segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Profecias



"Hunnm-huumm, Mizifir!..."







Vejo surpreendido, que passou-se dez anos desde que pensei, refleti sobre a ação deletéria dos falsos profetas, lançadas irresponsavelmente sobre o destino dos crédulos, que são a maioria da população. Estes, certamente os mais pobres, os mais necessitados. Constato que as mudanças, passada uma década, foram ínfimas, se é que existiram. Observem:




Profecias


O ser humano convive no seu dia a dia, com as inclementes agruras do presente, porém atento às incertezas do futuro. Devido a estes sentimentos, proliferam e descaradamente se apresentam ao público ao final de cada ano, uma quantidade imensa de catimbozeiros, videntes, profetas e até parapsicólogos, a desfiarem sem a menor cerimônia, seus palpites, premonições, adivinhações e benzidos. Coisas muito sérias no entender dos mais humildes viventes – crédulos miserandos e inocentes. Estes bandidos burundangueiros, ao proferirem tais sandices, não medem consequências, jamais se preocupando com o rumo que algumas destas aleivosias possam tomar. Para ludibriar os incautos com mais facilidade, utilizam vários objetos, como: búzios, agulhas imantadas, mapas astrais, cartas, números, tarô, luzes, cristais, anjos e uma parafernália imensa de ideias, só possível de coexistirem no âmago das mentes oportunistas e doentias. Para não chafurdarmos muito neste lamaçal de ignorância, citemos que o mar é o maior lançador de búzios que existe, e nem por isto anda adivinhando coisa alguma. A maior aberração é, no entanto, quando falam dos astros, como se neste campo possuíssem algum conhecimento. Falam de ascendência de tal planeta sobre outro. E mais outro corpo celeste em conjunção com astro sicrano. Será carnal? E a lua? Esta, se encontra crescente ou minguante, "edicétera, pêi pôfo , coisa e tal", como diria o poeta do absurdo Zé Limeira. Mexem com os corpos celestes como se estivessem com as mãos numa bacia de arroz. É muito fácil enganar alguns bobocas usando coisas como o universo, o qual, sabemos, será sempre um grande enigma. Outra cretinice, para não prolongarmos o assunto, são as cartas com as quais adivinham o passado, o presente e o futuro. Ora, se baralhos predissessem algum acontecimento, jogador profissional não perderia nunca. “Nunquina” mesmo! Tudo isto é de péssimo gosto, porém ao final de cada ano apresentam-se alguns efeminados e mulheres truculentas – alguns se alto denominam de Pai fulano ou Mãe sicrana – que banalizam criminosamente a paternidade e maternidade. Põem-se a bradarem as boas e más novas, antes das mesmas terem ocorrido. Detalhe: eles só falam de forma genérica. Até criança sabe, que conjecturando de forma genérica, é praticamente impossível de se cometer algum erro. É como jogar na roleta, num mesmo número, sempre dobrando a aposta. Algum dia, não se sabe quando, o tal número será o premiado e neste dia, o prêmio pagará todo o prejuízo atrasado e ainda deixará um bom saldo. Existe algum cassino que permita que apostadores joguem assim? É lógico que não! Pois são com métodos em tudo semelhantes ao que descrevi, que estes empulhadores manipulam as esperanças de milhares de almas inocentes, alterando-lhes o humor, modificando-lhes, danosamente, o dia a dia.

Nos primeiros quartéis do século vinte, Antônio Conselheiro, beato radical e monarquista, fixado, meio que à força, no interior da Bahia, às margens do rio Vaza Barris, próximo a cidade de Monte Santo, numa cidadela de taipa, fundada por ele, chamada Canudos, proferiu ao meio de deslavada loucura que:
“O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”. Isto realmente pode vir a acontecer, entretanto, somente com o transcorrer de incontáveis milênios. Sendo, portanto, impossível errar, se não indicarmos a data e o local do evento.

Padre Cícero(Padim Ciço), vigário do Juazeiro no Ceará, dentro das suas inconsistentes homilias, falava aos quatro ventos, que: “Quando chegasse a década de sessenta, negro ai virar macaco e branco viraria banana”! Nessa, o famoso “Padim”, se já não estava, arranjou de imediato um atestado de maluco ou talvez de portador de variações senil – caduquice.

Outro sujeito que ficou famoso, sendo motivo de muitas discussões tolas, envolvendo sua obra de premonições, foi o médico francês chamado Nostradamus, que ficou louco quando sentiu-se incapaz de salvar sua mulher e filho, de uma destas epidemias que fulminavam a população da Europa, desde a idade média até há bem pouco tempo. Depois que seus entes queridos se foram, percebeu que somente a loucura lhe restara como herança. A partir daí, tornou-se um recluso anti-social, um eremita; sem contato algum com a realidade, vivendo um mundo de fantasias aterradoras. Sendo ele um poeta, apregoou em versos, porém de forma genérica, uma série de tragédia e acontecimentos que ocorreriam em anos e séculos futuros. Para serem mais cômodo, esses fatos só ocorreriam bem após a sua morte. Tornou-se um defunto mentiroso e falastrão. Esse sujeito afirmou segundo algumas mirabolantes interpretações, que o mundo acabaria no final da última década do século vinte; “pelo andar da carruagem” tivemos uma das últimas, senão a última, desmistificação das lorotas daquele lunático.

Como desfecho deste assunto, é bom lembrar que um membro da diretoria do Clube Náutico Capibaribe, trouxe em um caminhão e deixou na porta do Terreiro de “Pai Edu”, um boi, como pagamento de um trabalho de encruzilhada que famoso e delicado catimbozeiro fez, para o Náutico sagrar-se campeão pernambucano de futebol por um período de seis anos seguidos. Como a citada labuta de macumba não foi paga em tempo hábil, o malandro Pai Edu teve o descaramento de dizer, que o clube não ganharia nunca mais um campeonato, até que a tal dívida fosse quitada. Infelizmente, as diretorias que se sucederam impuseram ao clube administrações de ruins a catastróficas; tendo as malsinadas palavras do Pai Edu, adquirido prestígio de verdades nas cabeças inchadas dos já minguados torcedores. Na dúvida e na ânsia de acertar, chegaram a uma decisão: o boi seria entregue!

Pois bem, basta um velho e decrépito ano chegar afim, que surgem feito pragas de ciganos uma malta de adivinhos, a maioria “entendidos”, a falarem no rádio e na televisão, dizendo as mais inconsequentes tolices. Isto, em horário nobre - é bom que se diga.


Natal-RN, dezembro de 2000
Gibson Azevedo da Costa.

3 comentários:

Poeta do Penedo disse...

Meu caríssimo amigo Gibson
hoje em dia a profissão de profeta faz enriquecer, enquanto, como muito bem diz, continuarem a existir crónicos crédulos.
Mas a coisa não se fica por aqui. Este triste fenómeno que aqui nos apresenta, manifesta-se de forma singular, ou seja, a «vítima» é manipulada sem mais ninguém junto a si, a não ser o «profeta».
No entanto, nestes últimos quinze anos, pelo menos aqui em Portugal, tem-se assistido a esta manipulação no colectivo. Refiro-me concretamente à IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), que se tem instalado em força aqui. Não se coíbem em apresentar ostentação de riqueza.
Reúnem os seus fiéis ás centenas em grandes pavilhões, e aí fazem as suas missas. Pelo que mefoi dado ver em duas ou três reportagens na televisão, trata-se de hipnose de massas. Muitos fiéis desmaiam, tem convulsões, tudo porque foram tocados pelo divino, o divino que chega, através do «bispo», ou «sacerdote», ou que raio é o indivíduo que controla a assembléia, e lhes resolve todos os problemas...com uma condição: cada fiél tem de pagar o dizimo, ou seja 10% do seu salário mensal. É ver a IURD a comprar imóveis nos lugares mais caros, e os seus «santos», detentores de carros de alta gama.
Como há muito oiço dizer:
o mundo é dos espertos!
Um grande abraço lusitano.

Gibson Azevedo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gibson Azevedo disse...

"O mundo é dos mais espertos"! Dizeres de domínio público, que a nós chegaram através dos Portugueses, desde os primórdios da nossa colonização. Tem muito de verdade nesta assertiva.
Fareleira, caro amigo, acredito ter deixado transparecer, neste meu texto escrito há uma década, o repúdio que tenho por pessoas que enganam, deliberadamente, ao Vulgo puro e inocente. Nada mais hediondo,nada mais reprovável.
Grande abraço, daqui das "Terras de Santa Cruz".

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