quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ainda há fogo por baixo das cinzas?

Criação do Homem - teto da Capela Sistina no Vaticano.
                                                                            
                      Há pessoas, nesta morada efêmera de limites tão estreitos, consistência volátil e segurança ilusória, que julgam possuir alguma coisa, alguma importância, um justo destaque. Enganam-se! Não existe nada mais falível que a natureza. Sobretudo, quando observada com jactância, do pedestal da soberba humana. A vida, um sopro tão tênue de Deus, valiosíssima para os simples nas suas pacatas existências, torna-se objeto de arrogância no pensar vazio dos déspotas e tiranos. Imaginam-se superiores, agarrados aos seus mesquinhos postos de mando, degustam, prazerosamente, tresloucados nas alucinações de galgar ao poder cada vez mais, numa falaz existência de bobos, uma estagnada vitória de Pirro. É preciso ter-se em conta que nada significamos; e se na face do nosso planeta nunca houvesse pisado um único espécime humano, a natureza, deste insignificante satélite solar, nos ignoraria. Não sentiria a menor falta. No entanto, sabe-se lá porque, a evolução natural capacitou este - e somente este - tipo de primata, incitando-o a pensar, tomar decisões a partir de alguns argumentos lógicos, fazer simultaneamente as mais variadas autocríticas e deduções.
                       Apesar da evolução ter-se feito à solta, com o passar dos milênios o homem  tornou-se mesquinho e possessivo, talvez prenunciando, já que somos finitos, a sua (a nossa) ruína. A despeito da incúria com nós mesmos tende-se, cada vez mais, a admitirmos que somos iguais do nascimento à morte. Nascemos nus, dependemos de tudo e de todos; e no nosso fúnebre desfecho, involuntariamente, tornamo-nos podres. Vistos com isenção, nada valemos!
                      Existem, no entanto, pessoas que vivem existências mais dignas e descomplicadas, chegando à velhice bem humoradas, apesar de tudo. Medram no arcabouço de suas almas sentimentos sublimes, por vezes ingênuos, acompanhando-as até o ocaso de suas vidas. São destes homens comuns que o resto da humanidade herda e herdará os melhores exemplos. Coisas simples, manias de seres adaptados ao seu habitat, vivendo sobejamente mesmo em condições adversas. Nestas pessoas a velhice parece não promover mudanças...

(continua).

Natal, 15 de junho de 2011.
       Gibson Azevedo.

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