quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Alguma semelhança é mera coincidência

Na natureza, encontramos espécimes animal, que, mesmo teimando em não aceitar, temos de admitir que alguns deles são possuidores de carismas e sentimentos quase humanos. Senão, vejamos: No zoológico da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, residia o macaco Tião, que tinha por habito, jogar merda nos políticos desavisados que por lá apareciam. Fez tanto sucesso que chegou a ser eleito prefeito, da cidade dita como maravilhosa. Um bode cheiroso logrou êxito nas eleições municipais, da cidade de Jaboatão dos Guararapes. Outros, não entraram para a política, mas, destacaram-se com brilhantismo noutras atividades, certamente mais agradáveis. Neste mundo maravilhoso, existia Coto*.
Cotó era um jumentinho de pequeno porte, que vivia, com outros seus pares, nas terras da sede do Batalhão de Engenharia e Construção, na cidade de Caicó. Na região do Seridó, ele foi mais famoso de que certos Deputados federais. Cotó destacou-se facilmente, porque apesar de ser um animalzinho de físico pequeno, tinha o órgão reprodutor de tamanho descomunal, desmedidamente avantajado, e um insaciável apetite sexual. Quando cismava de passar a perna numa jumenta no cio, percorria, se preciso fosse, léguas em galope de perseguição, para geralmente, executar a dita cuja, nos lugares mais impróprios, ou seja, em frente ao Posto de Comando.
Fotógrafos profissionais e amadores disputavam as melhores poses, pois, tais fotos, eram muito requisitadas pela soldadesca em dias de recrutamento*. O soldado que não tinha uma foto de Cotó, em ação, não serviu no 3º Batalhão de Engenharia e Construção.
A alimentação de Cotó - sempre de primeiríssima qualidade -, era feita a base de farelo de pão com leite e alface. Esta dieta, segundo dizem, o mantinha sempre aceso com relação à alimária. Libido a mil! É como diz o ditado popular: "era tratado a pão-de-ló".
Habitava àquele micro-cosmo gozando de muito prestígio junto aos oficiais mais graduados. Se fosse humano, diríamos que teria patente de Capitão, ou talvez, de Major. Era comum, quando Cotó passava naqueles famosos trotes, ouvir-se também, o tropel de coturnos em disparada, a movimentarem-se, céleres, indiferentes às divisas que porventura estivessem a lhes enfeitar os ombros. Irmanavam-se todos, na perseguição daqueles momentos engraçados, de extrema naturalidade, que a maioria daqueles homens feitos, saudosos de suas infâncias, assistia, e por instantes, voltavam a ser meninos. Daqueles singelos e telúricos momentos, participava, quase sempre, o Coronel comandante daquela corporação militar.
Certa vez, vinha Cotó no seu afazer diário, correndo empolgadíssimo no encalço de uma fêmea nova, naquele galope sem tréguas, tomaram a direção das oficinas de máquinas pesadas. Por lá chegando, em alta velocidade para asnos e muares, estando a dupla, já muito próxima de uma caçamba, a arisca jumentinha deu o famoso "drible de corpo” *, e com isto, Cotó perdeu o controle de sua carreira, indo ao encontro àquela pesada estrutura metálica, acidentando-se seriamente. Nunca houve naquela corporação do glorioso Exército Brasileiro, um tamanho alvoroço*. Todo mundo foi notificado a seu tempo. O recruta bronco*, dizia: - Cotó teve um sucesso*. Outro, mais sentimental, comentava: - mas que azar, teve o bichinho! Alguns se perguntavam: - será que ele escapa*? Com um ferimento profundo na testa, as chances de Cotó eram poucas.
O pessoal de alta patente, de imediato se pronunciou através do próprio Coronel, que ordenou que o removesse para a enfermaria dos soldados, onde foi feito o atendimento de urgência. Neste momento, o oficial veterinário sentiu-se preterido, demonstrando sua indignação ao Capitão médico, que lhe respondeu em réplica: "- olhe aqui tenente, não admito que você fique entrando na minha enfermaria, a bangu*! Você só se sabe cuidar de porcos. Medicina, é minha responsabilidade!” Ao que se sabe, desta discussão, resultou o tratamento "vip" * dispensado ao animal, onde prescreveram anti-inflamatórios e antibióticos, só aplicáveis em humanos poli-traumatizados. Em resumo, apesar de todos os prognósticos lhes serem desfavoráveis, Cotó lutou uma boa luta e saiu vitorioso. Quando os primeiros sinais de cura ficaram evidentes, com ele manifestando desejo de se alimentar, de repente, apareceu uma turma de soldados, com uma variedade respeitável de dietas para recuperar rapidamente o convalescente. Tais como: frutinha de gogóia*, sabugo de milho verde, capim elefante com farinha de mandioca, castanha de caju com sal e casca de ovo, bagaço do miolo de cana caiana com sementes de tomate, etc., etc., etc. Pra beber, salmoura de carne verde* misturada com ovos crus. A recuperação foi lenta, porem completa. E confirmou-se nas alegres estripulias*, as mesma que ele fazia antes do trágico acidente. Tudo voltou a ser como antes - a alegria reinou na caserna.
Dias destes, cobraram-me notícias de Cotó, e, na verdade, nada pude informar. Será que o levaram para São Gabriel da Cachoeira, quando para lá transferiram o batalhão? Não acredito nesta loucura. Acho que ainda corre solto, nas reminiscências dos conscritos daquela época.
Natal-RN/out./2000.
Gíbson Azevedo da Costa.

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