quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Um pouco de reflexão - O tempo


( Eu e papai - Ivan Alves da Costa - o mesmo olhar)





O tempo


O mundo nunca foi nem jamais será o mesmo; pois, o seu feitio*, encontra-se sempre numa eterna transformação nos seus reinos materiais, vivos ou não, ao sabor dos sons surdos das eras*. Eras antigas, cobertas de heras*..., limo* dos tempos, azinhavres* seculares de incontáveis períodos. Todavia, como manda a boa lógica: "o passado e o futuro não existem!"; devemo-nos ater ao presente, que solitariamente restou-nos desta interessantíssima reflexão. O passado fínou-se ao exaurir-se o presente. Passou e não mais existe (deixou-nos, entretanto a reles impressão de nos agraciar com alguma experiência, quando na realidade só o presente importa). O futuro..., deveras, é mais fictício que o passado. Este, nunca aconteceu; não nos pertence..., fica por conta do tempo, essa medida inventada...

Apesar da certeza da ineficácia das surreais imagens do passado, porquanto já haverem existido, constata-se que: no mundo antigo, os objetos, os artefatos, os mecanismos, as idéias e tudo o mais, eram concebidos e executados de forma rebuscada; enaltecendo, alem do efeito ou do uso propriamente dito, o seu aspecto, seu acabamento; premiando-nos com um visual suavizado nas curvas e nos contornos. Na atividade fabril*, pecava-se por um excesso de zelo; onde não importava o uso farto de material, no reforço e na aparência - hoje, desnecessário aos canhestros objetos da indústria moderna, que prioriza ao brilho das tintas e vernizes, e aos mecanismos de desempenho temporário, luzindo e zunindo, sonorizados, a iludir nossos egos* de bobos...

Alguns avanços evidenciaram-se em concordância com a evolução do "pensamento humano" - redundância? -, no desenrolar imperturbável dos milênios. Notaram-se melhorias nos transportes, na produção de alimentos, na preservação da memória, nas comunicações e na diagnose químico-eletrônica de algumas doenças. Afora isto, poucas benfeitorias genuínas pôde-se creditar aos tempos modernos. Os aparelhos, os objetos, os mecanismos fabricados em priscas datas, geralmente, não se faziam acompanhar de nenhum certificado de garantia. Estes eram desnecessários; pois aqueles produtos duravam uma vida! Um tempão! Tem deles, que ultrapassaram de um século ao outro, com "banca" * de bicho novo. Conservaram-se, não se sabe como, com improváveis resquícios de beleza e serventia.

O fabrico moderno, os seus produtos*, intencionalmente, não ultrapassam à primeira década, sem que haja a sua transferência infamante para uma lixeira ou na melhor das hipóteses para uma sucata. Não proporcionariam bons lucros, se durassem em demasia... E não permitiriam o amealhar descomunal na construção de nocivas e incalculáveis fortunas.

O que nos vendem são cacarecos de reinados curtos, brilho fugaz, vidas meteóricas. No entanto, pode-se ouvir dizer:

"Essas tralhas todas, são imprescindíveis à vida humana!"
Serão? O homem, não viveria melhor sem essa parafernália?* Serão mesmo, imprescindíveis?

"Mas, os tempos modernos, deram aos seres humanos uma maior expectativa de vida; vive-se, atualmente, até uma idade mais avançada, etc., etc., etc."

Diante dos argumentos supracitados, ensimesmamo-nos com a intenção de refleti-los; avaliando uma sobrevida antí-natural, segregária, limitante e castradora, ousamos perguntar:

- E quem disse que o ser humano teria a obrigação de viver até largar à pele dos ossos? Já observaram o aspecto geral de algum ser senil? É revoltante!

* * *

Se, se vivia melhor no passado, são temas de muitas e acaloradas discussões. Contudo, cuidamos haver, nos tempos idos, a possibilidade de uma vida mais salubre. Essencialmente, para os mais pobres; habitantes que eram de ambientes mais arejados e secos, e em condições menos estressantes* que as advindas do constante, insistente, miserer* de vida dos dias atuais. Atualmente, olhamos à pobreza e encontramos miseráveis. No passado, quando, involuntariamente, nascia-se pobre, sobrevivia-se à duras penas; contudo, mantinham-se valores; tinha-se honra.

A felicidade cobria com seu manto invisível as alminhas inocentes dos nossos irmãos do passado. Estes nem se davam conta da sua presença. E o que é ser feliz? Talvez sejam, pequenas coisas..., ou até mesmo nossas manias, cacoetes* e defeitos... Nada nos assegura do contrário!

2 comentários:

Poeta do Penedo disse...

Caro amigo Gibson
excelente texto!
Eu sou, por natureza, saudosista. Como tal, para mim, o passado é de extrema importância. Ele me explica porque razão, na actualidade, funciono desta ou daquela maneira. A minha vida é o reflexo do que construí nesse passado, bem vivo na minha memória. Sem um passado é impossível aspirar a um futuro.
É claro que a vida de outrora, o meu outrora, me deixa saudades em alguns aspectos. E um deles é precisamente os valores que existiam na sociedade, há duas ou três décadas atrás, valores esses que o «progresso» mental, social e «democrático» corroeu. Hoje pressentem-se apenas uns fogachos, que teimosamente sobrevivem no seio de alguns resistentes.
E com esse desenvolvimento do homem, veio a desmesurada necessidade do consumo. No caso do meu país, um Portugal pobre, consome-se de tudo desenfreadamente, como se não houvesse amanhã. E, quando é para manter uma fachada, então é de fugir. Pode-se ter fome em casa, mas convém ter um bom carro à porta e andar-se no bolso com telemóvel de última geração. que faz não sei quantas funções inutéis, mas que empresta status a quem o tem. E como é a lei do consumo, e do interesse de fazer dinheiro por parte de quem produz o que se consome, é razoável, útil e lógico que o que se produz não seja produzido para durar muito tempo, pois que a alma do negócio está em transformar em descartável o que deveria ser duradouro. Não faria bem ao negócio nem ao consumidor- que chatice, andar a utilizar o mesmo objecto não sei quantos anos- raios partam o traste!
Meu caro amigo, que saudades eu tenho dos tempos em que, na presença de uma senhora, tinha-se tento na língua. Hoje são elas que, antes de qualquer homem, deitam da boca para fora o mais obsceno asneiredo.
Aos bons velhos tempos!
Um grande abraço, meu caro Gibson.

Gibson Azevedo disse...

"Gracias", caro poeta, por teres atentado, num Ler pausado,para esses Pensares de um homem já maduro, onde o desânimo já se anuncia.
Ajuizando melhor, o passado, para nós os curtidos pelo Viver de vários anos, parece ser o úníco saldo. Que pena!...
Grande abraço, amigo Fareleira.

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