terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O mestre Geraldo Lobo.



O Lobo do povo num ameno "convercê".

                                   O mestre Geraldo lobo, Lobinho, Lobo do Povo como era mais conhecido, era um cidadão palrador por vezes em demasia. Era, porem, muito querido pelos seus concidadãos. Nas suas andanças e caminhadas, sempre as fazia a Aristóteles, com o hábito peripatético conversando ou declamando um pseudo-discurso cheio de palavras arrevesadas, a maioria, obra de sua criação. Pena que o nosso idioma pouco permite os novos termos - neologismos.  Desperdiça-se com isto uma grande riqueza de novos verbetes.  Adorava fazer discursos. Por qualquer motivo... E quando no meio dalguma de suas falas notava na assistência algum burburinho de conversas paralelas, irritava-se e advertia: “Silênço, minino! Quem ta falano agora é um homi!” Não raro ele ameaçava não continuar com a sua oração, mas que, era imediatamente acalmado pelas desculpas salvadoras e desta maneira o” improviso” continuava...  O Lobo não tinha uma profissão definida. Dizem os mais velhos do Lugar - Jardim do Seridó-RN -, que quando ele era jovem gozava de muita saúde. Exercia a função de carregador d’água para o Jardim Hotel, sendo, à época, um homem muito forte, de muita força. Entretanto, a vida tem os seus próprios caprichos e quando menos se esperou, a Tísica tolheu a saúde daquele titã. Não podendo mais trabalhar naquele serviço braçal, mais recomendado aos organismos mais fornidos dos Cabras mais parrudos, Lobinho, por sobrevivência, dedicou-se aos afazeres mais adequados a um organismo mirrado, ainda mais, sendo um homem analfabeto. Dedicou-se a pedir ajuda aos amigos e conhecidos, ser portador de alguns recados, passava algumas rifas e... , poucos sabem, agenciava algumas mulheres de vida fácil ou casadas enrustidas que viviam vida dupla. Era verdadeiramente um sobrevivente!... Apesar disto, nunca se furtou em ajudar aos menos afortunados do que ele. Muitos Jardinenses receberam algumas gentilezas dos seus favores.
                                 Geraldo Lobo era um excelente contador de “causos”, muitos deles difícil de acreditar. Por exemplo: dos tempos nos quais era funcionário do Jardim Hotel no abastecimento d’água, contava-nos que presenciou o coletor Federal conhecido por Fragoso, bêbado que só um gambá, no salão principal daquele arranchamento, em pleno domingo de carnaval, agarrado aos testículos do Juiz de Direito, o Dr. Hilarino, balançando o  corpo como se dançasse, cantarolando “a Jardineira”. Afiançava que de longe se ouvia os gritos do importunado magistrado: “Solta meus o---, Fragoso!”
                           Lobinho tinha seus momentos de afobação...  Na década de sessenta, após uma campanha política acirrada, a cidade ficou em pé de guerra com as famílias se estranhando, tornando-se hábito, de parte da população, a desobediência civil. Neste clima, chegou um novo delegado de polícia com o aval do novo governo para tomar as medidas que fossem necessárias, legais ou não, para restabelecer a ordem pública. O Ten. Costa tomou medidas as mais arbitrárias que se podia imaginar e implantou-as àquela pequena comuna. Ficaram proibidos: serenatas; ajuntamentos; manifestações, mesmos as espontâneas; instituiu o antipático “toque de recolher”, rasgando desta forma o direito constitucional de ir e vir; e ai de quem desobedecesse a suas esdrúxulas determinações!...  Neste seu calhamaço de medidas proibiu também que se passassem rifas, visando com isto prejudicar Geraldo Lobo, adversário que era da nova Ordem. Como Lobinho não o obedeceu, determinou a seus asseclas que o prendessem. Não havendo maiores motivos legais para mantê-lo cativo, relaxou a prisão e o libertou. No momento da sua soltura, Lobinho virou-se para o delegado e disse: “É melhor o Sr. não perder seu tempo e mandar logo um soldado me prender novamente, pois, agora mesmo, eu vou passar outra rifa!”  Não foi mais importunado. Entretanto, como ele gastava de botar apelido nas outras pessoas, quando lhe perguntaram pelo novo delegado, ele por deboche respondeu: “É um Ponche Salobro!” O delegado Costa, daí em diante, até o momento que sumiu daquele município, ficou conhecido pela alcunha de Ponche Salobro. Bem feito, ninguém pode mandar em tudo!
                       Certa vez presenciei, na loja da COFAN, uma discussão do Lobo do povo com um vereador de Ouro Branco, que eu não recordo o nome, e que aparentemente estava alcoolizado. O edil ourobranquense, falando meio fanho, disse que Cortês Pereira – governador do Estado - era um safado, quando Lobinho protestou dizendo que o safado era ele. O parlamentar reagiu querendo ir às “vias de fato”, mas neste instante Lobaço o aberturou (aberturar significa imobilizar o adversário segurando-o com força pela parte da frente do colarinho da camisa, ao nível do pescoço), jogando-o por cima de umas lâminas de arado, que estavam estocadas a um canto da sala e bradou: “Ói, Seu Papangu, você se empine e num venha!...”
                           Por sorte, aquele entrevero foi acalmado por alguns populares que se encontravam no local. Jamais me esqueço daquela singular porfia...
                            Eita Jardim que não volta mais!
            
          
                            Natal-RN, 11 de dezembro de2012.
                                     Gibson Azevedo – poeta.
        

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