes, broncos e ignorantes – vilões vadios! Isto sempre ocorre em todo tipo de ditadura, seja ela de esquerda ou de direita. Não se vê diferenças! Se por um lado nota-se alguma melhoria na ordem pública com a retração do banditismo privado, de iniciativa do cidadão comum, percebe-se, às escâncaras, o crescimento deslavado do banditismo oficial; colheita fétida de um governo que tem engulho, repugnância, ao imaginar-se prestando contas dos seus atos aos seus cidadãos.
 Mário Câmara. Muitos crimes no seu Governo. 
Era costume tratar os adversários e desafetos com atitudes abjetas, como: violações de lares – sem mandato judicial -; violando inclusive as camarinhas, deixando em situações vexatórias senhoras e senhoritas; promover infamantes, desmoralizantes surras em líderes autênticos e pacatos, com o objetivo de ridicularizá-los perante aos seus admiradores; por último, assassinatos por motivo torpe, onde uma das vítimas – o Dr. Otávio Lamartine – foi executado na sua própria casa (zona rural de Acari-RN), desarmado, indefeso, apesar de ter exibido um “habeas corpus” que o protegeria de ser alvo de infamante e manifesta aberração.  É de domínio público, as últimas palavras ouvidas por aquele bom e honrado homem, ferozmente imolado sob o teto de sua morada – berço de decência -, às vistas dos seus horrorizados familiares. Foram elas: “esse papel só me impede de prendê-lo, mas não me impede de matá-lo!” – bradou o Tenente Oscar Matheus Rangel, incitando suas feras a abatê-lo. E assim o fizeram...
O brasileiro era prenhe em sufocar as aspirações e a vontade da maioria das pessoas. Agia como se estivesse fazendo a coisa mais certa do mundo. Alguns vícios nocivos adquiridos, nestes períodos de exceção, de desrespeito total as regras e leis de povos civilizados, perduraram, por décadas afora, apesar da queda da ditadura já se fazer distante. Perdemos o hábito de fazer política séria, de exercermos corretamente a nossa cidadania, votando livremente e vendo ser respeitada a vontade das urnas. Era comum a mentira, o logro, a maledicência. Era uma época onde imperava a “brejeira” e a falcatrua eleitoral. Toda sorte de abusos, cometia-se com ares de normalidade. Era a lei do mais forte; de quem falava mais alto...
Os antigos egípcios mumificavam seus mortos, pois acreditavam que, estes, viveriam após a morte com todas as vantagens da vida terrena, inclusive vantagens materiais. Não é que eles estavam parcialmente corretos?
Nas seções eleitorais dos sertões nordestino, quem mais votavam eram os defuntos! Isto explica àquela antiga crença dos tempos dos faraós...

Natal-RN, 18 de julho de 2011      
                  Gibson Azevedo

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