sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Comício de um certo Carvalho Neto - 2º ato.


Zito Borborema nos bons tempos


Zito e sua mulher Chiquinha do acordeom
Zito quando fundou o Trio Nordestino
...Nunca me senti seguro numa multidão. Entretanto, encontrava-me presente na aglomeração noturna daquele dia. Na realidade, tratava-se de um populacho reunido de última hora, às pressas. Era uma sexta-feira qualquer, de algum mês do segundo semestre, de um dos anos do início da década de sessenta.  Uma Kombi pejada de alto-falantes, já à tardinha, divulgava freneticamente nas ruas de Caicó, que haveria naquela noite – para a surpresa de todos, pois não existia nada programado -, em frente ao Mercado Público, na sua principal avenida, um comício temporão, fora de época, de um obscuro e jovem Bacharel em Direito que atendia pelo nome de "Carvalho Neto”. Este personagem lançava-se, precocemente, com surpreendente antecedência, candidato postulando  uma cadeira de deputado na Câmara Federal.
Caicó, naquela época, já demonstrava pequenos indícios de crescimento; tornar-se-ai, sem dúvidas, desenvolvida num futuro próximo. Notavam-se naquela pequena cidade, prenúncios dalguma agitação. Todavia, apesar de ser evidente o começo do seu desenvolvimento, achava-se, sua gente, parcialmente eivada de costumes que lhes eram alheios. Mantinha, entretanto intacto, quase na sua totalidade, o volume de comportamentos herdados dos seus ancestrais. Usos advindos dos tempos nos quais aquela pequena urbe não passava de um vilarejo. Costumava-se à noitinha, após o jantar, colocarem-se cadeiras às calçadas e ali em alegres papos com os vizinhos, aproveitavam-se as benfazejas primeiras brisas noturnas, que amainava o intenso calor do dia; produto de uma canícula impiedosa, abrasadora, sempre presente nos sertões nordestino.
O movimento em frente ao Mercado Público, naquela noite, começou tímido, com poucas pessoas. E tudo levava a crer que, aquela anunciada reunião política seria um total fracasso. Em alguns poucos minutos, todavia, naquela avenida formou-se, como num passe de mágica, uma considerável multidão. Bastando para isto, os primeiros acordes do regional de “Zito Borborema e seus Cabras da Peste”, encarregados que eram de animar aqueles primeiros e rudimentares arremedos de “showmícios”.
A população de Caicó é naturalmente animada. Gosta muito de festas e, atendeu prontamente àqueles apelos musicais. A função daquele forrozeiro era chamar a atenção dos curiosos, e fazer engrossar o número de populares daquele evento relâmpago. Não tardou para aquela via pública ficar completamente tomada de gente.
Zito era um sujeito estereotipado, vestido de cangaceiro, assim como restante de sua trupe. Até sua mulher, a “Chiquinha do acordeom”, que era a bamba no domínio da concertina, estava vestida nestes trajes. Aquele artista era um indivíduo muito engraçado: mestiço, de bons dentes, usava bigode; de estatura mediana, buchudo, meio atarracado – apesar disto, era ágil, muito lépido. Soltava seu vozeirão com muita facilidade. Agradava! Principalmente, quando, nalgumas músicas do seu repertório, apercebiam-se escandalosos rudimentos de pornografias. Alguns canalhas presentes adoravam!... Risotas aos montes..., fazendo uma bulha enorme ao final de cada frase. A apresentação do Cabra da Borborema chegava ao final, com as impagáveis  músicas:“ Zé da Onça”; e o “Namoro no escuro”.
Naquele momento, a canalhice se fazia à solta!...


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