sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Comício de um certo Carvalho Neto - epílogo.





...A feira de Caicó acontecia sempre aos sábados. E na sexta à noite, já se encontravam posicionadas algumas bancas de venda de produtos diversos, próprio das feiras livres, comuns nos mais diversos arruados. Na calçada em frente ao mercado havia algumas mesas rústicas, destinadas à venda de calçados rudes, como: alpercatas de arrasto; de rabicho; sapato de campo; botas, etc. Essas mesas – bancas – precisam ser de tamanho considerável para facilitar a exposição dos citados produtos.
Havia uma dessas mesas que estava pejada de meninos e rapazotes, que nela treparam com a intenção de melhor observar a movimentação política; se é que assim podia-se chamar àquela caricatura de manifestação pública.
PRRÁÁÁ!!!..., a mesa quebrou-se! Ouviu-se, de chofre, aquele ruído estranho... Junto ao magote de meninos que, na queda, projetaram-se à multidão dando, à maioria das pessoas presentes, a falsa impressão de um estampido, um disparo...
O ser humano não é diferente dos outros animais. Principalmente, quando entra em pânico. Aquele ruído foi motivo suficiente, para desencadear um efeito indesejável nas multidões, conhecido popularmente, como: “o estouro da boiada”. Alguém que presenciou ou viveu fatos dessa natureza sabe, perfeitamente, o tamanho do desastre que uma populaça em pânico pode causar no seu atropelo de feras.
Foi o fim do comício..., entretanto, em frações de segundos ocorreram odisseias particulares, que pareceram durar uma eternidade, meio ao medo das pacatas pessoas. A palidez, a arritmia, eram uma constante nos indivíduos “semi-pisoteados”, de mãos trêmulas e corpos gélidos, olhos esbugalhados e cabelos desgrenhados. Escoriações diversas foram tratadas numa Farmácia próxima, na Maternidade e no Hospital do Seridó.
Foram colocados, diante da “Bomba de Gasolina” pertencente ao Seu Hermínio, alguns balaios cheios de objetos pessoais, como: sapatos, chinelos, bolsas, carteiras, canetas, isqueiros, chapéus, guarda-chuvas, relógios, pulseiras, trancelins, terços, rosários, canetas, lanternas, óculos, dentaduras, etc., etc., etc..., à espera que fossem resgatados pelos devidos donos. Surgiram também “estórias” ridículas. Inverossímeis, apesar da comicidade:
Uma serviçal da casa dos meus avós paternos, afiançava,jurava até, que tinha presenciado uma senhora, nossa vizinha e conhecida – gorda e sexagenária -  pedalando, à força,uma bicicleta que estava estacionada à esmo no meio da balbúrdia; coisa que a distinta mulher jamais sonhou em fazer no decorrer da sua pacata vida. Outras eram chulices, como a que alguém houvera dito: “Se sangue feder, eu estou baleado!” E mais: a de um sujeito que afirmava ter corrido mais de trezentos metros sem botar os pés no chão.
Daquela fatídica noite, por mais incrível que possa parecer, as lembranças mais nítidas, vívidas e que perduram até hoje, são o gingado da voz de Zito Borborema no papel de Zé da Onça respondendo, com malícia, à Sinhá Chiquinha, quando esta o comunicou que seu marido estava “passando mal” e que podia até morrer! Cantava assim o grande Zito:
“Ô Sá Chiquinha se ele morrer, não tenha medo de ficar sozinha. A despesa do enterro eu pago, Sá Chiquinha, a senhora é muito jeitosinha..., e se a senhora quiser se casar, Sá Chiquinha, a primeira preferência e minha!!!”
Às vezes, ao invés de “preferência”, ele dizia “Lapingochada”!
A canalha presente ia ao delírio... Bons tempos, aqueles...


Natal-RN, 26 de novembro de 2002 – Gibson Azevedo.

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