segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Para os poetas o tempo é um detalhe.



                                  Para os poetas o tempo é um detalhe.(Parte I)

                       Já faz alguns dias, na verdade mais de mês, da morte do poeta nordestino Ronaldo Cunha Lima. Não nos custa fazer uma pequena avaliação da sua vida, já que a emoção do seu encantamento inevitavelmente esmaeceu, para estabilizar-se aos níveis da normalidade. Assim sendo, sentimo-nos mais confortável para tecer-lhe algum comentário, distante dos arroubos de louvações de corpo presente e dos réquiens (“dai-lhes o descanso eterno”), naturalmente dedicado aos mortos ilustres. Longe estamos, cada vez mais ficando, de suas exéquias, e assim, como nos afastamos instintivamente para melhor observarmos a dimensão, a beleza, a real aparência de algum monumento grandioso, também, na medida do aumento da distância desde o dia que ele se foi do nosso convívio, podemos sentir a real estatura do poeta da Borborema. Grande homem!
Material de propaganda eleitoral.
Recordo que ao chegarmos a Natal, advindos da região do Seridó, no finalzinho da década de sessenta, na nossa casa, como na grande maioria das residências dos natalenses, não havia aparelho televisor. Isto só viria a acontecer, por ocasião dos jogos da Copa do Mundo de Futebol, no ano de mil novecentos e setenta. A partir daí tínhamos, diariamente, acesso a programação de TV Jornal do Comércio da cidade do Recife, grande Meca para os nordestinos de então. A grande Mauricéia espargia cultura a todos os recantos do Nordeste brasileiro. E não podia ser diferente, pois foi naquela cidade que se inaugurou a primeira faculdade de Direito do nosso país. Foi berço de grandes juristas e poetas, e onde prosperou as primeiras idéias de liberdade nos primórdios da nossa nação.  Pois bem, recebíamos o sinal daquela emissora de televisão e, através dela, tínhamos  acesso aos programas de entretenimento criados e difundidos desde são Paulo e Rio de Janeiro, no centro-sul do país. Dentre os tais programas, existia um de perguntas e resposta, de muito sucesso, de nome “o céu é o limite”, apresentado pelo famoso animador Jota Silvestre.  
Programa "O céu é o limite".
 Logo que eu assisti aos primeiros citados programas, me inteirei da participação de um jovem Senhor nordestino chamado  Ronaldo Cunha Lima que, sendo poeta, respondia sobre a vida e a obra do maior poeta sonetista da literatura brasileira, o também paraibano Augusto dos Anjos.  Era uma maravilha, ver aquele moço responder, à maioria das vezes em versos - quadras ou sextilhas - as questões que lhe eram perguntadas sobre a vida e a obra daquele grande poeta. O “Eu”, único livro publicado por Augusto, era semanalmente esmiuçado - no bom sentido - por aquela sabatina cultural. A alegria ia de “vento em popa” quando, subitamente, sem maiores anúncios, aquele segmento destinado ao entrevistado Ronaldo deixou de existir. Assim..., como se nunca tivesse existido. Este fato logo gerou muitos buchichos, e foi através destes que eu me aproximei da verdade sobre a vida de Ronaldo Cunha Lima.  Ele, um jovem advogado, havia sido eleito prefeito de Campina Grande, uma das maiores cidades do interior do nordeste brasileiro, vinha fazendo uma administração exemplar frente ao executivo daquele município, voltada explicitamente para as camadas menos favorecidas da população, quando foi colhido pela violência do truculento regime implantado por um desnecessário “golpe de estado”, uma verdadeira “quartelada”, ocorrido no ano de mil novecentos e sessenta e quatro, fato que jogou por terra todas as prerrogativas constitucionais, anulando, no nosso jovem país, todo tipo de direito. Era a barbárie!... Iniciava-se  o período ditatorial – ditadura militar... (Continua...).

Natal-RN, 10 de setembro de 2012.
        Gibson Azevedo - poeta.


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