terça-feira, 9 de outubro de 2012

Astúcias de Bolo-bolo.

                                               Astúcias de Bolo-bolo.


                       Carlindo Dantas, médico e Deputado Estadual nos idos de mil novecentos e sessenta e seis encontrou, certa feita, com o jornaleiro Bolo-bolo no centro de Caicó, e  sabedor que este era chegado a uma lorota, pediu que ele lhe contasse uma piada. Naqueles tempos, Bolo-bolo era o sujeito mais espirituoso que se tinha notícias em um raio de quarenta léguas. Tinha-se dificuldade em saber, quando aquela figura estava falando a verdade ou tratava-se apenas de mais uma brincadeira daquele bufão sertanejo.
Xexéu na época do ocorrido(o 2º da direita)
Havia também, e ainda continua vivo, Xexéu, cidadão muito querido e proprietário de um bar na esquina do Mercado Público daquela pequena urbe. Servia uma carne de sol famosíssima! Xexéu era um comerciante despojado que não fazia questão por nada neste mundo. Certa vez, o seu bar estava abarrotado de fregueses, quando apareceu um velho companheiro que o convidou a viajarem a Natal, com o objetivo de marcarem um bingo. Ele olhou para um dos fregueses e disse: Fulano, vocês vão ficando por aqui, quando terminarem, fechem a porta e deixem a chave lá em casa!  Imediatamente, tocaram o carro com destino a Capital... 
                 Carlindo assustou-se com o aspecto tristonho daquele geralmente animado jornaleiro e perguntou-lhe se estava acontecendo alguma coisa, que, decerto, não estava sabendo.
Alguém doente na família? - Perguntou solícito, aquele que era conhecido como o médico dos pobres...   Nada... O velho pilantra não respondeu, tornando-se cada vez mais macambúzio.Diga homem, o que é que está havendo? – Insistiu o parlamentar seridoense.  Depois de muita insistência, Bolo-bolo deu-lhe a trágica notícia da morte súbita de Xexéu da carne assada.
              É possível?... É verdade? – perguntou-lhe, atônito, o destacado médico.
                       É verdade, Doutor. Ele ontem foi dormir e não acordou... Amanheceu morto!
         Carlindo despediu-se rapidamente e encaminhou-se apressado para o centro da cidade, local onde ficava o mercado, e ao aproximar-se viu, com surpresa, Xexéu cortando, como sempre fazia pela manhã, uma manta de carne, dividindo-a em pedaços menores.  A princípio irritou-se com aquele trote, mas, passados alguns segundos, soltou uma sonora gargalhada e quando lhe perguntaram o motivo do gesto do hilário, ele confessou que foi pego por um chiste do arteiro Bolo-bolo. Todos riram à vontade... Assim era Caicó naqueles tempos.
Xexéu ainda vivo(80 e tantos anos)

                  Tomei conhecimento deste fato através do blog bardefereirinha, por iniciativa dos seus redatores Roberto Fontes e Clóvis Pituleira. Senti-me motivado a glosar sobre o assunto, até porque conheci todos os personagens desta história. Observem:
       
Mote:
              Naquele encontro tolo
              Carlindo ouviu mentira
Glosa:
                                                      Ao topar com Bolo-bolo
                                                      O doutor pediu-lhe um chiste,
                                                      Mas percebeu ele triste
                                                      Naquele encontro tolo.
                                                      Abatido e sem consolo,
                                                      Diz que Xexéu não respira...
                                                      Caicó chora e suspira
                                                      Com a surpresa desta morte,
                                                      Mas ao notar que era um trote:
                                                      Carlindo ouviu mentira!


                                               Natal-RN, 09 de outubro de 2012.
                                                   Gibson Azevedo – poeta.

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