quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sucesso da evolução.


                                                       Sucesso da evolução


                      Dentre os muitos seres vivos que ainda continuam conosco e outros tantos que sumiram na extinção, existem os que, segundo alguns biólogos, guardam origens pré-históricas e são os que mais têm em comum com os dinossauros. Estes animais aos quais me refiro, são os galináceos, tão comuns nos círculos de bichos domésticos e convivem com o homem desde os primórdios da humanidade. Este animal deixou de ser selvagem graças à interferência humana no seu habitat natural, condicionando-os a uma  vida conosco parcialmente comensal.Na evolução natural eles se tornaram dóceis – com exceção das raças de briga – e, como se reproduzem abundantemente, passaram a fazer parte da dieta alimentar dos nossos antepassados, até a consagração nos dias atuais como alimento de  origem animal de primeira escolha.

A minha origem é sertaneja e, quando menino, a minha vida se dividiu entre a pequena cidade e o campo.  Devido a isto, conheço com certa facilidade a flora e fauna silvestre do semi-árido do nordeste brasileiro. Conheço a fauna silvestre e a doméstica, tão importantes na sobrevivência do homem nos lugares ermos, de relativas lonjuras dos pequenos arruados e também das maiores concentrações populacionais. Não se concebe uma dicotomia entre a população campesina e estes animais. Uns se “interfazem” com os outros, como nos aconselham as leis naturais. Na natureza nós todos nos completamos.
Foguinho no seu difícil labor de viver.

          Em alguns casos existe uma amizade entre nós. É o caso de Foguinho, um galinho de estimação que criamos, já há quatro anos, no quintal da nossa casa. A depender de mim, ele vai morrer de velho! Não sou adepto do canibalismo e, no caso de Foguinho, seria como se fôssemos, se, por algum motivo, viéssemos a devorá-lo. Na minha feira semanal, o que primeiro vem à lembrança é o saco de milho que tenho de comprar, em atenção àquele amigo. Aprendi a gostar dele... Desde ele jovem, quando chegou ao nosso galinheiro, logo nos primeiros dias ouvi, à madrugada, umas pancadas peitorais num aplauso de asas e..., talvez, o seu primeiro canto. A partir de então, de hora em hora, todos os dias, aos primeiros albores da madrugada, lá está o possante canto de Foguinho a embalar os resquícios de sono matinais da minha família e de gentes da vizinhança. Isto não tem preço... Faz parte do espetáculo da natureza e eu não pretendo perder nenhum ato. Quero, com sensibilidade, estar presente em todos eles.
Aqui o velho Fogo a nos observar
        
                Existem, entretanto, outros tipos de relacionamentos humanos com estes animais. É o caso de Velhinho, um Senhor que era casado com minha tia Otilda, portanto meu tio afim (os dois já falecidos), que sendo um homem muito espirituoso, algumas vezes aparecia com umas ideias inusitadas. O seu aguçado humor lhe sugeriu, certa vez, de por de molho (imersão) um quilo de milho em um litro de álcool, durante uns bons pares de horas. Até aí, tudo bem: era só uma ideia maluca. O fato é que vizinho a sua Mercearia, ficava a Usina de Força e Luz do município de Jardim do Seridó-RN, e a mulher do encarregado daquela entidade, a Dona Santina, criava, à solta, uma boa quantidade de galinhas. Ora, logo às primeiras horas da tarde, ele, na sua premeditada pantomima, sorrateiramente, instava as penosas a comerem os grãos de milho embebidos em álcool, que ele fartamente lhes oferecia: “Tchim, tchim, tchim, venha quí! tchimmmm!!!” Passados alguns minutos, o efeito daquela carraspana involuntária era constatado facilmente. As galinhas davam um passo para frente, dois para trás, um de lado e caíam. O galo, fogoso como ele só, quando tentava cobrir alguma fêmea, depois de com algum esforço subir na dita cuja, despencava daquela altura batendo com a cabeça no chão, muito surpreso, com os olhos arregalados, sem saber o que podia estar acontecendo...  Isto era uma maravilha para Velhinho e uma cambada de amigos e fregueses, sabedores daquela artimanha. Gargalhavam a valer!...
                      A Dona Santina, inocente, perguntava: -“Qué quessas galinhas têm, Seu Véim?” 
                    “Sei não, cumade Santina. Parece quelas tão doentes... Será da água???" – Respondeu com cinismo, para o deleite dos presentes, o citado arteiro.

                     Conheci na época que moramos na cidade de Caicó-RN, década de sessenta,  um cidadão que pertencia a uma honrada família antiga daquela região e que atendia pelo vulgo de Marujo. Isto se devia ao fato dele haver sido, em certa época de sua vida, Sargento da Marinha do Brasil, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Marujo vivia embriagado... Lembro dele todo babado, agarrado a uma parede, já perto de sua casa, chamando a sua irmã para vir buscá-lo. Dizia: “Bola, venha me buscar!!!”  A irmã, constrangida, assim mesmo corria a ajudá-lo encontrar o caminho de casa. Pois bem, soube, naqueles meus dias da infância, que o bêbado Marujo foi expulso, com desonra, da nossa augusta Força Náutica, porque ele e alguns colegas de farda, sob um forte efeito etílico, obrigaram, de arma em punho, um padre católico a batizar um galo com o nome de João. Alegavam uma grande amizade com o galinho, para exigirem, para ele, aquele citado Sacramento. E ai do padre, se não obedecesse!...

                    
                      Natal-RN 30 de novembro de 2011.
                            Gibson Azevedo da Costa.
                              

2 comentários:

Rubens Barros de Azevedo disse...

Meu preclaríssimo Colega e Amigo Gibson! Não me fiz de rogado e cá'stou a inserir o meu despretencioso comentário sobre a deliciosa crônica que acabo de ler.
Um mimo! Lamento muitíssimo que o nobre colega não tenha aceitado (ainda) o meu convite para que nos honre com a sua participação na Sociedade Brasileira de Dentistas Escritores como Titular, a qual, humilde, porém, entusiasticamente presido em nível nacional.
Mas voltando à citada crônica pretendo encaminhá-la para um dos nossos Titulares, que é um grande criador de aves, o que constatei recentemente ao visitá-lo em sua residência (Maceió).
Enfim, pretendo cumprir a grata tarefa de comentar, mesmo que eventualmente, as suas sempre bem-vindas crônicas.
Ahhh, não posso deixar de reiterar o convite para a sua sempre brilhante participação no "Sarauterapia" do CRO. O próximo será no dia 07.12, último do ano; não estarei presente, poois viajarei esta madrugada para Cuiabá/MT, onde passarei o Natal.
Mas no 1º do ano, dia 04.01.2012, gostaria muitíssimo de apreciar a sua performance. Pode ser?
Aceite meu saudoso e fraterno abraço, congratulando-me com o seu brilhante trabalho.

Gibson Azevedo disse...

Que bom que você gostou, caríssimo amigo Rubens! Mas, mesmo que não tivesses gostado, suas críticas seriam mais que bem-vindas, pois me dariam parâmetro para melhorar os parcos dizeres que formularei doravante. Tens o gabarito para fazer uma crítica criativa e isenta.
Até o próximo encontro.
Um abraço deste seu amigo
Gibson Azevedo

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