segunda-feira, 15 de abril de 2013

Os fios da meada (ato 2)



                                                  Os fios da meada (ato 2)

                                       ...Uma coisa que se deve ser sempre consciente é do poder de tergiversar que possui o sertanejo, mesmo os que residem no campo. Talvez, esta habilidade de fugir dos assuntos que os incomodam, venha complementar os instintos de defesa que herdamos dos nossos ancestrais de tempos imemoriais...

O matuto capinando no seu roçado.
                                      O maduro e experiente Biró Batista havia retornado, a pouco, da lida no seu roçado e, descansava naquele final de tarde, ainda com claro de dia, em uma cadeira de balanço no alpendre de sua casa na zona rural, pitando um cigarro de fumo de corda (fumo rústico), como, a rigor, era o seu costume de todos os dias. Dali mesmo, sentado donde estava ele avistou e reconheceu João de Boró, que descia do carro de aluguel para abrir a tramela da porteira da cerca do cercado da frente da sua casa. Daquele momento em diante, até carro estacionar embaixo de uma algaroba grande que dava sombra defronte a sua morada, o velho rurícola sabia de qual assunto o conhecido afiador de navalhas vinha com ele tratar. Preparou-se então...
                                        Boa tarde seu Biró! – anunciou a sua chegada o conhecido visitante.
                                        Boa tarde. E num é que é o amigo Joãozinho? Que faz por estas bandas? Não repara não que aqui é casa de pobre, no mais a casa é sua... –respondeu acolhedor o astuto Biró. Toma um cafezinho? Menininha faça aqui um cafezinho pra nós!... – gritou ele à sua filha mais velha, pedindo pressa no servir.
                                         Não, Seu Biró, não precisa ter trabalho, não. Eu só quero um favor do senhor... - e foi logo desembuchando toda a estória, tin-tin por tin-tin, a um Biró sério e interessado. Finda a explanação daquilo que mais parecia uma fábula, Biró usou a tática do não se envolver “nem disse que sim, nem disse que não...”
                                           Joãozinho!... Você num ta vendo qui isso é intriga de invejoso?... – começou firme com a sua interpretação aquele Paulo Autran dos descampados.
                                            Mas homi! Joãozinho, quem é seu pai??? Seu Boró! – Ele mesmo respondeu. - Um homi mais humilde do que eu...
                                             Agora, quem é o seu sogro?? Seu Marciano; um homem de bem, de destaque, de muitos recursos...  E sua mulher? Uma senhora prendada que todo mundo respeita!...Você num ta vendo qui isso é inveja que uns poucos tem de você, rapaz?? – Sentenciou Biró, já dono da situação, ande um emudecido e hesitante João.
                                              Olhe Joãozinho, se eu fosse você, saindo daqui eu ia pra casa pra dar um abraço na sua mulher, pedir desculpa por alguma suspeita besta qui passou pela sua cabeça. Num vá em conversa não, rapaz! Vá viver a sua felicidade, como sempre viveu. Deixe disso, homi!
                                              Agora!, você num sai hoje daqui sem antes me dar um abraço!  Qui eu sei qui você vai “botar uma pedra em cima desta estória”!... – Exclamou sorridente, de braços abertos o arguto Biró, já despachando com aquela atitude o incômodo visitante.

Mulheres tricotando a vida alheia.
                                        Ao que parece, o desconfiado homenzinho seguiu à risca os conselhos de Biró Batista. Nunca mais tocou no assunto e a paz, esta, momentaneamente estremecida, voltou como de hábito ao dia-a-dia daquela pequena urbe.

     Natal-RN, 08 de Abril de 2013.
         Gibson Azevedo - poeta

                                            











                               

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