Gracejos em forma de Lei.

Sem medir as consequências deste
ato pouco pensado e de gestação leviana, o Congresso Brasileiro aprovou uma
macaquice estapafúrdia e de necessidade nula, que chegou ao grande público com
a alcunha chula de “Lei da palmada”. Essa gaiatice travestida em lei impede que
os pais, em atos corretivos na educação e na formação do caráter das crianças
brasileiras possam, sob pena de serem punidos com rigor, aplicar aos seus
filhos, quando necessários, uns bem distribuídos tabefes e ou umas mais que
merecidas surras. Ora! Como sabemos, desde o começo da história da humanidade,
com ajuda dos primeiros escritos rupestres, sabemos que os animais superiores,
inclusive o homem, sempre disciplinaram suas proles com os rigores que julgavam
necessários, métodos disciplinares que os séculos e os milênios consagraram.
São Leis pétreas... Pedra angular na formação das famílias. Nunca, por estes
costumes milenares, teve-se notícia dalgum “rebento malcriado” ter-se tornado
demente ou incapaz, por ter levado algum corretivo em reprimenda a alguma “danação
de menino levado”. Muito menos que tenham odiado ou guardado rancor dos seus
genitores, por estes haverem sido severos na maneira de educá-los. Educá-los,
sim! Pois é na família, com a educação aprendida no lar, que tornamo-nos
cidadãos ordeiros e orgulhosos de sermos bons.
Existem uns filósofos apressados
em celebrizar-se que, nos seus pensamentos gestados por conveniências e
anunciados de afogadilho, dizem: “Toda criança nasce boa, nós é que as
estragamos”. Ora! Nada pode ser mais falso!
Parece até que estes doutos senhores também não foram criança, não
viveram as peripécias do pouco juízo dos nossos primeiros anos. Nesta época,
não se tem noção dos limites da salutar convivência humana. Daí a necessidade
de algumas memoráveis surras, para nos lembrarmos para toda a vida da
existência destes sagrados limites. Alguém tem dúvidas? Então, aí vai uma
pequena história para que vocês possam fazer o isento julgamento disto que
estou afirmando:
Era meados da década de cinquenta do século que findou, na cidadezinha conhecida como Jardim do Seridó,
que outrora, ainda como vila, chamava-se de Conceição dos Azevedo em homenagem
a família fundadora daquele singelo arruado. Foi lá que deu-se um pequeno fato,
episódio sem importância, mas que marcou-me sobremaneira, a ponto de está
narrando-o passados sessenta anos. Pois bem, naquele aglomerado urbano, de
poucas casas à época, morava uma provecta senhora, Dona Generina, que vivia, no
ocaso da sua vida, a confeccionar coroas de flores para eventuais funerais, e o
restante do tempo era destinado às suas sagradas preces, como também às obras
sociais da igreja. Era um anjo de pessoa...
Certa vez, estava eu e o
meu primo Niltinho em um “nada fazer” na calçada do seu avô Joaquim, que fazia
esquina com a casa da citada senhora, quando ele tirou do bolso do calção uma bombinha, um rojãozinho conhecido como
“peido de veia” que promove um pequeno estalo (pipoco). Ele, muito sagaz, me
disse de forma dissimulada que tinha medo de soltá-lo, perguntando-me se eu
tinha a coragem de acender o pavio daquela bombinha.
Tenho medo não, Niltim! –
respondi com exagerada coragem.
Tem não? Você solta mesmo? –
perguntou-me como se duvidasse, quando na realidade ele estava me induzindo a
fazer uma traquinagem por ele arquitetada.
Solto agora... Quer vê? Me dê
ela aqui!... – respondi de pronto.
Eu dou. Agora, você tem que
jogá-la dentro daquela casa, por aquela janela... – apontou para casa da Dona
Generina. Peguei na bombinha sem pensar e esperei ele acender o fósforo para,
de imediato, jogá-la por cima do batente da janela. (Naquele tempo as casas não
tinham nenhum recuo e as janelas ficavam ligadas contiguamente à rua, voltadas
para a calçada). Joguei-a e corri. Quando já alcançava a outra esquina do quarteirão,
escutei o estouro do artefato e um grito de uma pessoa idosa: Aí, Jesus!!!!
Naquele momento, percebi o tamanho do “mal feito” que eu havia cometido. Ao
chegar a nossa casa, muito calado, minha mãe notou que boa coisa eu não tinha
feito e começou a me interrogar... Não foi necessário muito interrogatório,
não. Chegou uma pessoa, uma senhora que vivia na casa da Dona Generina,
participando à mamãe que eu havia engendrado a tal maluquice. Apanhei como
nunca da minha mãe e, mais tarde, fui severamente surrado por meu pai, sendo
que, esta reprimenda era intervalada com sermões disciplinadores. Papai me fez
entender que aquilo poderia ter causado um incêndio, que a anciã poderia ter
morrido do susto, que um homem de bem jamais faria aquilo..., etc. Passei
alguns dias com as nádegas doídas, e muito envergonhado, quase sem sair na rua.
Sentia vergonha, de fato, pelo absurdo que eu havia cometido e não por haver apanhado,
pois eu bem que mereci àquelas pancadas.
Meus pais? Nunca deixei de
amá-los e respeitá-los. Agradeço sempre a Deus os pais severos que Ele me Deu.
E agradeço e não esqueço as santas palmadas que formaram o homem que sou.
Natal-RN, 16 de abril de 2015.
Gibson Azevedo – Poeta.