quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Seca, a maldição de sempre.

                                      Seca, a maldição de sempre.

Preparação de chuva - nuvens carregadas.
                    De tão nefasta, a seca chega a nos dar saudades dos anos de boas chuvas... Nestes dias, nos quais mais uma vez o Nordeste padece com as agruras de, talvez, mais um ano de seca em sequência ao negro período de estio do ano que findou, vê-se avizinhar a certeza da tragédia da “terra calcinada” na qual esta região se transformará – local, onde não sobreviverá a maior parte da sua fauna e da flora. Restarão apenas alguns espécimes de vegetação nativa. Nas velhas caatingas somente serão ouvidos os cansativos e irritantes zumbidos das cigarras e o farfalhar fantasmagórico de galhos secos ao sabor dos açoites das fortes virações.  Deste quadro, o mais terrível é escutar o berro da dor da fome da inocente alimária que aos poucos, ofegantes, perdem suas vidas. É triste a constatação, por parte destes pobres animais, que as costumeiras e acolhedoras “Bebidas”, do refrigério de sempre, não mais existem. Mesmo assim, ficam estes inermes animais a cheirar a terra seca onde outrora houvera água. Este é o maior significado de saudade que já tomei conhecimento na minha modesta existência. É um sentimento sentido por um “Ser bruto”, que, do âmago das suas mais basilares necessidades, lembra a delícia e o bem que lhe fazia aquele precioso líquido. Estes animais, ante ao inevitável desastre, vão se exaurindo nas suas forças e extinguem-se. Não costumo criticar as forças naturais, mas diante desta miséria não me furto em dizer: que coisa estúpida!
Choveu pouco - pouca água no reservatório.
                       

                     Um dia destes caiu em minhas mãos um poema feito em decassílabos, que tinha um mote fabuloso: “O Nordeste se enfeita e se perfuma / Quando o pranto das nuvens se derrama". Ao tomar conhecimento deste mote perfeito, também o usei para, inspirado, fazer uma sincera poesia, uma glosa, já que a saudade de melhores dias se aloja no meu peito sertanejo, ensimesmado e macambúzio com mais esta tragédia climática que se abate sobre a nossa região. Vejamos:


Mote:
             O Nordeste se enfeita e se perfuma
             Quando o pranto das nuvens se derrama.
Glosa:
             Juramentos e propostas vêm “de ruma”,
             Em resposta aos efeitos pluviais,
             Veem-se ao vivo os amores Celestiais:
             O Nordeste se enfeita e se perfuma!
             E nas longas noites, de boa bruma,
             O desejo nordestino se inflama,
             No aconchego da rede ou da cama,
             Chispando vida nova, em centelhas:
             Um bater de sinos no barro das telhas,
             Quando o pranto das nuvens se derrama!...


Natal-RN, 18 de outubro de 2012.
      Gibson Azevedo – poeta.

2 comentários:

Poeta do Penedo disse...

Meu caro Gibson
o seu poema é tão belo como benfazeja é a chuva que chega «e se derrama» na terra, depois de um sofrido tempo de seca. Aqui, a última bem severa aconteceu em 2005. Foi um momento de muito agradável e profíqua leitura, este. Obrigado.
Um grande abraço lusitano.

Gibson Azevedo disse...

Obrigado digo eu, meu caro Jorge, pelas suas simpáticas palavras.
Um forte abraço ao povo Lusitano nestas horas de dificuldades...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...